segunda-feira, 31 de agosto de 2015

R$ 0,20, a ponta iceberg

Os caras pintadas estão de volta. Enquanto assistia as cenas das manifestações em São Paulo e em outras capitais brasileiras por causa do aumento nas tarifas de ônibus, eu, assim como milhões de paulistanos, fiz a seguinte pergunta: Quanto vale R$ 0,20? Será que por causa disso, seria necessário a quebradeira, depredação, vandalismo e tanta violência? Não. Então comecei a ouvir um daqui, outro dali, um falava uma coisa, o outro rebatia e a confusão só aumentava. Lembrei-me então, de uma série de reportagens apresentadas pelo jornalismo do programa Fantástico sobre o desperdício de dinheiro público em obras inacabadas e superfaturadas, além das propinas no acerto de contas para assinatura de contratos para a execução dos serviços. Foram bilhões de reais desviados, para não dizer roubados, através da corrupção, por políticos e empresários, com respaldo das leis que eles mesmos criam para se protegerem.
Continuo acreditando que os prejuízos causados, em âmbito geral, ainda são maiores do que os R$ 0,20 é claro, mas, cheguei a conclusão, que a causa da luta vai muito além. Os R$ 0,20 são apenas a ponta do iceberg. A luta precisa começar a ser esclarecida que é por falta de atendimento à saúde, por impostos mais justos e não absurdos, pelo fim da corrupção e seus mensalões, que já se tornou algo natural e rotineiro entre políticos. É pelo fim da farra com o dinheiro do cidadão, que trabalha 150 dias para o governo esbanjar com mordomias sem nenhum retorno ao contribuinte. É por escolas decentes, por segurança, é sim, por transporte público decente, por salários justos de professores, policiais, médicos, por respeito aos aposentados que depois que deixam de trabalhar vão para a fila da saúde morrer a míngua sem atendimento nos hospitais. Os aposentados precisam descansar em paz, mas não precisam morrer.
A luta, e quando digo luta, não me refiro à violência física, e sim, a busca pelo direito constitucional, é que deve prosseguir. Não queremos um país para inglês ver durante a copa do mundo, não, o Brasil é dos brasileiros, e todos são iguais perante a lei. A luta deve continuar até que mensaleiros sejam presos, que a corrupção seja extinta em qualquer escalão da sociedade, até que menor, que não pode trabalhar, mas pode matar, que tem a permissão e garantia de impunidade e ainda sorri da população amedrontada, seja responsabilizado e punido pelos seus atos. A luta deve continuar, até que mulheres, as verdadeiras guerreiras, que sustentam seus lares, tenham direito a creches para deixar seus filhos. As manifestações são direitos conquistados e garantidos e aqueles que recebem ordens para atirar balas de borracha e bombas, deveriam recebê-las para proteger tais direitos. Talvez o lugar da manifestação, a forma violenta, a depredação, o transtorno, possam ser repensados, mas, se manifestar contra a corrupção é um direito. O barulho chegou aos ouvidos das autoridades, porque em silêncio, não há manifestação, ela passa incólume, ninguém dá atenção.
A hora do povo chegou, dizia alguns cartazes, chega de corrupção. O padrão FIFA precisa ser instalado na saúde, nos transportes, na segurança, nas escolas, em todos os setores, porque, R$ 0,20 é somente a ponta do iceberg.

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