terça-feira, 18 de agosto de 2015

Tempos modernos

Hoje parei para fazer a oração dos sábios. Aproveitei o clima do mês de dezembro que irradia paz e fiquei em silêncio. Refleti um pouco sobre a nossa existência. De repente, precisei sacudir a cabeça, para ter a certeza de que não estava sonhando. Voltei alguns anos na minha experiência de vida, e pude ver que muitas coisas haviam mudado. Em nome do progresso, do avanço e da tecnologia, perdemos grandes valores que foram substituídos por outros que tentam fazer o mesmo papel. E o que vi era apenas um pouco mais de comodidade que se ofereciam às pessoas, em troca da fidelidade mercantil. Trocamos os valores e invertemos os papéis. Antes éramos os atores principais na sociedade, hoje somos meros coadjuvantes. O resultado dessa mudança brusca na sociedade é sentida em cada cidadão, que ao nascer, já herda os efeitos devastadores da mídia e de todas as outras influências comerciais a que somos submetidos. Compramos nossas crianças com brinquedos, jogos eletrônicos de última geração, ou seja, terceira dimensão, que não estimulam o pensamento, deixando as crianças e jovens à mercê de imagens prontas que cauterizam a arte de pensar. Envolvemos os filhos com cursos, aqueles pais que podem, para que desde cedo aprendam a ser os melhores e roubamos deles o tempo de ser criança, de brincar, aprender, de descobrir. Impomos-lhes as ideias do futuro ao invés de expor as ideias para o futuro. Na sociedade moderna só os que têm mais conhecimento é que serão os vencedores, dizemos. E com isso, exigimos o que eles não conseguem nos dar. Quantas vezes alguns chegam ao topo do pódio sem ânimo e sem forças para poder comemorar os louros da vitória devido a tantas situações pelo caminho, como doenças, acidentes, frustrações etc...Hoje não sabemos o que fazer com nossos diplomas. É...meu caro José, refleti comigo mesmo, o tempo passou depressa! O mundo mudou com uma velocidade assustadora, ficamos sem nenhum referencial, esquecemos de nós mesmos e estamos sendo levados, sem nada poder fazer, pela correnteza da mídia, que dita do que devemos gostar, fazer, comprar e até mesmo onde e como gastar o nosso dinheiro. O ano dois mil, que até alguns anos atrás era pura ficção científica, retratado apenas em filmes na tv, hoje é realidade e também passado. O novo milênio chegou trazendo com ele muita novidade. O avanço da ciência, tem levado o homem a brincar de deus. Na escola, aprendíamos que a família era a célula mater da sociedade. E que todos os exemplos vinham dela. Se a família aprovasse, faríamos isso ou aquilo, caso contrário, deixaríamos de lado. A família era nosso padrão, nosso alto padrão. A família influenciava a sociedade. A nossa sociedade era o reflexo das famílias. Havia moral e bons costumes, mas, a imoralidade surgiu sorrateira e hoje é expressa livremente em qualquer esquina da cidade. Temos de considerar normal homem beijando homem e mulher beijando mulher como se fosse a coisa mais natural da vida. Tempos modernos meu caro José! A imoralidade está desenfreada. O sexo é uma arma da humanidade, muitos fazem uso dele de maneira tão vulgar. Em qualquer esquina e a qualquer hora, podemos encontrar profissionais, homens e mulheres, oferecendo seus corpos para consumo como uma mercadoria qualquer, e olha que a oferta está acima da procura. O preço é bem razoável, acessível a qualquer desempregado. Hoje já vemos avós “transando” com seus netos, genros com suas noras, pais com seus filhos e a sociedade acha tudo normal. Não reconhecemos que estamos recebendo a recompensa dos nossos erros em nossos corpos. Alguns ainda alegam que o ser humano está evoluindo, só se for para fazer coisas erradas. Milhões de pessoas são contaminadas e contaminando outras em uma escala sem fim por vírus mortais por causa do sexo livre. Infelizmente, fomos atingidos pelo big bang do progresso e do milênio com os seus reflexos que continuam nos fazendo vítimas. Passamos repentinamente para a era da informática, do just in time, do on line, estamos na era global. O que acontece na mais remota ilha do mundo, em questão de segundos, todo planeta fica sabendo com apenas um click no computador, é a lógica da realidade. A tecnologia e a informática foram recebidos de braços