Durante
a exibição de uma reportagem que mostrava a tristeza e a
dificuldade enfrentada pelos moradores na região serrana do Rio de
Janeiro, onde aconteceu a calamidade das enchentes, uma cena em meio
a tanta desolação sobressaiu das demais. Uma senhora chorando por
haver perdido tudo o que possuía, mostrou à repórter suas mãos
calejadas por décadas de trabalho e agora perdia tudo tão
rapidamente. Foi surpreendente a reação da jornalista, que
demonstrou o sentimento da maioria dos que provavelmente assistia a
reportagem, a solidariedade. Simplesmente, em uma reação
inesperada, diante das câmeras ela abraçou aquela senhora e com os
olhos lacrimejantes, encerrou sua reportagem. As mãos daquela
senhora mostravam a dureza da vida que muitas vezes encontramos para
conseguir algo e em alguns casos, como esse por exemplo, essas mesmas
mãos não são e não foram capazes de segurar e impedir que tudo se
acabasse em alguns minutos. Com as mãos calejadas, muitos moradores
apenas conseguiam enxugar suas lágrimas e as juntavam direcionando a
Deus uma prece juntamente a um pedido de socorro. Eram mãos
desesperadas em busca de salvação que se apegavam ao nada.
Com
as mãos calejadas, a ajuda na remoção de escombros era realizada
por incansáveis voluntários. A solidariedade chegava pelas mãos de
crianças e adultos cheias de mantimentos, roupas, água, remédios e
principalmente encorajamento, para, com mãos fortes, o povo lutar
novamente pela sobrevivência. Os amigos, vizinhos ou desconhecidos,
estendiam as mãos oferecendo abrigo, a casa, o coração. As mãos
calejadas dos destemidos bombeiros também ficaram soterradas no mar
de lama que desceu dos morros enquanto as mãos divinas pareciam que
por um momento deixaram de segurá-los e rolaram arrastando tudo e
todos pela frente. Pelas mãos do improviso, da vontade de ajudar,
pontes eram reconstruídas e outras mãos ajudavam na triste
travessia. Por mãos voluntárias os mortos eram carregados e pelas
mãos dos parentes os entes queridos eram sepultados. Com as mãos
feridas muitos tentavam amenizar a dor dos outros enquanto alguns se
aproveitavam dela.
Mãos
que dividiam o pão, o prato, o leito, e que repartiam com cada mão
estendida um pouco de amor, eram as mesmas que imploravam aos céus
pela intervenção divina. As mãos dos que contabilizavam o número
de mortos, eram as mesmas que tremiam diante da face da morte sem
saber onde acomodar tantos corpos. Com mãos hábeis, os pilotos em
suas incontáveis idas e vindas, arriscavam suas vidas na tentativa
de pousar seus helicópteros em pequenos espaços, ou até mesmo,
pairando-os no ar, demonstrando uma grande compaixão com os
desabrigados que muitos receberam, assim como os bombeiros, o título
de heróis, e realmente o foram. Resgataram vidas, amenizaram o medo,
o sofrimento e aos desesperados mostraram uma saída, orientaram os
perdidos, choraram a dor dos que choravam, mas, acima de tudo,
entregaram a esperança, a fé e a coragem para se continuar lutando.
Era preciso remover as pedras para renovar os sonhos, reconstruir
primeiro a vida para reconstruir as casas.
Com
as mãos trêmulas as pessoas procuravam nas listas pelos nomes dos
parentes, não sei se querendo ou não encontrá-los. Se os
encontrassem, estariam mortos, casos contrários, desaparecidos. Qual
seria a pior dor? Continua sendo das autoridades que encolhem suas
mãos quando precisam estendê-las. Pelas mãos calejadas, aquela
senhora agradecia por estar viva e que elas lhes serviriam para um
novo recomeço. A jornalista, que com seu microfone em mãos
informava o número de mortos que crescia, a dificuldade de ajudar as
pessoas encontradas pelos bombeiros e voluntários, o desespero de
familiares sem notícias dos parentes e os valores que seriam
empregados nas reconstruções das cidades atingidas. É possível
segurarmos muitas coisas em nossas mãos em no momento seguinte
podemos perdê-las todas, mas, jamais perderemos o que confiamos às
mãos de Deus. Só espero que as autoridades não fiquem com as mãos
calejadas de tanto contar dinheiro e que este não chegue às mãos
daqueles que realmente precisam...
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