Em
um determinado final de semana enquanto me divertia com a minha neta
pelos quartos, sala e cozinha do meu pequeno apartamento, brincando
de se esconder para que ela me achasse e vice-versa. Eu contava
um...dois...três e perguntava se já podia sair à sua procura. De
onde ela estivesse gritava ainda
não...ainda não...Somente
quando encontrava um lugar, que ela acreditava estar invisível, é
que, com um novo grito dava a autorização...pode
vir...Eu
passava por ela diversas vezes, mesmo que estivesse escondida atrás
da cortina com os pés aparecendo, ou atrás de um móvel qualquer,
mas propositadamente eu não a via e depois de alguns minutos
procurando por ela, quando a encontrava, ela corria aos meus braços
e soltava o mais lindo sorriso, digo, gargalhada que existia. Depois
de certo tempo brincando com ela, enquanto descansava, porque, haja
fôlego para tanto corre-corre, assistia a um programa na tv, cuja
reportagem mencionava uma controvérsia entre os moradores de uma
cidade do interior por causa da troca de roupa de um santo na igreja.
O
santo tão discutido era o São Longuinho, aquele em que quando as
pessoas perdem algum objeto, oferecem-lhe três pulinhos, e, segundo
a crença, o objeto é encontrado. Eu jamais pensei que esse Santo
houvesse existido de verdade. Para mim, não passava de pura crendice
popular. Segundo a reportagem, e eu aqui não afirmo nada, mas fui
conferir o que fora informado, era o centurião (e por incrível que
pareça, a maioria dos santos foram soldados ou personagens romanos)
que com uma lança, furou o lado de Jesus na cruz para certificar se
ele realmente havia morrido. A sua imagem é retratada empunhando uma
longa lança na mão direita. Há outra crendice que reza que ele era
de baixa estatura, quase anão, daí a origem irônica do nome
“longuinho”
usada pelos seus contemporâneos e que não era nada santo. Existem
outras longas histórias a seu respeito. Esse santo é bom mesmo?
perguntou o repórter à zeladora do templo. É sim, respondeu ela,
as vezes não dá tempo nem de contar até três e já encontramos o
que queríamos.
Ambos
sorriram e o repórter encerrou a matéria. Pessoas, objetos e tantas
outras coisas, quando encontradas lhe são tributados alguns pulinhos
e há pessoas que ainda acrescentam alguns gritinhos como algo a mais
ao santo, do tipo achei...achei. O retorno é imediato quando se
confia no santo alega o povo nas cidades interioranas. Hoje com o
surgimento da internet, São Longuinho perdeu e muito o seu crédito.
Se alguns dias atrás eu contava calmamente até três, dando tempo
suficiente para que a minha neta se escondesse até se achar
invisível, hoje, como disse a zeladora do templo ao repórter, não
dá tempo de contar até três ou dar os três pulinhos e logo se
encontra o que se procura. São Longuinho precisa entrar na era
on-line, do just in time para não cair na descrença popular de uma
vez. Os sites de buscas estão cada vez mais rápidos é só clicar
um...dois... três e pronto...achei, podemos exclamar de
contentamento.
Empresas
já usam a imagem do santo longuinho como sinônimo de retrocesso, ou
seja, usa-se o produto que a empresa oferece, ou continua dando
pulinhos e gritinhos esperando pela ação do padroeiro das coisas
perdidas. Acho que ao invés do povo ficar debatendo sobre a mudança
de roupa do santo, está na hora de criar um site como
saolonguinho.com
para
que ele possa encontrar as coisas com maior rapidez e facilidade.
Depois de parar uns minutinhos para ver a reportagem, voltei a
brincar com a minha neta, e dessa vez era eu que me escondia. Ela
contava um, dois, três com uma rapidez incrível e logo corria ao
meu encontro. Ela estava na velocidade da internet e eu na do são
longuinho. Enquanto a sua velocidade era de cem megabites por
segundo, a minha era de cem kbites. Ela estava on-line e eu com queda
de sistema.
Hoje, objetos e coisas ficaram
mais fáceis de serem encontrados, mas as pessoas estão cada vez
mais perdidas, digo isso em razão de que havia tanta gente na
paróquia celebrando o dia de São Longuinho que nem pulinho as
pessoas davam agradecendo por algo que tivessem encontrado, por falta
de espaço. Por essa razão, meu caro São Longuinho, não o
desmerecendo por tantos anos de serviços prestados à comunidade, me
perdoe por pensar dessa maneira, mas atualmente, a internet é
fundamental e mais rápida...achei.
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