quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A sombra de um bigode

Algumas semanas atrás, em uma visita oficial a Israel para a celebração dos 50 anos de restabelecimento das relações diplomáticas entre Alemanha e Israel, a primeira ministra alemã Angela Merkel, foi protagonista de uma cena inusitada que despertou a memória do mundo, fazendo-nos lembrar das barbáries da segunda guerra mundial. Enquanto apontava para algum lugar ao fundo, o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, proporcionou aos fotógrafos um momento de riso, de êxtase e ao mesmo tempo de tristes recordações. Seu dedo indicador formou uma sombra sobre o rosto da primeira ministra alemã criando um “bigode” do tipo usado pelo algoz dos judeus na segunda guerra mundial, Adolf Hitler. Isso foi suficiente para relembrar os horrores enfrentados pelo povo judeu com a guerra. Por essa razão foi possível perceber que os fantasmas de uma guerra, facilmente podem ressuscitar o medo de quem passou por ela ou apenas soube pela história os seus horrores. Alemanha e Israel foram atores principais no cenário da segunda guerra mundial, e hoje, 60 anos depois, os dois países celebram relações diplomáticas cheios de cortesias e gentilezas como se, aparentemente, nunca tivessem enfrentando tamanha hostilidade entre eles.
Embora tanto tempo tenha passado, a pergunta ainda continua sem resposta, valeu a pena, tinha motivo suficiente para tantas atrocidades? Não existe nenhum motivo suficiente para se declarar uma guerra, mesmo após esgotado todos os recursos imaginários. A guerra mostra a força e o poder dos incapazes. O diálogo sempre foi e sempre será a arma mais eficaz contra qualquer provável inimigo. Matar ou morrer por ideologias vãs, por credos religiosos, étnicos ou culturais, faz dos seres humanos verdadeiras feras indomáveis que vociferam injúrias contra os semelhantes e pouco tempo depois do balanço de mortos e feridos, apaziguado os ânimos, trocam cortesias como se nada tivesse acontecido. Provando com isso que atitudes insanas de certos loucos, que em virtude da posição que ocupam no cenário mundial, tomam decisões absurdas e estarrecedoras em prol de uma ideologia, porém, em detrimento da humanidade e de suas próprias de nações, pode sim ser evitada pela tolerância, pelo diálogo e até mesmo por uma resposta branda que lhe aplaque o furor momentâneo. Alguns loucos continuam desafiando a inteligência humana com suas decisões.
Com certeza, muitas histórias, incontáveis dúvidas, lembranças horripilantes, medo, rancor, lágrimas que ainda não cessaram, almas amarguradas, corações acorrentados por um passado que teima em não querer passar e acima de tudo, o temor de passar por tudo isso novamente, poderia ser visto escondido a sombra daquele bigode formado sobre o rosto da primeira ministra alemã. Não gostaríamos que essa história se repetisse, porém, enquanto os homens não se entenderem e perceberem que são todos da mesma espécie, a humana, a sombra de um simples bigode pode gerar conflitos mundiais. Embora saibamos que uma guerra não começa da noite para o dia e nem sem motivos ou causas importantes para aqueles que a declaram, os governos totalitários causaram e ainda causam medo no resto do mundo. Estamos convivendo com a sombra de outro bigode na América do Sul que está deixando o mundo em alerta.

Nessa mesma semana, quando da visita da primeira ministra a Israel, também faleceu aos 110 anos a mais velha sobrevivente do holocausto. Alice Herz-Sommer, judia nascida em Praga na antiga Tchecoslováquia, passou dois terríveis anos presa em Terezin, campo de concentração, onde distraia os candidatos a câmara de gás tocando piano para eles. Uma mulher que mesmo vivendo diante da morte, proporcionava aos que caminhavam para ela, a oportunidade de um consolo, tentando, através da música, aliviar o pavor dos seus semelhantes. Buscava amenizar o medo no coração dos judeus entregues à morte. Nem tudo está perdido. Embora haja guerras e rumores de guerras, a alegria e a paz também podem ser irradiadas através de um simples bigode, basta como nos recordamos deles, como o do Adolf Hitler ou do Charles Chaplin!

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