Seguia
para mais um dia de trabalho, e como sempre, em meio a uma multidão
apressada que era preciso muito cuidado para caminhar e evitar as
possíveis trombadas corporais. Alguns metros a minha frente, uma
cena contrastava com aquela correria. Uma jovem seguia cautelosa em
passos milimétricos e comedidos se equilibrando sobre um sapato de
salto alto fino, que com certeza, ultrapassava os dez centímetros de
altura. Não havia quem por ela passasse que não direcionasse o
olhar para os seus pés. Tanto a maneira de andar como os sapatos
chamavam a atenção. Era preciso caminhar com muito cuidado em razão
da irregularidade das calçadas e o salto alto fino constantemente a
desequilibrava.
Estava
evidente que aquela não era a sua maneira normal de andar, mas em
virtude do salto alto do sapato e para manter o charme e a elegância
da moda, era preciso uma boa performance no caminhar. Ainda foi
possível ouvir um gracejo que lhe foi dirigido: desce do salto
menina...alguém comentou ao passar por ela. Ao ouvir essa frase
e se virando para ouvir de onde partiu, ela quase se desequilibrou,
foi necessário um jogo de cintura repentino para se manter em pé.
Segui pensando na realidade dessa frase e de como tem pessoas que se
equilibram em um viver de aparência.
A
sociedade em que vivemos nos exige ser o que muitas vezes não somos,
então, para satisfazer as necessidades sociais vestimos a capa da
arrogância, da altivez, da soberba e calçamos os sapatos com salto
alto do orgulho, mas infelizmente nos despimos da simplicidade de ser
apenas o que somos. Não quero com isso de maneira nenhuma julgar
essa mocinha. Mas passamos a ter um olhar fixo somente em alvos,
metas, objetivos, não que isso seja ilícito, mas não podemos nos
descuidar se não quisermos correr o risco de cair repentinamente.
Por essa razão não conseguimos vislumbrar a paisagem em nosso
caminho. É de suma importância que tenhamos tais objetivos na vida,
mas, jamais devemos deixar de olhar os lírios do campo, o por do
sol, o canto dos pássaros, o sorriso de uma criança, ou seja, é
nas coisas simples da vida que reside a felicidade.
Caminhamos
pelas calçadas esburacadas da vida tentando nos manter em pé
saltando os obstáculos em nossa frente, mas com salto alto é muito
arriscado, a queda pode ser iminente. Se quisermos conquistar o
mundo, sem o salto alto fica melhor, caso contrário não
percorreremos nem mesmo as alamedas da nossa mente. Tropeçaremos na
mentira, na falsidade, na inimizade e até mesmo a inveja pode
impedir nosso caminhar. Essa jovem, embora caminhasse cautelosamente,
era por todos ultrapassada por não usar os sapatos adequados para o
terreno. Assim é o nosso viver, pensei, e aprendi uma lição, pois,
embora alcancemos o pódio, se for de maneira inadequada, não
conseguiremos nos manter lá no alto e com isso a descida será muito
mais veloz do que foi a subida.
Não
importa se a nossa estrada da vida seja cheia de obstáculos,
esburacada, com aclives e declives, se estivermos usando o veículo
adequado ela será uma aventura, um espetáculo agradável e de final
feliz...
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