Uma hora faz muita diferença

Parece pouco, mas é suficiente. É apenas uma hora, mas vale por muitas. Essa é uma hora para se festejar, para se ter uma melhor qualidade de vida, pensei. Foi isso mesmo que procurei fazer. Durante a semana passada, em virtude do feriado de sábado, dia de Tiradentes, fomos dispensados uma hora mais cedo do período de trabalho. Como trabalhamos uma hora a mais por dia para atender a carga horária semanal exigida por lei para não trabalharmos aos sábados, em face do feriado, essa semana trabalhamos uma hora a menos. Como foi gratificante! Não apenas pelo fato de sair mais cedo do trabalho e sim de poder chegar mais cedo em casa e aproveitar melhor essa hora, ficar um pouco mais com a família no período noturno, não ser massacrado no transporte coletivo, além de ter mais tempo para se recuperar para o dia seguinte. Enfim, os benefícios são inúmeros e contribuem para melhorar nossa qualidade de vida.

Agora ficou mais fácil compreender tamanha dedicação dos esportistas que se esforçam para conquistar alguns milésimos de segundo em suas marcas. Se milésimos de segundo faz uma grande diferença o que se dirá de uma hora, quanta diferença. Por um instante cheguei a pensar que poderia ser assim todos os dias. Percebi que qualidade de vida não está em você ter muito dinheiro para poder comprar ou fazer o que quiser, e sim, no tempo para viver e aproveitar melhor essa vida. Nossa vida é formada por pequenos momentos e uma hora tem muitos momentos para serem vividos. Cada segundo é um momento que se bem aproveitado, no final de uma hora, podemos dizer que valeu a pena vivê-los. O nosso físico, o emocional, a mente, além dos relacionamentos familiares e sociais agradecem.

Claro que qualidade de vida engloba outros fatores, como por exemplo, cuidar bem do corpo, repousar, se alimentar adequadamente, ter momentos de lazer, praticar exercícios físicos, ter hábitos saudáveis, fugir do stress, etc. Para tudo isso é necessário algumas coisas importantes, mas o principal é o tempo, o restante depende de nós mesmos, como disposição e vontade. Não somente eu desfrutei das benesses dessa uma hora durante a noite, mas os companheiros de trabalho, todos foram unânimes em testemunhar dos benefícios, principalmente as mulheres, que depois do período na empresa ainda continuam a grande jornada em casa. Embora já tenha que retomar a rotina anterior pude aprender a valorizar qualquer minuto de tempo.

Aprendi que sempre temos tempo suficiente para tudo o que precisamos, mas é preciso saber administrá-lo de forma coerente para não sermos escravizados, se depender de nós, é claro, por coisas que nos impedem de viver sem correria. Trabalhar é preciso, mas viver também é preciso. Essa hora a menos por dia já passou, mas seus reflexos ficarão no viver de quem a experimentou, mesmo que tenha sido somente para descansar, valeu a pena. Sei que o trabalho enobrece, mas se vivermos para trabalhar, ele pode empobrecer o nosso viver. Embora ele dignifique o homem, seja importante, útil, base de nossa sobrevivência e precisamos muito dele, jamais poderemos ser escravos do trabalho, caso isso ocorra, para nós mesmos ele terá sido em vão.

Se uma hora a menos já fez tanta diferença em nosso dia o que dirá em nossa vida! Por um lado não estou com isso querendo defender a redução da jornada de trabalho, mas por outro, claro que a única maneira de usufruir dessa hora em nosso viver é reduzindo a jornada de trabalho para com isso melhorar a nossa qualidade de vida. A impressão que tenho é que para uma melhora na qualidade de vida é necessário rever a jornada de trabalho. A cidade não para e se a população seguir o seu ritmo frenético, vai forçadamente parar devido a problemas de saúde, aliás, muitos já estão ficando pelo caminho. São em média catorze horas por dias vivendo em função do trabalho. As vezes chego a pensar que estamos cumprindo um regime semiaberto, onde trabalhamos durante o dia, ou melhor, ficamos presos durante o dia e a noite nos dirigimos para casa apenas para dormir.

E muitos, a noite ainda ficam pensando no dia que passou e no seguinte que se aproxima em virtude do volume de trabalho pendente. Muitos querem algumas horas extras, mas acredito que uma hora a menos faz muita diferença.