terça-feira, 18 de agosto de 2015

O Pregador

Sob o sol escaldante em seu fulgor do meio dia, em um dia de verão, onde a multidão apressada caminhava de um lado para outro, pessoas se cruzavam e às vezes até se trombavam, mas nada podia distrair a atenção da grande maioria. Eu seguia também a passos largos desviando de um e de outro que vinha em minha direção. Atento ao que acontecia ao redor e na minha frente, seguia, mas, com receio dos garotos de rua a atenção precisava ser redobrada. O centro da cidade era um lugar de encontros inesperados. Ali o tempo parecia passar mais depressa do que em outros lugares. Todos os transeuntes eram empurrados pela velocidade do tempo, dos carros, pelos gritos dos ambulantes que com todos os tipos de comércios disputavam nossa atenção. A impressão que se tinha era que todos caminhavam, ou corriam, não se sabendo de onde vinham e nem para onde iam. Em meio a toda essa agitação, uma cena me chamou a atenção. Era um pregador que com seu discurso estridente, sozinho tentava atrair a atenção de quem passava em sua frente. Além disso, tinha de concorrer com um trio de cantores nordestino que também apresentavam seu produto a poucos metros dele.
A concorrência parecia desleal. O trio tinha até caixa de som e um pequeno grupo de pessoas rodeavam o trio atentos a trilha sonora. O pregador, no entanto, por mais que gritasse, suas palavras não tinham eco que ele gostaria. Parecia uma borboleta em seu bailado procurando um lugar em alguma flor para pousar, que apesar de sempre bela, não tinha a flor. Assim vi o pregador. Apesar de suas palavras cheias de vida, ninguém queria ouvi-las. Fui me aproximando e diminui os passos para ver se entendia o que era pronunciado por aquele pregador solitário. Não quis me deter. Seria o único a ouvir o sermão, mas como me aproximei, olhando em sua face, pude ainda ouvir, quando ele também se virou e me olhou e com um ribombar mais agudo de sua voz, completou a seguinte frase: “ tudo é vaidade, vaidade das vaidades, é correr a trás do vento”. Impressionante! Passei olhando meio de soslaio aquele pregador que sentindo que um fio de atenção lhe fora dado, prosseguiu falando ao mesmo tempo em que me acompanhava. Notei que algumas pessoas que cruzavam comigo ou que me ultrapassavam, meneavam suas cabeças em sinal negativo de desaprovação.
Fiquei pensativo nas duas questões. Com as pessoas que não davam atenção ao que se devia dar atenção e ao que ouvi do pregador. O que ouvi, parecia ser a realidade da grande maioria que passava naquela esquina no momento. Todos corriam atrás do vento...tudo era vaidade...vaidade das vaidades...Por outro lado, pensei, será que não davam a atenção por ser aquele pregador um homem negro!! Talvez. Apesar do calor abrasador que fazia, o homem estava vestido com um terno surrado escuro, uma gravata vermelha igualmente desgastada, o seu colarinho branco acumulava o suor que escorria pelo seu rosto e em suas mãos uma bíblia não menos usada, que ele se esforçava para manter todas as folhas dentro da capa. Acredito que aquele cidadão não fosse nenhum intelectual defendendo suas teses com sabedoria. Suas palavras demonstravam sua simplicidade e humildade e ao mesmo tempo desconhecimento do vocabulário português. Em palavras simples, mas, profundas, punha-se em vão a falar aos que seguiam seus caminhos para que se voltassem para Deus pois esso era o principio da sabedoria. Apesar do conteúdo da sua mensagem, acho que os pedestres, assim como eu, prestavam mais atenção na pessoa do que na sua fala.
E por prestarem atenção na pessoa, ignoravam o que era falado. Por outro lado, a palavra do pregador ia contra aquelas pessoas. Segui meditando naquelas poucas palavras que ouvi. Notei que as pessoas realmente pareciam correr atrás do vento. Não tinham direção. Não se sabe de onde vem o vento ou para onde vai, assim era a multidão. Todos correm atrás de algum objetivo, mas quando alcançam, parece que tocam em uma bolha de sabão, puff, estoura. O contraste entre os nossos objetivos e os objetivos de Deus são tão distantes e paralelos que jamais se encontrarão. É o reino dos céus versus e o reino da terra. É o divino em busca do humano e o humano, alguns, em busca das coisas que o Ser Divino pode lhes conceder. Ele está por todas as esquinas a nossa procura, mas lhe voltamos as costas e só lhe procuramos em situações que fogem ao nosso controle.
Essa luta será eterna, caso o homem não ouça a voz do verdadeiro pregador. Aquele que veio fazer exatamente essa ponte, era o elo entre a eternidade e o tempo, entre o celestial e o terrenal, entre Deus e o homem, Jesus, o homem-Deus. A palavra daquele pregador, assim como sua pessoa, afastava as demais. Este pregador, pelo contrário, sua pessoa e sua palavra nos atraem. Apesar daquele falar as palavras deste, sem a sabedoria deste, tudo é vaidade. O verdadeiro pregador chamava para si toda a responsabilidade pelas palavras que falava. Nenhum outro pregador ou líder espiritual de qualquer religião que fosse jamais chamou para a si a responsabilidade por sua palavra. Ninguém jamais disse o que Ele disse. Todos eles morreram e seus ensinamentos continuam não precisa de suas pessoas para se dar continuidade aos seus ensinamentos, ou seja, a pessoa de qualquer líder religioso não é o fundamental. Mas o Cristianismo não prossegue sem o Cristo. Por essa razão Ele, o verdadeiro pregador dizia: Eu sou o caminho, Eu sou a verdade, Eu sou a vida, Eu sou o que sou...Toda a sua palavra era centralizada nele mesmo e em seu testemunho de vida, coisa que não podemos confiar cegamente nos pregadores contemporâneos.
Por isso nunca despreze as palavras de um pregador, pois pode nos levar ao verdadeiro pregador, que até sem palavras nos cativa. E esse verdadeiro pregador manifesta a vida de Deus, pois quem pode falar das coisas lá do alto senão Aquele que de lá desceu? Quem pode falar do homem internamente senão Aquele que o teceu? Por isso eu aceito essa verdade: Jesus Cristo é Deus...

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