quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A vida por um fio

Hoje pela manhã ao assistir uma reportagem sobre algumas pessoas que por falta de condições financeiras roubam energia elétrica dos fios de alta tensão da rede pública, fiquei pensando no risco de morte a que essas pessoas são expostas. Nessa mesma reportagem foram mostrados alguns acidentes que deixaram sequelas graves e outros fatais. Curiosos e até mesmo profissionais estão entre as vítimas de choques inesperados. Pelo país inteiro o grande número de ligações clandestinas, os famosos gatos, está tomando proporções gigantescas. Basta caminharmos um pouco pelos bairros da cidade e tomaremos um choque com o que os nossos olhos contemplam. Um emaranhado de fios expostos formando uma teia sem começo e sem fim deixando até mesmo as autoridades desligadas, pasmos, sem energia e sem saber o que fazer diante desse quadro para tomar uma atitude a fim de coibir o uso inadequado através dessas ligações. É impressionante a quantidade de pessoas que se utilizam desses meios para ter suas casas iluminadas. E a conta torna-se elevada. E por tudo isso, os que não se utilizam desse meio é quem paga.
Isso é somente um fio dessa meada. Enquanto uns se utilizam desse subterfúgio, desse pretexto para evitar uma dificuldade ainda maior, que eu não condeno, outros vão além, roubam os fios da rede elétrica e comercializam os fios de cobre deixando muita gente na escuridão, a esses reprovo. Como se não bastasse a saúde, a educação, o transporte e tantas outras coisas que estão por um fio, agora é a vez da iluminação. Os apagões estão mais frequentes e as usinas estão por um fio, no limite da capacidade, e outras, devido ao excesso de burocracia existente, de manifestações contrárias às construções de novas hidrelétricas e de certos ambientalistas que induzem indígenas e o povo ribeirinho a se opor a elas, não saem do papel. Isso é um fato, mas se formos analisar ipsis literis, vamos constatar que a nossa vida está por um fio. Estamos vivendo na corda bamba tentando nos equilibrar diante das circunstâncias da vida.
Estamos por um fio do caos total dos aeroportos a vários anos, do trânsito das grandes cidades, da explosão contra políticos corruptos e seus asseclas. Alguns fios por falta de reparos já se romperam, como o fio da amizade, da gratidão, da tolerância, pois defendemos as nossas convicções ao fio da espada como se vencer uma discussão ou uma briga fosse a única saída, mesmo perdendo a amizade. Outros, embora resistam, estão sendo enfraquecidos pelo tempo que transforma tudo em quase nada, como moral em imoralidade, respeito em desrespeito, fé em cepticismo, anjo em demônio. Até o fio do entendimento, do diálogo, da fraternidade e da paz tão sonhada, já se rompeu deixando a humanidade como uma pipa solta ao vento sem um fio de linha a sustentá-la. Um fio de cabelo branco transforma as mulheres em escravas da beleza e se esse fio de cabelo, se por acaso for encontrado na sopa, transforma a rainha do lar em sparing de um boxeador. O mundo parece estar sendo sustentado por um fio.
Rompe-se esse fio, esfacelam-se os mais sólidos impérios e as mais prósperas economias desabam como um paralelepípedo atirado ao mar. Grandes nações estão a um fio da falência. Até quando o fio da sustentabilidade resistirá? Até quando o fio da esperança motivará os sonhos? Assim como os cidadãos da reportagem estão usando o fio da eletricidade para iluminar suas vidas ou para mantê-la, no caso dos que roubam, a humanidade também está por um fio. Estamos assistindo perplexos, pessoas, carros, casas, países inteiros sendo arrastados por fortes terremotos e tsunamis devastadores como nunca vimos antes. Acompanhamos as guerras entre as nações a distância e nem percebemos que estamos vivenciando uma guerra urbana de proporções semelhantes, e o que é mais triste e preocupante é que o número de baixas humanas tem sido algumas vezes superior à guerra entre as nações. É a vida por um fio. 
Estamos por um fio de ser atingido por balas perdidas, produto de roubos, assaltos, sequestros assim como de sermos engolidos de surpresa por tempestades, deslizamentos de terra, trânsito, e assim vamos tecendo nossos fios de vida como a aranha a sua teia para segurança e sobrevivência no mundo de predadores. Enfim, vivemos por um fio, as instituições estão por um fio e a principal delas, a família, parece que já sofre as piores consequências desse rompimento e está sem nenhuma sustentação de moral e de respeito. A constituição da família agora é baseada por leis do Supremo Tribunal Federal onde meia dúzia de intocáveis pensam e discutem horas a fio para depois decidir o viver de milhões. Somente espero que o Autor da Existência não nos veja por um fio, mas continue nos sustentando com seu poder para não cairmos totalmente na tentação de acreditar que o fio da vida que nos une a Ele não foi, não está e jamais será rompido...

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