Os
caras pintadas estão de volta. Enquanto assistia as cenas das
manifestações em São Paulo e em outras capitais brasileiras por
causa do aumento nas tarifas de ônibus, eu, assim como milhões de
paulistanos, fiz a seguinte pergunta: Quanto vale R$ 0,20? Será que
por causa disso, seria necessário a quebradeira, depredação,
vandalismo e tanta violência? Não. Então comecei a ouvir um daqui,
outro dali, um falava uma coisa, o outro rebatia e a confusão só
aumentava. Lembrei-me então, de uma série de reportagens
apresentadas pelo jornalismo do programa Fantástico sobre o
desperdício de dinheiro público em obras inacabadas e
superfaturadas, além das propinas no acerto de contas para
assinatura de contratos para a execução dos serviços. Foram
bilhões de reais desviados, para não dizer roubados, através da
corrupção, por políticos e empresários, com respaldo das leis que
eles mesmos criam para se protegerem.
Continuo
acreditando que os prejuízos causados, em âmbito geral, ainda são
maiores do que os R$ 0,20 é claro, mas, cheguei a conclusão, que a
causa da luta vai muito além. Os R$ 0,20 são apenas a ponta do
iceberg. A luta precisa começar a ser esclarecida que é por falta
de atendimento à saúde, por impostos mais justos e não absurdos,
pelo fim da corrupção e seus mensalões, que já se tornou algo
natural e rotineiro entre políticos. É pelo fim da farra com o
dinheiro do cidadão, que trabalha 150 dias para o governo esbanjar
com mordomias sem nenhum retorno ao contribuinte. É por escolas
decentes, por segurança, é sim, por transporte público decente,
por salários justos de professores, policiais, médicos, por
respeito aos aposentados que depois que deixam de trabalhar vão para
a fila da saúde morrer a míngua sem atendimento nos hospitais. Os
aposentados precisam descansar em paz, mas não precisam morrer.
A luta,
e quando digo luta, não me refiro à violência física, e sim, a
busca pelo direito constitucional, é que deve prosseguir. Não
queremos um país para inglês ver durante a copa do mundo, não, o
Brasil é dos brasileiros, e todos são iguais perante a lei. A luta
deve continuar até que mensaleiros sejam presos, que a corrupção
seja extinta em qualquer escalão da sociedade, até que menor, que
não pode trabalhar, mas pode matar, que tem a permissão e garantia
de impunidade e ainda sorri da população amedrontada, seja
responsabilizado e punido pelos seus atos. A luta deve continuar, até
que mulheres, as verdadeiras guerreiras, que sustentam seus lares,
tenham direito a creches para deixar seus filhos. As manifestações
são direitos conquistados e garantidos e aqueles que recebem ordens
para atirar balas de borracha e bombas, deveriam recebê-las para
proteger tais direitos. Talvez o lugar da manifestação, a forma
violenta, a depredação, o transtorno, possam ser repensados, mas,
se manifestar contra a corrupção é um direito. O barulho chegou
aos ouvidos das autoridades, porque em silêncio, não há
manifestação, ela passa incólume, ninguém dá atenção.
A
hora do povo chegou, dizia alguns cartazes, chega de corrupção. O
padrão FIFA precisa ser instalado na saúde, nos transportes, na
segurança, nas escolas, em todos os setores, porque, R$ 0,20 é
somente a ponta do iceberg.
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