quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O fotógrafo

Nesse feriado prolongado, troquei o cinza da cidade pelo verde dos campos. Sai apressado com receio de enfrentar congestionamento, mas não esqueci a minha máquina fotográfica. Queria registrar todos momentos, principalmente das crianças correndo, dos pássaros em suas revoadas que parecia sem direção, as flores, os animais, os rios, enfim, queria ver a natureza em seus caprichos divinais por outro ângulo, o da minha câmera. Como gosto de espontaneidade, fotografei o que via pela frente, de bois nos pastos ao por do sol. Era possível ver na máquina, embora em tamanho reduzido o resultado das fotos. Quanta beleza! Na volta, quando fui apreciar a minha obra prima, que decepção! O que era belo, poderia ser mais belo ainda se não fosse o fotógrafo. As fotos estavam tremidas, embaçadas, escuras, fora de foco, cortadas. Culpei a máquina, mas não teve jeito, o restante da família me escolheu como réu. Pensei até fazer um curso de fotografia para na próxima vez não passar por esse vexame novamente.
Lembrei-me dos fotógrafos e em especial de uma amiga que é fotógrafa. Em questão de segundos fotografei em minha mente a tradicional, clássica e imortal pose para a foto da família na praça, registrada pela lente do lambe-lambe. É inesquecível aquele homem com a cabeça coberta dentro de uma caixa registrando o cotidiano das pessoas nas praças. Quase todas as famílias possuem uma foto antiga. Algumas pessoas fazem desse momento, quando observam uma dessas fotografias, a única maneira de relembrarem o passado. Fui do lambe-lambe aos mais modernos fotógrafos. Percebi que o que foge do alcançe da mídia convencional, pode ser registrado pelo olhar atento de um fotógrafo através de sua câmera. Aquilo que nossas retinas não puderam fotografar, não escapam dos seus olhos atentos. Muito embora nossos olhos não tenham visto, nossos ouvidos não tenham ouvido, ainda assim nosso coração pode sentir a emoção captada através de uma bela fotografia. Era isso que eu queria reproduzir em minhas imagens do campo, mas somente eu poderia ver, pois as fotos não saíram como eu esperava.
Valorizei esses profissionais e seus dons especiais, principalmente essa minha amiga que sabe como ninguém extrair com rara sensibilidade, a beleza e a espontaneidade dos momentos únicos de pessoas quando registrados em milésimos de segundo, mas que contém a expressão da vida. Em cada click é possível imaginar a alegria e a felicidade do fotógrafo ao flagrar como por um encanto, o bater das asas de um beija-flor, um sorriso de uma criança descontraída ou mesmo seu olhar quando faminta onde as expressões falam da necessidade ou revelam um momento com muita naturalidade. É possível perceber a alma do fotógrafo ao captar imagens do sol em seu ocaso em uma vermelhidão indescritível por detrás de árvores permitindo que o reflexo viaje tranquilo nas águas de um rio. Comemorações particulares ou públicas, eventos, lugares, pessoas em diversas atividades e reações. Imagens surpreendentes, emocionantes, inesquecíveis e acima de tudo, extremamente belas são extraídas das lentes das câmeras dos fotógrafos.
Eles estão sempre a postos aguardando pacientemente como um bom pescador o momento exato do
big bang para o seu click. A vida e a morte, a alegria e a tristeza, a lágrima e o sorriso, o medo e a descontração, o cômico e o trágico, o simples e o complexo, o previsto e o imprevisto todas essas expressões e sentimentos caminham lado a lado, de mãos dadas a espera de um click. Não importa o lugar, se no campo ou na cidade, em casa ou na rua, em festas, cerimônias, confraternizações, palestras, jogos, eventos e brincadeiras, seja o que for e onde for, a razão de fotografarmos encontra-se diante de nossos olhos. Tudo o que os nossos olhos contemplam permite uma bela foto, depende apenas do ângulo e um pouco do fotógrafo. O mundo é o cenário e a vida inspiração. Mesmo se não tivermos uma câmera em nossas mãos, é possível fotografar as coisas simples e belas como os lírios do campo, o abraço dos pais nos filhos, a felicidade de um encontro, a ternura de um olhar, um gesto de amor e tantas outras coisas. Sei que todos nós temos esse dom conosco, mas ainda é preciso aperfeiçoá-lo. Gosto muito de fotografar, mas como é bom ser fotografado pelas retinas daqueles olhos lindos que me esperam quando volto para casa no final do dia. Cena imperdível, além da imaginação onde somente eu fotografo...

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