Hoje
parei para fazer a oração dos sábios. Aproveitei o clima do mês
de dezembro que irradia paz e fiquei em silêncio. Refleti um pouco
sobre a nossa existência. De repente, precisei sacudir a cabeça,
para ter a certeza de que não estava sonhando. Voltei alguns anos na
minha experiência de vida, e pude ver que muitas coisas haviam
mudado. Em nome do progresso, do avanço e da tecnologia, perdemos
grandes valores que foram substituídos por outros que tentam fazer o
mesmo papel. E o que vi era apenas um pouco mais de comodidade que se
ofereciam às pessoas, em troca da fidelidade mercantil. Trocamos os
valores e invertemos os papéis. Antes éramos os atores principais
na sociedade, hoje somos meros coadjuvantes. O resultado dessa
mudança brusca na sociedade é sentida em cada cidadão, que ao
nascer, já herda os efeitos devastadores da mídia e de todas as
outras influências comerciais a que somos submetidos. Compramos
nossas crianças com brinquedos, jogos eletrônicos de última
geração, ou seja, terceira dimensão, que não estimulam o
pensamento, deixando as crianças e jovens à mercê de imagens
prontas que cauterizam a arte de pensar. Envolvemos os filhos com
cursos, aqueles pais que podem, para que desde cedo aprendam a ser os
melhores e roubamos deles o tempo de ser criança, de brincar,
aprender, de descobrir. Impomos-lhes as ideias do futuro ao invés de
expor as ideias para o futuro. Na sociedade moderna só os que têm
mais conhecimento é que serão os vencedores, dizemos. E com isso,
exigimos o que eles não conseguem nos dar. Quantas vezes alguns
chegam ao topo do pódio sem ânimo e sem forças para poder
comemorar os louros da vitória devido a tantas situações pelo
caminho, como doenças, acidentes, frustrações etc...Hoje não
sabemos o que fazer com nossos diplomas. É...meu caro José, refleti
comigo mesmo, o tempo passou depressa! O mundo mudou com uma
velocidade assustadora, ficamos sem nenhum referencial, esquecemos de
nós mesmos e estamos sendo levados, sem nada poder fazer, pela
correnteza da mídia, que dita do que devemos gostar, fazer, comprar
e até mesmo onde e como gastar o nosso dinheiro. O ano dois mil, que
até alguns anos atrás era pura ficção científica, retratado
apenas em filmes na tv, hoje é realidade e também passado. O novo
milênio chegou trazendo com ele muita novidade. O avanço da
ciência, tem levado o homem a brincar de deus. Na escola,
aprendíamos que a família era a célula mater da sociedade. E que
todos os exemplos vinham dela. Se a família aprovasse, faríamos
isso ou aquilo, caso contrário, deixaríamos de lado. A família era
nosso padrão, nosso alto padrão. A família influenciava a
sociedade. A nossa sociedade era o reflexo das famílias. Havia moral
e bons costumes, mas, a imoralidade surgiu sorrateira e hoje é
expressa livremente em qualquer esquina da cidade. Temos de
considerar normal homem beijando homem e mulher beijando mulher como
se fosse a coisa mais natural da vida. Tempos modernos meu caro José!
A imoralidade está desenfreada. O sexo é uma arma da humanidade,
muitos fazem uso dele de maneira tão vulgar. Em qualquer esquina e a
qualquer hora, podemos encontrar profissionais, homens e mulheres,
oferecendo seus corpos para consumo como uma mercadoria qualquer, e
olha que a oferta está acima da procura. O preço é bem razoável,
acessível a qualquer desempregado. Hoje já vemos avós “transando”
com seus netos, genros com suas noras, pais com seus filhos e a
sociedade acha tudo normal. Não reconhecemos que estamos recebendo a
recompensa dos nossos erros em nossos corpos. Alguns ainda alegam que
o ser humano está evoluindo, só se for para fazer coisas erradas.
Milhões de pessoas são contaminadas e contaminando outras em uma
escala sem fim por vírus mortais por causa do sexo livre.
Infelizmente, fomos atingidos pelo big bang do progresso e do milênio
com os seus reflexos que continuam nos fazendo vítimas. Passamos
repentinamente para a era da informática, do just in time, do on
line, estamos na era global. O que acontece na mais remota ilha do
mundo, em questão de segundos, todo planeta fica sabendo com apenas
um click no computador, é a lógica da realidade. A tecnologia e a
informática foram recebidos de braços abertos, mas, os fechamos
para as coisas simples da vida. Deixamos as crianças sem
brincadeiras de rua, as senhoras deixaram as conversas nas calçadas,
os velhos deixaram seus jogos de bochas, malhas e truco nas praças.