abertos, mas, os fechamos para as coisas simples da vida. Deixamos as crianças sem brincadeiras de rua, as senhoras deixaram as conversas nas calçadas, os velhos deixaram seus jogos de bochas, malhas e truco nas praças. Os velhos parques e circos, deram lugares aos shopping centers cada vez mais sofisticados e com muitos atrativos comerciais. Atraem as pessoas pelo que elas possuem e não pelo que são. Fomos engolidos pela selva de pedra. Respiramos gases cheios de poluentes cancerígenos, estressamos, ansiamos, sucumbimos aos moldes da sociedade consumista. Valorizamos o ter e não o ser. Sempre queremos ter mais e mais. Hoje somos o que temos, se não temos não somos considerados. Perdemos o brilho do olhar, o romantismo, as belas tardes de domingo são passadas em frente a televisão que nos massifica e tem nos roubado o tempo precioso que nunca mais recuperaremos. Ficamos diante de personagens fabricados, linguagem torpe que não nos acrescenta nada e os consideramos ídolos. Pagamos um alto preço por essas mudanças. Não temos mais tempo para nosso cônjuge, para a família. Ficamos emocionalmente desequilibrados, as barreiras entre pais e filhos tem aumentado e até mesmo a morte prematura através de enfarte oriunda da pressão exercida pela sociedade têm aumentado assustadoramente. A pressão está alta. Desfrutamos dos prazeres, mas, não satisfazemos a alma. Dividimos o átomo, mas, não conseguimos dividir o pão. Nos apegamos ao que temos e esquecemos do que somos. Queremos conquistar o mundo, mas, somos vencidos pela solidão. Tudo ocorrendo ao contrário do que imaginávamos e do que é oferecido pelos avanços tecnológicos. A atração pelo virtual está nos envolvendo e deixando o ser humano sem sentimento, sem pensamento, sem voz, perdendo os sentidos...Estamos falando cada vez mais e se entendendo cada vez menos, nos comunicando através de satélite e perdendo os sentimentos mais nobres. Acompanharmos os pais agora é pelo twitter, as conversas face-a-face, agora é pelo facebook. A comunidade é o orkut. A intranet encurta o tempo entre as pessoas mas aumenta a distância entre elas. Nos relacionamos mais, mas, nos vemos menos. Não consultamos mais a sabedoria dos mais velhos, consultamos os sites, o google. Passamos e-mails para os filhos, a esposa, pois não temos mais as conversas familiares. Os recados viraram torpedos. Somos atualizados on line, mas incapazes de saber o que se passa com um filho, pensamos no carro, na profissão, no futuro, pensamos na vida, nos problemas e nas soluções, estamos demasiadamente e pré-ocupados pensando...pensando...e pensando. Pensamos em ganhar dinheiro na loteria, em ser promovido, em novos projetos, no carro novo, sonhamos acordados. Mas esquecemos de pensar como é o dia do filho na escola, da mulher em casa, da família, nunca estivemos tão próximos e ao mesmo tempo, tão distantes...Sempre correndo mas sem nos aproximar das pessoas, tudo está passando tão depressa...o tempo, os anos, a vida, os sonhos, os amigos, o amor...Tudo está se perdendo e sendo esquecido, ficando para traz, para segundo ou terceiro plano, sempre para depois, para amanhã ou nunca mais...O ser humano está perdendo a humanidade, os sentimentos estão gélidos, a vida está se esvaindo por entre os nossos dedos e não estamos conseguindo bloquear suas comportas. Um amigo, tornou-se pérola de grande valor, coisa rara, difícil de se encontrar. Parece que estamos diante de um mar revolto, onde as ondas gigantes tem assolados nossas mentes, estamos sem bússola, sem direção, navegando em rumo ao infinito. Nos perdemos dentro de nós mesmos. O ser humano tornou-se uma incógnita. Percorremos galáxias buscando entender o universo e não sabemos quem somos. Embora conheçamos os caminhos do universo, navegamos solitários acompanhados pela multidão que não se vê, não se entende e não se conhece, é virtual. Ainda estamos sem respostas de três perguntas básicas que sempre nos fazemos, quem sou? de onde vim? e para onde vou? Estamos perdidos em nossos problemas, anseios e desejos, perdemos os alvos, os objetivos, os sonhos, as metas. E mesmo perdidos, corremos contra tudo e todos, contra a maré, contra o tempo, contra nossos princípios e nossa moral e quando não alcançamos nossos ideais, nos fechamos