Dizem
que os números não mentem. Isso é um fato, mas eles podem esconder
uma realidade que não vemos. Tudo pode ser substantificado pelos
números. O sistema cartesiano é lógico, porém frio. Ao
analisarmos os números não enxergamos a bagagem que eles trazem. Em
muitos casos eles veem carregados de pessoas com suas histórias,
sentimentos, emoções e vontade que passam e não percebemos.
Embora sejam exatos, lógicos e não mintam, possuem uma razão e
essa por sua vez contradiz a lógica. Todas as empresas analisam seus
números para saber o sucesso ou o fracasso em seus negócios. Há
especialistas nesses números, tudo depende deles.
Empresas
de consultoria e pesquisa vivem dos números. Os relatórios e os
gráficos nos mostram índices de movimentos crescentes e
decrescentes de qualquer coisa imaginável, como vendas, frequência
de consulta em determinados sites, faixa etária dos consulentes,
renda, classe social, nível de escolaridade, enfim, tudo o que
quisermos saber do mercado consumidor, basta observar os números.
Eles traduzem sentimentos, emoções, relatam anseios, escondem
erros, confirmam verdades, disfarçam mentiras, as vezes são
confiáveis em outras nem tanto. Eles dão base para prognósticos,
alimentam as esperanças dos apostadores, o sonho dos investidores e
criam expectativas de bons resultados em empresários.
As
empresas de aviação sabem com exatidão o número de aviões
voando, a região mais visitada, e precisam saber em detalhes, pois
eles representam vidas. E é aqui que eu quero chegar, na vida por
detrás dos números. Eles mostram os riscos, apontam tendências,
preveem catástrofes, acidentes, tempestades, enfim, nossa vida
começa e termina com um número. Durante nosso viver somos
identificados, reconhecidos e vigiados por um número. Sai a pessoa,
entra o número. Os estudantes, funcionários, policiais, soldados,
médicos, advogados, prisioneiros até mesmo os políticos são
identificados pelo número do partido, porém, nenhum são exatos.
Há
números que são místicos, trazem sorte para alguns e azar para
outros. Os religiosos se assustam com certos números, como o da
besta e do anticristo no apocalipse. Os números estão em todas as
partes, são racionais, inteiros, decimais, impares, pares, primos,
romanos, infinitos, mas todos que os manipulam são pessoas falíveis
que, embora vivam dos números, muitas vezes se assustam com eles. O
número de pedestres atropelados na cidade de São Paulo, por
exemplo, são mais de 6000 ao ano sendo que cerca de 10% são fatais.
Os acidentes envolvendo motoqueiros causam em média duas mortes por
dia e em apenas um mês, mais de 9000 são flagrados pelos radares em
alta velocidade, mais de 300 por dia e 13 por hora.
Outro
número absurdo é o de latrocínio, roubo seguido de morte, o qual
registra 12 casos por mês apenas no Estado de São Paulo segundo
números da própria Secretaria de Segurança do Estado. São números
que quando são expostos apresentam histórias que se apagaram,
biografias que se encerraram, vidas que viraram estatísticas. Embora
sejamos um número, eles contém vidas. E a vida não é medida pelos
números na conta bancária, nem se resume a gráficos e relatórios,
cujos resultados esperados são lucros ou perdas. Mas a vida é acima
de tudo poder sorrir livremente, embora ao redor haja lamentos, é
viver em paz interior quando guerras nos cercam, é respirar e em
cada momento agradecer por estar vivo. Viver é inexplicável, um
espetáculo natural do qual não podemos ser apenas números frios.
Viver é
se encantar com cada amanhecer, é poder abraçar e ver o brilho da
inocência no olhar de uma criança, e no entardecer da vida, sorrir
por ter vivido feliz...isso os números absolutos não traduzem...são
relativos, depende de nós.
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