sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Falsebook

Era o dia do aniversário do João e sua mãe havia preparado a festa no salão do condomínio onde moravam, com muito carinho, afinal, o filho estava completando 21 anos, a maioridade precisava ser comemorada. A mãe estava eufórica, aguardava com ansiedade a presença dos amigos, aliás, segundo ouvira falar, eram muitos amigos, quase 300, gabava-se João e ela não queria decepcioná-los. A festa estava pronta, os parentes que a mãe convidou começaram a chegar. O irmão e a irmã mais novos já estavam com alguns amigos se divertindo, faltava apenas o aniversariante. O pai estava apreensivo, nunca pensou que o filho tivesse tantos amigos, aliás, João era um rapaz tímido, de pouca conversa, quase não falava em casa. Mesmo assim ele atendeu a solicitação da esposa e providenciou tudo para a festa.
Três amigos de João que moravam no mesmo condomínio também tinham chegado. A mãe mandou chamar o filho que estava no apartamento e como de costume, concentrado no computador. João desceu sozinho, olhou aquela mesa farta e se espantou. Chamou a mãe a parte e indagou-lhe sobre a razão de tanta comida.
É para receber os seus amigos, respondeu sorridente a mãe.
Que amigos? Insistiu espantado João.
Os seus quase trezentos que você vive falando.
João quase caiu.
São amigos virtuais, respondeu, para tristeza da mãe. São amigos de Facebook, concluiu.
Ela não sabia o que falar. Havia preparado uma festa para mais de 300 pessoas e estavam ali cerca de 30. Os três amigos verdadeiros estavam presente e riram quando souberam do equívoco. O assunto na festa girou em torno do Facebook. Um dos dos presentes relatou a vergonha quando percebeu, depois de vários dias, que o seu diálogo com a esposa estava sendo feito via Facebook. Eram recados e até mesmo troca de palavras carinhosas, mas virtual. Era o caso de João, que antes de descer para a festa estava retribuindo os votos de felicitações pelo aniversário por intermédio do Facebook. Estava na expectativa de completar os 300 amigos, faltavam apenas oito, mas o abraço verdadeiro e real ele recebera somente daqueles três presentes em sua festa.
O mundo virtual está invadindo o real de maneira tão assustadora que embora tivesse muitos amigos virtuais, João recebeu apenas alguns abraços e cumprimentos reais, ou seja, somente dos familiares e de poucos amigos que estavam presentes na festa preparada por sua mãe. Essa é a realidade, ou melhor, a virtualidade das redes sociais, onde compartilhamos sentimentos, desejos, sonhos e abrimos o coração para tantas pessoas distantes e desconhecidas, sem nos preocupar com o que vão pensar e nos fechamos àquelas que estão diante de nós, tão íntimos, prontos para nos acolher, entender e ajudar, alguns é claro, como a família por exemplo.
No Facebook alguns se exaltam, outros orgulham-se de seus feitos, compartilham, curtem, cutucam, viajam na tela do computador. Há palavras de criticas endereçadas a pessoas que não gostamos, recados a oponentes amorosos, incentivos aos amigos, elogios às pessoas amadas, etc. Pais e filhos aderiram o Facebook como uma formula ao diálogo escasso da família, com exceções, enfim, estamos gastando mais tempo e investindo nosso ser no mundo virtual. Isso é interessante, relaxante, mas é preciso saber usar com moderação, pois, o que é virtual não pode ultrapassar o que é real. O Facebook nos faz interagir com o mundo virtual, mas não vamos deixar que nos afaste da realidade do tempo presente e nem permitir que se torne em Falsebook, onde pessoas descuidadas se esquecem que estão em um mundo real.


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