quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dr. Google

Diz um ditado popular que erro de médico a terra cobre. Hoje em dia a realidade desse ditado tem sido avultada com os constantes erros que profissionais da medicina veem cometendo. Alguns dias atrás assistimos reportagens de pacientes que perderam a vida ou tiveram a saúde colocada em risco devido a erros nos procedimentos de técnicos, enfermeiros e médicos quanto ao atendimento hospitalar. Recentemente uma interna recebeu café com leite na veia e uma outra recebeu sopa causando com isso a morte de ambas. No primeiro semestre uma criança ficou com a saúde comprometida ao receber uma substância ácida na veia ao invés de sedativo. Poucos dias depois uma outra recebeu leite na veia uma terceira teve o dedo cortado ao fazer um simples curativo. Médicos que esquecem aparelhos cirúrgicos dentro dos pacientes após as cirurgias, troca de prontuários sem a mínima atenção às regras básicas da medicina. Sem contar a falta de assepsia em instrumentos e instalações, medicamentos vencidos, contaminados ou com dosagem alteradas, e assim segue a medicina e a saúde em nosso país. É uma guerra do salve-se quem puder.
Depois desses fatos noticiados, fiquei pensando e temendo por mim mesmo ou por um ente querido, na possibilidade de cair em mãos erradas, daqueles que deveriam cuidar da nossa saúde e no entanto, morrer ou sofrer sérias consequências por causa de um erro dessa magnitude. Qual a razão de tanto descuido nessa área que deveria ser a mais responsável e fiscalizada? Difícil encontrar a resposta. Mas nessa manhã ouvi uma conversa entre dois futuros doutores, ou seja, alunos de medicina, que me deixou pasmo. Comecei a entender de onde partia tanto erro médico. Era um casal em um bate papo descontraído onde a cada três palavras que proferiam, duas eram gíria e a outra palavrão, impropérios vergonhosos para quem queria ser um doutor e cuidar da saúde alheia, pensei. Mas o mais intrigante não foram as palavras e sim o estudo que vinham tendo na universidade. Deu-me a impressão que a teoria era baseada no Google, através do Crtl C Crtl V e discutida nos bares e lanchonetes ao redor das universidades.
Segundo o CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo – o Brasil tem hoje mais faculdades de medicina do que os Estados Unidos e a China, são 197 entidades, sendo que no começo dos anos 90 eram apenas 82. Entre os anos de 2005 a 2011, o CREMESP realizou testes e exames para avaliar o conhecimento em quase 5000 médicos recém-formados onde 46,7% tiveram seus testes reprovados e mesmo assim, não foram impedidos de exercer a medicina. Isso justifica o registro de dez casos de processos diário recebidos pelo órgão, mais de 3000 por ano para vergonha da classe. Embora não seja satisfatória a avaliação do CREMESP, é evidente que em muitos casos, talvez a maioria deles, não seja propriamente um erro médico, e sim força de expressão. Aliás, é preciso reconhecer que um médico que estuda 6 anos ou mais, depois surge um técnico de enfermagem que fez um cursinho de alguns meses e comete um erro fatal, essa imperícia é denominada erro médico depreciando a classe médica de maneira equivocada.
Eu só sei que essa batalha entre a medicina e a saúde do povo precisa ter um fim. O primeiro artigo dos princípios fundamentais da ética médica diz que a medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza. Entre médicos e pacientes existe uma instituição de ensino que colabora para que o ditado popular seja realidade. No ano passado, nenhum curso de medicina recebeu nota máxima (5) do MEC. Eis a razão de tanta imperícia, ensino precário que oferece risco eminente de morte ao paciente, alunos despreparados sem conhecimento básico, conforme exame do CREMESP. Se continuar assim, é melhor se consultar com o Dr. Google...

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