Os velhos parques e circos, deram lugares aos shopping centers cada
vez mais sofisticados e com muitos atrativos comerciais. Atraem as
pessoas pelo que elas possuem e não pelo que são. Fomos engolidos
pela selva de pedra. Respiramos gases cheios de poluentes
cancerígenos, estressamos, ansiamos, sucumbimos aos moldes da
sociedade consumista. Valorizamos o ter e não o ser. Sempre queremos
ter mais e mais. Hoje somos o que temos, se não temos não somos
considerados. Perdemos o brilho do olhar, o romantismo, as belas
tardes de domingo são passadas em frente a televisão que nos
massifica e tem nos roubado o tempo precioso que nunca mais
recuperaremos. Ficamos diante de personagens fabricados, linguagem
torpe que não nos acrescenta nada e os consideramos ídolos. Pagamos
um alto preço por essas mudanças. Não temos mais tempo para nosso
cônjuge, para a família. Ficamos emocionalmente desequilibrados, as
barreiras entre pais e filhos tem aumentado e até mesmo a morte
prematura através de enfarte oriunda da pressão exercida pela
sociedade têm aumentado assustadoramente. A pressão está alta.
Desfrutamos dos prazeres, mas, não satisfazemos a alma. Dividimos o
átomo, mas, não conseguimos dividir o pão. Nos apegamos ao que
temos e esquecemos do que somos. Queremos conquistar o mundo, mas,
somos vencidos pela solidão. Tudo ocorrendo ao contrário do que
imaginávamos e do que é oferecido pelos avanços tecnológicos. A
atração pelo virtual está nos envolvendo e deixando o ser humano
sem sentimento, sem pensamento, sem voz, perdendo os
sentidos...Estamos falando cada vez mais e se entendendo cada vez
menos, nos comunicando através de satélite e perdendo os
sentimentos mais nobres. Acompanharmos os pais agora é pelo twitter,
as conversas face-a-face, agora é pelo facebook. A comunidade é o
orkut. A intranet encurta o tempo entre as pessoas mas aumenta a
distância entre elas. Nos relacionamos mais, mas, nos vemos menos.
Não consultamos mais a sabedoria dos mais velhos, consultamos os
sites, o google. Passamos e-mails para os filhos, a esposa, pois não
temos mais as conversas familiares. Os recados viraram torpedos.
Somos atualizados on line, mas incapazes de saber o que se passa com
um filho, pensamos no carro, na profissão, no futuro, pensamos na
vida, nos problemas e nas soluções, estamos demasiadamente e
pré-ocupados pensando...pensando...e pensando. Pensamos em ganhar
dinheiro na loteria, em ser promovido, em novos projetos, no carro
novo, sonhamos acordados. Mas esquecemos de pensar como é o dia do
filho na escola, da mulher em casa, da família, nunca estivemos tão
próximos e ao mesmo tempo, tão distantes...Sempre correndo mas sem
nos aproximar das pessoas, tudo está passando tão depressa...o
tempo, os anos, a vida, os sonhos, os amigos, o amor...Tudo está se
perdendo e sendo esquecido, ficando para traz, para segundo ou
terceiro plano, sempre para depois, para amanhã ou nunca mais...O
ser humano está perdendo a humanidade, os sentimentos estão
gélidos, a vida está se esvaindo por entre os nossos dedos e não
estamos conseguindo bloquear suas comportas. Um amigo, tornou-se
pérola de grande valor, coisa rara, difícil de se encontrar. Parece
que estamos diante de um mar revolto, onde as ondas gigantes tem
assolados nossas mentes, estamos sem bússola, sem direção,
navegando em rumo ao infinito. Nos perdemos dentro de nós mesmos. O
ser humano tornou-se uma incógnita. Percorremos galáxias buscando
entender o universo e não sabemos quem somos. Embora conheçamos os
caminhos do universo, navegamos solitários acompanhados pela
multidão que não se vê, não se entende e não se conhece, é
virtual. Ainda estamos sem respostas de três perguntas básicas que
sempre nos fazemos, quem sou? de onde vim? e para onde vou? Estamos
perdidos em nossos problemas, anseios e desejos, perdemos os alvos,
os objetivos, os sonhos, as metas. E mesmo perdidos, corremos contra
tudo e todos, contra a maré, contra o tempo, contra nossos
princípios e nossa moral e quando não alcançamos nossos ideais,
nos fechamos em nosso eu. Queremos abraçar o mundo, mas não
abraçamos a esposa, o marido, os filhos, os amigos. Nos fechamos aos
amigos, a família, não ouvimos a voz do nosso coração, não
escutamos o canto dos pássaros, não apreciamos os sorrisos das
crianças, a ternura de um olhar, a simplicidade desse abraço e nos
fechamos em nosso mundo solitário com tantas pessoas para nos
abrimos, tantas, circunstâncias acontecendo e tantos fatos que caem
em nosso esquecimento. Perdemos a gentileza, a humildade, a
simplicidade, a paz. Caminhamos solitários diante de uma multidão
apressada, seguimos lado a lado, mas não conhecemos o companheiro ou
o vizinho. Sorrimos, mas não nos alegramos, cantamos e não
espantamos os males, desejamos, mas não conseguimos conquistar...
