Queria
que tudo não passasse de um sonho, ou que, pelo
menos,
o sonho não passasse, pois, ao tentar encontrar algo admirável, que
surja de ações produzidas por mãos humanas, me pego mais a
entristecer-me e a lamentar do que elogiar os seres humanos. Não que
homens altruístas estejam em extinção, não que o sonho de
igualdade, legalidade e fraternidade não exista, não
que a união entre os povos seja uma utopia infundada, não
que a solidariedade se esgotou da face da terra ou que o amar ao
próximo como a si mesmo, houvesse deixado de ser um mandamento
divino, porém, onde encontrá-los? O
discurso ficou no imaginário dos profetas, no
pensamento
dos poetas, mas,
ainda
é possível encontrar vontade nos
sensatos, mas a fragilidade humana requer muito mais do que sonhos ou
teorias impraticáveis. Sonhar é preciso, mas viver a realidade do
sonho é muito mais necessário, é fundamental, é básico,
importante e comum a todos.
A
paz, a tão sonhada paz, fruto
de sangrentas batalhas, virou
simplesmente a ausência de guerras, cuja
busca, faz com
que homens, embora
sem armas, se
matem com palavras envenenadas
e
preconceituosas, com atitudes racistas, com segregações insanas e
fúteis onde a concorrência em atirar a primeira pedra torna-se tão
acirrada como
se não houvesse nenhum pecador injusto. O
clamor pela justiça se ouve pelas esquinas da intolerância, pelas
alamedas do ódio, pelas ruas e vielas da violência, atirando suas
setas envenenadas que distila da boca de injustos que confundem a
justiça própria
com vingança. O
amor, o inexplicável amor,
sentimento,
puro e verdadeiro, que mais perturba os seres humanos a ponto de se
cometer tamanha mortandade em seu nome, está no limite, dando espaço
a atitudes pré-humanistas e irracionais jamais imagináveis, até
ele está se esgotando.
Estamos
vazios, ocos, sem conteúdo firme que faça brotar qualquer
sentimento interior de compaixão ou de misericórdia pelo nosso
semelhante, queremos apenas superá-lo, ultrapassá-lo a qualquer
preço na disputada corrida social, que ignoramos os meios para
alcançarmos um
fim proveitoso. O
sonho não acabou, acabaram com os nossos sonhos e nos deram
passatempo. O
mundo está a deriva, a mercê de homens gananciosos, verdadeiros
tiranos inescrupulosos que tudo fazem para se manter no poder.
Violentam,
traem, destroem e matam não
importa quem
seja, tudo para se perpetuarem no poder aumentando
os limites de suas fronteiras algo que os braços não podem reter. O
sonho do mundo sem fronteiras acabou.
Milhares de seres humanos cruzam-nas simplesmente a procura da vida.
Rios e oceanos já não são limites. O mundo está se fechando a seu
mais nobre habitante, o homem. O
caos está formado. A
angustia e a ansiedade andam de mãos dadas pelos corredores do medo,
a vida está por um fio em todos os aspectos.
A
morte que rondava os limites do respeito já o ultrapassou ceifando
vidas e
deixando um
rio de sangue a acompanhá-la. E por falar em rio, o rio de lama do
descaso, da propina, do suborno e da corrupção, vem corroendo
valores éticos e morais, subtraindo do seio da sociedade a
honestidade que insistentemente sobrevive agonizando por intermédio
de uma política suja. Os bons costumes, a gratidão, a
solidariedade, a educação, oriunda do berço sólido familiar é
medida através de valores monetários onde hoje,
tudo tem seu
preço. Mas o
tempo não leva o
sonho da
esperança, a
certeza de uma fé inabalável no Criador, o amor indestrutível que
Dele emana, nem
mesmo a confiança de que cada ser humano, e somente ele, é capaz de
reverter o quadro caótico em que está mergulhado. O
tempo é senhor da razão, esta,
porém, se perdeu nos labirintos da incompetência onde
todos acreditam ser o seu dono e por causa disso cometem todos os
tipos de atrocidades.
O
mundo jaz na incerteza de um futuro sombrio, na escuridão
assustadora de um presente caótico, onde podemos ter um encontro
inesperado com a morte, que
parece nos espreitar
ao dobrarmos uma esquina ou atravessarmos uma rua. Mas,
em meio a tudo isso, levanto meus olhos para os céus e me pergunto:
que mundo é esse? Gostaria que fosse admirável e belo como a
intenção do seu Criador, onde o leão pudesse conviver em paz ao
lado de um cordeiro, onde as pessoas se respeitassem e que a máscara
da hipocrisia desse lugar a sinceridade, que os homens se amassem no
sentido mais puro dessa palavra. Como
seria bom não sonhar, mas viver a realidade do sonho
do Criador, e nós, como simples criaturas, apenas contemplar:
que mundo é
esse!
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