Estamos
na era da informática, da programação rápida, do just in time, do
on-line, nada de desperdício de tempo pois o mais importante, dizem,
time
is money,
por isso é preciso aproveitá-los da melhor forma possível. O homem
nunca usufruiu tanto dos avanços tecnológicos em busca de uma
melhor qualidade de vida, mas nunca se sentiu tão dependente e
prisioneiro dessa tecnologia como agora. Estamos programando nossas
atividades para os dias seguintes com um simples toque de uma tela do
computador ou em um controle remoto. Tudo tão fácil, rápido e
eficaz como se programa um computador em poucos minutos para ele
trabalhar por nós durante horas sem parar. Nossa vida virou um
programa. Se programa o casamento, o ter ou não ter filho, assim
como o seu nascimento depende de um programa e hoje já pode ser
programado com boa antecedência. O dia do nascimento, a hora, o
signo, tudo é programado por computador, seu futuro, seu destino,
que tipo de doença estará sujeito, enfim, programamos suas
brincadeiras futuras tudo através de um script eletrônico. Viver
atualmente é poder seguir uma programação pré-determinada, um
roteiro onde todos os nossos passos são monitorados. Programa-se o
virtual e ignora-se o real.
Programamos
nossa viagem, nossas tarefas, nosso orçamento, nossas compras, nosso
lazer, nosso amor, nossos desejos, tudo pode ser programado e até
mesmo o sexo virou um programa com hora e dia marcados e seguimos
fielmente a programação. Programamos o nosso final de semana, a
leitura de um livro, a alimentação das crianças, dos cachorros.
Até mesmo se divertir virou um programa. Programamos o nosso
despertar e mesmo quando não despertamos eletronicamente, já
estamos biologicamente programados para despertar sempre no mesmo
horário. Programamos o nosso trajeto até o trabalho ou a qualquer
lugar que formos pelo GPS (global personal system) ou pelo computador
de bordo do veículo e seguimos orientados pelos olhos do satélite.
Programa-se uma oração, duas ou três vezes ao dia, a fé também
já pode ser programada. Programamos Deus de acordo com o nosso
programa. Estamos na era da programação, tudo deve ser programado e
devemos obedecer ao programa. Nos programamos para cumprir a
programação existente. Não fazemos nada que esteja fora de
determinado programa. Os programas existem para nos programar.
Programamos
nossos sentimentos, nossas emoções, nossa vontade como se programa
um aparelho eletrônico qualquer. O sorriso é programado, não
existe mais motivos para sorrir. O futuro está em um microchip.
Programamos o que falar e o que não falar como se fossemos um
computador lógico. Estamos sendo programados para pensar e as vezes,
deixamos de pensar porque estamos programados para não pensar. O que
pensamos já pode ser lido por um programa de computador. O
pensamento está virando relíquia, tudo já vem pronto, programado,
basta seguir as instruções e o modo de fazer. É bom criar um
programa mas não é bom ser criado por ele. É bom usufruir dos
programas quando eles não usufruem de nós. É bom dominar um
programa e não ser dominado por ele. Ao invés de sonhar,
programamos. Sonhar nos impulsiona a viver, nos motiva e nos dá
esperança, é a prova de que estamos vivos. Um programa nos acomoda,
nos corrige, nos atualiza mas podemos deletá-lo a qualquer momento e
substitui-lo por outro mais eficaz. Não nos apegamos aos programas,
eles são frios, mesmo tão capazes. O prazer de tocar, fazer,
manusear está sendo substituído por um cd-room.
O
que falar da dieta programada, onde programamos nossas refeições
caseiras por programa de computador. Aperta-se uma tecla, e num click
a nossa refeição é elaborada por um programa de computador em
medidas programadas. As refeições já podem ser impressas como
qualquer arquivo em impressoras em questão de segundos. Basta
programar. Nossa moradia é vigiada a distância por programas de
seguranças que controlam desde a intensidade de uma lâmpada até
quem entra e quem sai. O sistema lógico das máquinas estão
ganhando sentimentos. Máquinas estão virando gente e gente virando
máquinas. É impossível vivermos sem acompanhar uma programação.
Será?Tudo pode ser programado para facilitar a nossa maneira de
viver e ajudar na qualidade de vida, mas, isso nos tem ajudado? Em
breve tempo estaremos programando o sorriso, a alegria, a felicidade,
o prazer, tudo ao simples toque do mouse, em um click. Será possível
programar as emoções, deletar o medo, o estresse, a angústia, a
ansiedade? É imaginável andarmos cheios de microchips no cérebro
comandando cada sentimento nosso. Estamos virando robôs. A realidade
se aproxima da ficção em passos largos. Os humanoides podem estar
ao nosso lado e não percebemos. Eles estão mais sensíveis do que
os humanos. Sensíveis ao toque, ao cheiro, e isso tudo comandado por
programas baseados na mente humana. A inteligência artificial já é
moda entre os cientistas. O nosso multi-processador humano mental,
nosso cérebro, está sendo monitorado por programas de computador e
está sendo decifrado em soluções algorítmicas lógicas, ou seja,
em linguagem de computador. Estão sugando nossas virtudes humanas e
adaptando-as às máquinas. O nascimento, viver e morte do ser humano
já é programável.
O
que falta programar? Será que é possível ao homem programar o sol
para que ele brilhe na mesma intensidade todos os dias e para que não
se afaste e nem se aproxime da terra nenhum grau para não causar
calor infernal caso se aproxime ou geleira glacial caso se afaste?
Quem poderia programar a distância entre a lua e a terra para que
ela também não se afaste evitando com isso inundações e variações
climáticas gigantescas? Quem humanamente falando poderia programar a
terra e a sua velocidade de milhares de quilômetros por hora
atravessando o espaço e girando em torno de si mesma através do
sistema solar, sem nunca colidir com nenhum outro astro em sua
trajetória? Quem poderia programar a direção dos ventos, as rotas
dos pássaros pelo ar? Quem poderia programar as estrelas e os
planetas para que se mantenham firmes no universo? O mesmo que
programou a nossa máquina humana e a chamou de homem. Deus.
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