Sonhamos mas achamos os sonhos impossíveis, plantamos mas não
esperamos colher as flores e os frutos...Parece que fomos feitos a
imagem e semelhança dos computadores e não de Deus...Os
computadores são lógicos, não pensam, não criam, não sonham são
programáveis...Estamos deletando as pessoas
dos nossos pensamentos, nossa memória não tem mais registros, não
tem espaço está cheia de ansiedade, nosso processador não consegue
ler os sonhos que se perderam nos arquivos temporários, só desejos,
e estes se perdem com as dificuldades...Na tela dos nossos olhos não
contemplamos o belo em um dia de chuva, não vemos as estrelas em uma
noite escura ainda que sempre estejam lá...Os olhos são monitores,
olhar cego mas de alta definição, microcâmeras, circuito fechado,
não contempla a emoção, plasma, LCD notebook, netbook, palmtop,
smartphones, apenas a lógica dos microchips, dos bites, do Ipod,
Iphone, o mundo na palma das mãos. Mas tudo isso substituiu as
conversas nas salas entre pais e filhos, a alegria deles ao ouvirem
as histórias dos pais, o sorriso franco ficou e não salvamos,
deletamos a esperança, apagamos nossos bons costumes, fechamos as
pastas do prazer, suas capacidades de pensar, mas, ainda há
tempo...Precisamos fazer um download no tempo, scannear novos amigos,
salvá-los no HD do coração, desfragmentar os fracassos, dar um
scan disk no passado, compartilhar os sentimentos e as emoções e
deixar correr na rede a amizade e a alegria dos arquivos
recuperados...Hoje tudo é virtual mas não é o ideal...Hoje não
sorrimos, não choramos, não agradecemos, não elogiamos, mas
brigamos, exigimos, derrotamos e nem percebemos que nós mesmos fomos
derrotados quando achamos que ganhamos...Perdemos um amigo, a razão,
o consciente a paciência o humor, perdemos tantas coisas importantes
e damos importância a outras sem tanto valor...não damos
importância a um sentimento, pois nos falta a sensibilidade, não
valorizamos as pessoas, mas valorizamos objetos, coisas, não
valorizamos uma amizade mas queremos ter amigos, valorizamos o ter e
desprezamos o ser, estamos na era da informática, das máquinas, do
virtual...As máquinas parecem ter sentimentos, falam, fazem,
indicam, substituem o ser humano...Estamos virando máquinas e
máquinas virando gente...Nossa conversa é virtual, nosso amor é
virtual, parece ser ideal... se conhecer pelo computador sem se ver,
até intimidade ter, já pode acontecer...choramos via internet
lágrimas que não comovem...Por isso, vamos largar o mouse, sair do
chat, dos blogs e olhar nos olhos, apertar a mão um do outro, sorrir
e ver o sorriso refletir nos olhos das pessoas. Vamos reiniciar nosso
computador, sentir a paz da emoção, navegar através das windows do
vento, explorar os atalhos do prazer...Vamos passar anti-vírus na
mentira, na falsidade, no egoísmo, limpar a lixeira do ódio, do
rancor, do medo...Vamos usar todas as ferramentas disponíveis para
imprimir nas pessoas a humanidade, a humildade e acima de tudo o
amor, porque esse é o nosso computador...Que pensa, sente, se
emociona e é feliz. Esse computador não é lógico. Ele chora,
sorri e se entristece. É programado para ter sentimentos, sonhar,
ter amigos, amores, conversar, não pela internet...Não vamos
ressetar tudo isso e nem excluir a poesia da vida, as flores da
primavera, as estrelas de uma noite de luar, porque vale a pena ser
humano, tocar, sentir, pensar, viver...que o virtual nunca ultrapasse
o real...é Meu desejo...
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