em nosso eu. Queremos abraçar o mundo, mas não abraçamos a esposa, o marido, os filhos, os amigos. Nos fechamos aos amigos, a família, não ouvimos a voz do nosso coração, não escutamos o canto dos pássaros, não apreciamos os sorrisos das crianças, a ternura de um olhar, a simplicidade desse abraço e nos fechamos em nosso mundo solitário com tantas pessoas para nos abrimos, tantas, circunstâncias acontecendo e tantos fatos que caem em nosso esquecimento. Perdemos a gentileza, a humildade, a simplicidade, a paz. Caminhamos solitários diante de uma multidão apressada, seguimos lado a lado, mas não conhecemos o companheiro ou o vizinho. Sorrimos, mas não nos alegramos, cantamos e não espantamos os males, desejamos, mas não conseguimos conquistar... Sonhamos mas achamos os sonhos impossíveis, plantamos mas não esperamos colher as flores e os frutos...Parece que fomos feitos a imagem e semelhança dos computadores e não de Deus...Os computadores são lógicos, não pensam, não criam, não sonham são programáveis...Estamos deletando as pessoas dos nossos pensamentos, nossa memória não tem mais registros, não tem espaço está cheia de ansiedade, nosso processador não consegue ler os sonhos que se perderam nos arquivos temporários, só desejos, e estes se perdem com as dificuldades...Na tela dos nossos olhos não contemplamos o belo em um dia de chuva, não vemos as estrelas em uma noite escura ainda que sempre estejam lá...Os olhos são monitores, olhar cego mas de alta definição, microcâmeras, circuito fechado, não contempla a emoção, plasma, LCD notebook, netbook, palmtop, smartphones, apenas a lógica dos microchips, dos bites, do Ipod, Iphone, o mundo na palma das mãos. Mas tudo isso substituiu as conversas nas salas entre pais e filhos, a alegria deles ao ouvirem as histórias dos pais, o sorriso franco ficou e não salvamos, deletamos a esperança, apagamos nossos bons costumes, fechamos as pastas do prazer, suas capacidades de pensar, mas, ainda há tempo...Precisamos fazer um download no tempo, scannear novos amigos, salvá-los no HD do coração, desfragmentar os fracassos, dar um scan disk no passado, compartilhar os sentimentos e as emoções e deixar correr na rede a amizade e a alegria dos arquivos recuperados...Hoje tudo é virtual mas não é o ideal...Hoje não sorrimos, não choramos, não agradecemos, não elogiamos, mas brigamos, exigimos, derrotamos e nem percebemos que nós mesmos fomos derrotados quando achamos que ganhamos...Perdemos um amigo, a razão, o consciente a paciência o humor, perdemos tantas coisas importantes e damos importância a outras sem tanto valor...não damos importância a um sentimento, pois nos falta a sensibilidade, não valorizamos as pessoas, mas valorizamos objetos, coisas, não valorizamos uma amizade mas queremos ter amigos, valorizamos o ter e desprezamos o ser, estamos na era da informática, das máquinas, do virtual...As máquinas parecem ter sentimentos, falam, fazem, indicam, substituem o ser humano...Estamos virando máquinas e máquinas virando gente...Nossa conversa é virtual, nosso amor é virtual, parece ser ideal... se conhecer pelo computador sem se ver, até intimidade ter, já pode acontecer...choramos via internet lágrimas que não comovem...Por isso, vamos largar o mouse, sair do chat, dos blogs e olhar nos olhos, apertar a mão um do outro, sorrir e ver o sorriso refletir nos olhos das pessoas. Vamos reiniciar nosso computador, sentir a paz da emoção, navegar através das windows do vento, explorar os atalhos do prazer...Vamos passar anti-vírus na mentira, na falsidade, no egoísmo, limpar a lixeira do ódio, do rancor, do medo...Vamos usar todas as ferramentas disponíveis para imprimir nas pessoas a humanidade, a humildade e acima de tudo o amor, porque esse é o nosso computador...Que pensa, sente, se emociona e é feliz. Esse computador não é lógico. Ele chora, sorri e se entristece. É programado para ter sentimentos, sonhar, ter amigos, amores, conversar, não pela internet...Não vamos ressetar tudo isso e nem excluir a poesia da vida, as flores da primavera, as estrelas de uma noite de luar, porque vale a pena ser humano, tocar, sentir, pensar, viver...que o virtual nunca ultrapasse o real...é Meu desejo...

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