Sob
o sol escaldante em seu fulgor do meio dia, em um dia de verão, onde
a multidão apressada caminhava de um lado para outro, pessoas se
cruzavam e às vezes até se trombavam, mas nada podia distrair a
atenção da grande maioria. Eu seguia também a passos largos
desviando de um e de outro que vinha em minha direção. Atento ao
que acontecia ao redor e na minha frente, seguia, mas, com receio dos
garotos de rua a atenção precisava ser redobrada. O centro da
cidade era um lugar de encontros inesperados. Ali o tempo parecia
passar mais depressa do que em outros lugares. Todos os transeuntes
eram empurrados pela velocidade do tempo, dos carros, pelos gritos
dos ambulantes que com todos os tipos de comércios disputavam nossa
atenção. A impressão que se tinha era que todos caminhavam, ou
corriam, não se sabendo de onde vinham e nem para onde iam. Em meio
a toda essa agitação, uma cena me chamou a atenção. Era um
pregador que com seu discurso estridente, sozinho tentava atrair a
atenção de quem passava em sua frente. Além disso, tinha de
concorrer com um trio de cantores nordestino que também apresentavam
seu produto a poucos metros dele.
A
concorrência parecia desleal. O trio tinha até caixa de som e um
pequeno grupo de pessoas rodeavam o trio atentos a trilha sonora. O
pregador, no entanto, por mais que gritasse, suas palavras não
tinham eco que ele gostaria. Parecia uma borboleta em seu bailado
procurando um lugar em alguma flor para pousar, que apesar de sempre
bela, não tinha a flor. Assim vi o pregador. Apesar de suas palavras
cheias de vida, ninguém queria ouvi-las. Fui me aproximando e
diminui os passos para ver se entendia o que era pronunciado por
aquele pregador solitário. Não quis me deter. Seria o único a
ouvir o sermão, mas como me aproximei, olhando em sua face, pude
ainda ouvir, quando ele também se virou e me olhou e com um ribombar
mais agudo de sua voz, completou a seguinte frase:
“ tudo é vaidade, vaidade das vaidades, é correr a trás do
vento”.
Impressionante! Passei olhando meio de soslaio aquele pregador que
sentindo que um fio de atenção lhe fora dado, prosseguiu falando ao
mesmo tempo em que me acompanhava. Notei que algumas pessoas que
cruzavam comigo ou que me ultrapassavam, meneavam suas cabeças em
sinal negativo de desaprovação.
Fiquei
pensativo nas duas questões. Com as pessoas que não davam atenção
ao que se devia dar atenção e ao que ouvi do pregador. O que ouvi,
parecia ser a realidade da grande maioria que passava naquela esquina
no momento. Todos
corriam atrás do vento...tudo era vaidade...vaidade das
vaidades...Por
outro lado, pensei, será que não davam a atenção por ser aquele
pregador um homem negro!! Talvez. Apesar do calor abrasador que
fazia, o homem estava vestido com um terno surrado escuro, uma
gravata vermelha igualmente desgastada, o seu colarinho branco
acumulava o suor que escorria pelo seu rosto e em suas mãos uma
bíblia não menos usada, que ele se esforçava para manter todas as
folhas dentro da capa. Acredito que aquele cidadão não fosse nenhum
intelectual defendendo suas teses com sabedoria. Suas palavras
demonstravam sua simplicidade e humildade e ao mesmo tempo
desconhecimento do vocabulário português. Em palavras simples, mas,
profundas, punha-se em vão a falar aos que seguiam seus caminhos
para que se voltassem para Deus pois esso era o principio da
sabedoria. Apesar do conteúdo da sua mensagem, acho que os
pedestres, assim como eu, prestavam mais atenção na pessoa do que
na sua fala.
E
por prestarem atenção na pessoa, ignoravam o que era falado. Por
outro lado, a palavra do pregador ia contra aquelas pessoas. Segui
meditando naquelas poucas palavras que ouvi. Notei que as pessoas
realmente pareciam correr atrás do vento. Não tinham direção. Não
se sabe de onde vem o vento ou para onde vai, assim era a multidão.
Todos correm atrás de algum objetivo, mas quando alcançam, parece
que tocam em uma bolha de sabão, puff, estoura. O contraste entre os
nossos objetivos e os objetivos de Deus são tão distantes e
paralelos que jamais se encontrarão. É o reino dos céus versus e o
reino da terra. É o divino em busca do humano e o humano, alguns, em
busca das coisas que o Ser Divino pode lhes conceder. Ele está por
todas as esquinas a nossa procura, mas lhe voltamos as costas e só
lhe procuramos em situações que fogem ao nosso controle.
Essa
luta será eterna, caso o homem não ouça a voz do verdadeiro
pregador. Aquele que veio fazer exatamente essa ponte, era o elo
entre a eternidade e o tempo, entre o celestial e o terrenal, entre
Deus e o homem, Jesus, o homem-Deus. A palavra daquele pregador,
assim como sua pessoa, afastava as demais. Este pregador, pelo
contrário, sua pessoa e sua palavra nos atraem. Apesar daquele falar
as palavras deste, sem a sabedoria deste, tudo é vaidade. O
verdadeiro pregador chamava para si toda a responsabilidade pelas
palavras que falava. Nenhum outro pregador ou líder espiritual de
qualquer religião que fosse jamais chamou para a si a
responsabilidade por sua palavra. Ninguém jamais disse o que Ele
disse. Todos eles morreram e seus ensinamentos continuam não precisa
de suas pessoas para se dar continuidade aos seus ensinamentos, ou
seja, a pessoa de qualquer líder religioso não é o fundamental.
Mas o Cristianismo não prossegue sem o Cristo. Por essa razão Ele,
o verdadeiro pregador dizia: Eu
sou o caminho, Eu sou a verdade, Eu
sou
a vida, Eu sou o que sou...Toda
a sua palavra era centralizada nele mesmo e em seu testemunho de
vida, coisa que não podemos confiar cegamente nos pregadores
contemporâneos.
Por
isso nunca despreze as palavras de um pregador, pois pode nos levar
ao verdadeiro pregador, que até sem palavras nos cativa. E esse
verdadeiro pregador manifesta a vida de Deus, pois quem pode falar
das coisas lá do alto senão Aquele que de lá desceu? Quem pode
falar do homem internamente senão Aquele que o teceu? Por isso eu
aceito essa verdade: Jesus
Cristo é Deus...
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