Cessou a batida do tambor, do tamborim, o apito do mestre de bateria
silenciou, calaram-se as vozes, é hora de despir a fantasia, depois
de quatro dias, a folia chegou ao fim e o ano agora começa. Sorrisos
dos vencedores e lágrimas dos perdedores darão novos rumos ao
carnaval do ano seguinte. Não houve tanto riso e tampouco muita
alegria nesse carnaval, que novamente foi marcado por acidentes,
incêndios, atropelamentos, agressões, brigas, desentendimentos e
muita violência e morte entre foliões e no trânsito em todas as
regiões do país. É hora do balanço de perdas e danos. O Arlequim
continua chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão.
Deixou-me a impressão que o carnaval dos sonhos para aqueles que
organizam, participam ativamente nas escolas de samba, blocos ou em
simples bailes de salão, viram seus sonhos se transformarem em
ilusão de quatro dias. A festa que é considerada popular somente
atrai turistas estrangeiros que despejam milhares de dólares para
acompanhar os trios elétricos, enquanto o povo queda-se ao celular
como verdadeiros paparazzis a procura da melhor foto de um famoso que
desfila em troca de muitos reais.
Celebridades femininas seminuas, com seios turbinados à mostra,
consideradas musas, deusas, divindades que inspiram e movem a roda
carnavalesca, disputam entre si quem tem o melhor corpo, a melhor
comissão de frente, o melhor bumbum. Procurando o espaço midiático,
se exibem em uma, duas ou mais escola de samba como uma vitrine,
deixando de lado o pudor explodem em sensualidade desmedida e
desnecessária para a vergonha do rei Momo. E é isso que vemos na
festa popular, o carnaval. O apelo à nudez, ao sexo e a
promiscuidade, incentivada pela mídia, torna-se cada vez mais
acirrada despertando a lascívia, a sensualidade e a imoralidade nas
crianças e jovens cujos são embalados por canções e ritmos
sensuais. Sem falar no álcool e nas drogas onde tudo resulta em
violência e morte.
Do
ponto de vista masculino esse é um belo cenário, mas, onde está o
carnaval da família? Será que ainda existe? Onde está a bandeira
branca, a máscara negra, a “cabeleira” do Zezé, o Pierrot
apaixonado? Não sou saudosista e nem contra o carnaval nos moldes
atuais, pelo contrário, gosto dos sambas enredos, tenho minhas
escolas preferidas e torço para que sejam campeãs, mas não as
isento da nudez exagerada. Ouvi o desabafo de uma jornalista
(www.youtube.com)
quanto a realidade do carnaval e fui levado a concordar com o seu
ponto de vista. Posso estar completamente enganado, mas também nunca
vi tanta policia nas ruas nesse período e tanta insegurança ao
mesmo tempo. Nunca vi tantas ambulâncias a disposição dos foliões
embriagados e nos demais dias do ano desaparecem como por encanto
deixando dezenas de pacientes a espera de um milagre. O carnaval é a
festa do povo, mas não é para o povo. Como diz a letra de um samba
do passado recente, o sambista que nasceu menino pobre, hoje se veste
de nobre no desfile principal.
Para isso é preciso pagar o preço, um alto preço, e empresas de
bebidas pagam milhões de reais para manter camarotes com
celebridades bebendo e incentivando o consumo dessas marcas. É assim
que o samba pede passagem. Com milhares de latinhas em mãos os
foliões seguem no ritmo do trio elétrico, pois, atrás do trio
elétrico só não vai quem já morreu e para não morrer, a policia
intensificou o rigor da lei seca. Parece um paradoxo, os
patrocinadores do carnaval são as empresas de bebidas e quem bebe é
multado. No carnaval não tem moderação, não se tem respeito, tudo
é exagerado, sem limites. Esse é o carnaval, dos sonhos ou das
ilusões? Depende do nosso ponto de vista. Para mim, sempre foi dos
sonhos, da alegria e do divertimento, das crianças brincando nas
ruas, das bandinhas nas praças, dos bailes nos clubes, dos blocos de
amigos do escritório, de passistas entusiasmados, sem brigas, sem
violência, sem nudez exagerada e apelativa, mas, ao final, depois do
balanço geral, vejo que novamente, foi o carnaval das ilusões.
Mas
vamos continuar sonhando, afinal, essa é a festa do povo, mas,
também, para inglês ver.