quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Guerra dos sexos

Na semana passada uma pesquisa deixou muita gente perplexa ao revelar o que passa pela cabeça dos brasileiros. O resultado surpreendente apresentado mostrava que 65% dos entrevistados (público masculino) afirmaram que mulheres que usam roupas curtas, são merecedoras do assédio masculino. Se para um bom entendedor meia palavra basta, pode-se concluir que essa esmagadora maioria culpa as mulheres pelos assédios, estupros e violência sexual que sofrem. Não sei se foi mencionado o grau de cultura que os entrevistados apresentavam, mas, não posso aceitar que essa pesquisa demonstre o verdadeiro pensamento de homens adultos, pais de família, que tenham esposas, filhas ou irmãs que possam um dia enfrentar situações desse tipo, causada por homens que pensam dessa maneira como os entrevistados. Provavelmente seja o pensamento de jovens com os hormônios a flor da pele, descomprometidos com a sociedade em que vivem.
Não sei, mas é assim mesmo a natureza masculina, que para justificar suas ações, transfere a causa e o efeito, a consequência e a culpa de seus atos para terceiros, e na maioria das vezes, para as mulheres. Foi assim desde o jardim do Éden, que segundo consta nos relatos bíblicos, ao ser por Deus questionado sobre o que havia acontecido, o homem, claro, imediatamente se isentou de sua responsabilidade, jogando a culpa em sua auxiliadora e no próprio Deus alegando que: foi a mulher que me destes – disse ele. Não posso me permitir ser incluído nesses 65% nem mesmo concordar que roupa curta feminina seja motivo para assédios mais afoitos da parte masculina. Em alguns países ultraconservadores, onde as mulheres vivem cobertas dos pés à cabeça, os índices de estupros também crescem ano a ano, e olha que em alguns deles, a pena capital é permitida.
A maneira de se vestir feminina, se desprovida de modéstia ou do bom senso, jamais pode ser motivo e causa da insanidade praticada por atos bestiais masculinos. Por essa razão, algumas mulheres descontentes com o resultado das pesquisas, resolveram protestar tirando a roupa. Com placas, cartazes e com dizeres pintados nos corpos, expressavam que não mereciam ser estupradas. Na verdade, ninguém merece. Com pouca ou muita roupa, é crime tal atitude, estupro ou relação sexual sem o consentimento da mulher e efetuado com o uso da força, por constrangimento ou por intimidação, é atentado ao pudor, portanto, é crime. Até mesmo a nossa presidenta (como ela gosta de ser chamada) repudiou o resultado da pesquisa e foi solidária com as manifestantes.
A onda de ataques às mulheres tem alcançado índices alarmantes. Nessa mesma semana, uma rádio de grande alcance em audiência, veiculou em sua programação, uma frase em que o apresentador dizia que no Metrô lotado era um bom lugar para o xaveco. Com essa divulgação, tanto homens como mulheres, que não se encaixam nesses moldes de promiscuidade, protestaram também. Elas dizendo que com isso, o assédio que já possui um alto índice nos trens lotados, ficará pior por parte de homens que pensam como os da pesquisa. E eles alegam que dessa maneira, todos agora passam a ser suspeitos ao se aproximar de uma mulher, o que é impossível nos trens lotados, mesmo sendo de opinião totalmente contrária as dos entrevistados. Enquanto nas redes sociais os homens promovem e até mesmo filmam tais atitudes, as mulheres se defendem como podem.

O estupro, o assédio, a violência e abuso sexual em suas mais variadas formas contra as mulheres, antes de mais nada, e longe de ser instinto masculino, é um desrespeito, que pode gerar traumas irreparáveis. A guerra entre os sexos foi declarada. Por toda parte milhares de mulheres tem postado nas redes sociais testemunhos de agressões embora muito bem vestidas. A situação cria debates e polêmicas prós e contra. Por enquanto, não há vencidos nem vencedores, mas pode haver respeito, educação, caráter e muito bom senso nessa eterna guerra dos sexos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário