terça-feira, 18 de agosto de 2015

O caminho das pedras

Quem não se lembra daquela historinha infantil que nossos avós e nossos pais nos contavam e que vem sendo recontada de geração em geração. É a famosa historinha de João e Maria que para não se perderem na floresta, depois de serem enganados por uma madrasta malvada, soltaram algumas pedrinhas pelo caminho para depois encontrá-lo caso se perdessem. E assim aconteceu, eles acharam o caminho das pedras e novamente estavam felizes por retornarem para casa. Diz um certo adágio popular que nós caímos ao tropeçar nas pequenas pedras e não nas grandes. Essa é a mais pura realidade nos dias atuais. As pequenas pedras estão por todos os caminhos, é preciso estar bem atentos nos caminhos que seguimos para não tropeçarmos em algumas delas. Uma grande parte da população brasileira e mundial já encontrou seu caminho das pedras, o problema é que não sei se esse caminho ou essas pedras, não está levando a se encontrarem depois de perdidos, mas, está levando muita gente a se perder assim que começa trilhá-lo. Esse é o caminho das pedras de crack. É um caminho aparentemente sem volta e muito perigoso. Quando encontra-se uma dessas pedras pelo caminho, dificilmente as pessoas se acham, ficam perdidas, sem noção de quase nada, perdem o verdadeiro sentido da vida, aliás, a vida é o que menos tem sentido e valor nesse momento. O bem mais importante, que é a vida, para quem entra por essa caminho vale simplesmente uma pedra. É um caminho que as olhos parece ser bom, mas seu fim é dos piores, é a perdição, e milhões de jovens estão entrando por ele sendo atraídos e atraindo outros consigo.
É o caminho da loucura, do desespero, do horror, do medo que leva ao fim da vida de maneira tão cruel e rápida. Essas pedras pelos caminhos tem preocupado e tirado o sono de várias autoridades mundiais. O caminho das pedras de crack está assustando a humanidade porque tem atingido proporções gigantescas e está alarmando o mundo de tal maneira que as autoridades estão de mãos atadas sem saber e sem poder fazer coisa nenhuma. É o subproduto da cocaína, uma droga que vicia rapidamente, é barata, e qualquer criança, adolescente, jovem ou adulto pode adquirir com muita facilidade. É impressionante o número de viciados que tomaram o caminho das pedras. Estima-se em mais de 200mil peregrinos por esses caminhos afora, nas cidades brasileiras e a grande maioria, seguem sem encontrar uma placa de orientação para poder retornar. Caminham esfarrapados, disputandos as sarjetas com cães e ratos em busca de alimento. É a dura realidade dos consumidores de crack. Cada cidade grande já possui a sua pedreira, ou seja, sua crakolândia onde o comércio de todos tipos de pedras, não preciosas, são comercializadas a luz do dia e diante dessas mesmas autoridades que não sabem, não podem e muitos não querem fazer nada.
Enquanto eu me pego aqui escrevendo para desabafar, tirar do meu coração uma parte da crueldade da vida que meus olhos diariamente presenciam, milhares de crianças, adolescentes, jovens, meninos e meninas estão desesperados, caminhando, tentando até mesmo vender seus corpos em troca de uma pequena pedrinha. Há inúmeros que já são filhos do crack, nasceram sob as pedras. São jovens em corpos velhos que caminham ao encontro da morte. Não há futuro imediato para grande maioria, vivem a espera de um milagre ou de outra pedrinha. São histórias e mais histórias sem final feliz, de vidas sofridas que foram e ainda estão sendo arrastadas pela correnteza das drogas. As pedras rolam por um caminho sem volta, onde milhares, sem forças, não resistem o caminhar por ele. Tropeçam e caem sem reação diante de uma pedrinha que não é no sapato, mas, no cachimbo. As ciladas e armadilhas nesse caminho estão por todas as direções e os que escapam, carregam sequelas e fissuras inesquecíveis que a qualquer momento podem retornar. Estima-se que os negociantes de pedras de crack faturam um bilhão e quinhentos milhões com o tráfico de pedras.
Os usuários, o público alvo desses homens de negócio, dos empresários do tráfico, o consumidor final, em sua maioria de baixa renda, são enganados mentalmente por um prazer alucinógeno, comparado, segundo dizem alguns psiquiatras, ao equivalente a 12 orgasmos por minuto. É algo incontrolável. Entre o consumo e a ação da pedra no sistema nervoso, leva entre cinco a dez segundos, o que faz uma pessoa ficar viciada rapidamente apenas em uma ou duas semanas, dependendo da experiência do usuário. Da mesma maneira rápida com que leva ao vicio, também é rápida o efeito, que não passa de cinco minutos, daí, a necessidade de frequentes consumo.
E outro dado muito interessante e não menos triste, é que segundo os teraupêutas especializados em toxicologia, não se pode usar remédio para tirar o prazer causado pela pedra de crack porque ele vai inutilizar todos os outros tipos de prazeres, inclusive o sexual. Portanto, é alarmante saber que não existe uma substância que tire o prazer de fumar crack. Por isso, não é preciso percorrer um longo trecho para perceber que esse é praticamente um caminho sem volta, basta alguns passos e logo se tropeça. Mesmo aqueles que caminham acompanhados, seus passos são solitários, não há esperança nem sonho, somente lágrimas e rancores. A depressão pós consumo deixa os usuários irreconhecíveis. Depois da alegria e do prazer, são entregues a uma malimolência física, ao desânimo profundo em nada comparado aos pequenos momentos de euforia anterior.
Apesar de ser algo barato e fácil de se adquirir, o alto preço que a sociedade vem pagando por perdas de vidas humanas prematuramente é muito alto. É preciso reconhecer a incompetência dos governantes, a falta de interesse político, aliás, interesse esse que com certeza deve surgir durante as passeatas e comicios que os futuros candidatos farão, dando solução como em um passe de mágica, com um estalar dos dedos, para esses problemas que corrói a décadas nossos jovens. Mas, também é importante reconhecer a atitude louvável de diversas entidades que lutam sem recursos e desacreditadas, estendendo as mãos para aquelas que estão estendidas clamando por ajuda.
É interessante notar que uma boa parte da ajuda, aquela que realmente chega até os que estão nesse caminho, vem daqueles que já trilharam o mesmo caminho. Por isso, quando ouço os futuros candidatos resolvendo todos os problemas que a décadas assolam a população brasileira antes mesmo de assumirem seus cargos, fico indignado, mas aumenta ainda mais a minha certeza, de que somente Deus pode mostrar o verdadeiro caminho das pedras, o caminho para vida...

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