segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Carnaval dos sonhos

Cessou a batida do tambor, do tamborim, o apito do mestre de bateria silenciou, calaram-se as vozes, é hora de despir a fantasia, depois de quatro dias, a folia chegou ao fim e o ano agora começa. Sorrisos dos vencedores e lágrimas dos perdedores darão novos rumos ao carnaval do ano seguinte. Não houve tanto riso e tampouco muita alegria nesse carnaval, que novamente foi marcado por acidentes, incêndios, atropelamentos, agressões, brigas, desentendimentos e muita violência e morte entre foliões e no trânsito em todas as regiões do país. É hora do balanço de perdas e danos. O Arlequim continua chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão. Deixou-me a impressão que o carnaval dos sonhos para aqueles que organizam, participam ativamente nas escolas de samba, blocos ou em simples bailes de salão, viram seus sonhos se transformarem em ilusão de quatro dias. A festa que é considerada popular somente atrai turistas estrangeiros que despejam milhares de dólares para acompanhar os trios elétricos, enquanto o povo queda-se ao celular como verdadeiros paparazzis a procura da melhor foto de um famoso que desfila em troca de muitos reais.
Celebridades femininas seminuas, com seios turbinados à mostra, consideradas musas, deusas, divindades que inspiram e movem a roda carnavalesca, disputam entre si quem tem o melhor corpo, a melhor comissão de frente, o melhor bumbum. Procurando o espaço midiático, se exibem em uma, duas ou mais escola de samba como uma vitrine, deixando de lado o pudor explodem em sensualidade desmedida e desnecessária para a vergonha do rei Momo. E é isso que vemos na festa popular, o carnaval. O apelo à nudez, ao sexo e a promiscuidade, incentivada pela mídia, torna-se cada vez mais acirrada despertando a lascívia, a sensualidade e a imoralidade nas crianças e jovens cujos são embalados por canções e ritmos sensuais. Sem falar no álcool e nas drogas onde tudo resulta em violência e morte.
Do ponto de vista masculino esse é um belo cenário, mas, onde está o carnaval da família? Será que ainda existe? Onde está a bandeira branca, a máscara negra, a “cabeleira” do Zezé, o Pierrot apaixonado? Não sou saudosista e nem contra o carnaval nos moldes atuais, pelo contrário, gosto dos sambas enredos, tenho minhas escolas preferidas e torço para que sejam campeãs, mas não as isento da nudez exagerada. Ouvi o desabafo de uma jornalista (www.youtube.com) quanto a realidade do carnaval e fui levado a concordar com o seu ponto de vista. Posso estar completamente enganado, mas também nunca vi tanta policia nas ruas nesse período e tanta insegurança ao mesmo tempo. Nunca vi tantas ambulâncias a disposição dos foliões embriagados e nos demais dias do ano desaparecem como por encanto deixando dezenas de pacientes a espera de um milagre. O carnaval é a festa do povo, mas não é para o povo. Como diz a letra de um samba do passado recente, o sambista que nasceu menino pobre, hoje se veste de nobre no desfile principal.
Para isso é preciso pagar o preço, um alto preço, e empresas de bebidas pagam milhões de reais para manter camarotes com celebridades bebendo e incentivando o consumo dessas marcas. É assim que o samba pede passagem. Com milhares de latinhas em mãos os foliões seguem no ritmo do trio elétrico, pois, atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu e para não morrer, a policia intensificou o rigor da lei seca. Parece um paradoxo, os patrocinadores do carnaval são as empresas de bebidas e quem bebe é multado. No carnaval não tem moderação, não se tem respeito, tudo é exagerado, sem limites. Esse é o carnaval, dos sonhos ou das ilusões? Depende do nosso ponto de vista. Para mim, sempre foi dos sonhos, da alegria e do divertimento, das crianças brincando nas ruas, das bandinhas nas praças, dos bailes nos clubes, dos blocos de amigos do escritório, de passistas entusiasmados, sem brigas, sem violência, sem nudez exagerada e apelativa, mas, ao final, depois do balanço geral, vejo que novamente, foi o carnaval das ilusões.
Mas vamos continuar sonhando, afinal, essa é a festa do povo, mas, também, para inglês ver.

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