quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O sofá

Ele faz parte da família, ouve e participa de todos os momentos alegres ou tristes. É em sua presença que desabafamos as nossas preocupações e procuramos aliviar as ansiedades. Em todos os momentos, quando traçamos os planos para o futuro, o planejamento, o orçamento familiar, enfim, ele é como um membro real da família, sempre pronto a nos ouvir. Todos os dias está a nossa disposição. Quando estamos cansados, nos soltamos sobre ele para nos esvaziar das tensões diárias e muitas vezes adormecemos confortavelmente reclinando a cabeça sobre seu braço. Se felizes, também dividimos em sua presença um pouco da nossa felicidade. Sem ele em nossa casa, ela se torna vazia e sem graça que certas coisas que fazíamos fica sem sentido e perde o interesse de serem feitas, como assistir televisão por exemplo, sem ele não tem a menor possibilidade, além de ser desconfortável. Os anos passam mas ele continua o mesmo, um pouco mais desgastado pelo tempo por causa das crianças que pulam em seu colo, em seus braços, fazem dele um cenário para as suas brincadeiras, mas ele nunca reclama, fica inerte como se aprovando toda as peraltices das crianças. Jogam-lhe água, deixam cair suco, café, refrigerante, leite, comida, biscoitos, mas ele nunca se altera, continua recebendo todos de braços abertos.
Quando chega uma visita por exemplo, é ele que os recebe e os acomoda em seu colo oferecendo o conforto do nosso lar à pessoa recém chegada. Ele está no centro da casa. Para onde olhamos podemos avistá-lo, ali, majestoso, pronto para dar o seu aconchego e nos fazer relaxar. Quantas vezes não tenho vontade de sair do lugar que ocupo e fico horas e horas sentado, lendo ou escrevendo e desfrutando de sua agradável companhia. Constantemente disputamos um lugarzinho até em seus braços pois o pequeno espaço que ele reserva para cada um membro da família não é suficiente para todos e as vezes fica ocupado com a família inteira que nos acolhe sem nenhuma reclamação em seus braços macios. Eu, assim como outros integrantes da família, já temos o nosso lugar de preferência em seu colo. Almoçamos, jantamos, lemos, conversamos, enfim, fazemos diversas atividades, ou as vezes nenhuma, em seu colo. Não sei se existe alguma família que não tenha pelo menos um em sua casa. Algumas têm dois ou até mais.
Parece o nosso paizão, por qualquer motivo, corremos logo para o seu colo. Se queremos conversar algo muito importante com alguém, o convidamos para sentar, se for algo triste como dar uma noticia não muito agradável, trazemos a pessoa que deve ouvir, para que relaxe um pouco em seu colo e depois damos a notícia. Ele é o nosso divã familiar. Depois de um dia cansativo de trabalho, ao chegar em casa me sento nele para ouvir os relatos da esposa sobre os filhos e os netos. Depois de um banho relaxante, me sento novamente e agora confortavelmente e assisto as notícias e programas na televisão e até adormeço reclinando a cabeça em seu braço. Sem ele não sei como seria o nosso cotidiano. Pela manhã, aos domingos, já acordo e volto a cochilar em seu colo para completar o sono da noite anterior. Só o trocamos por outro da mesma espécie e depois de alguns anos fazendo parte íntima da família, mesmo assim, depois de algumas tentativas de reforma se for possível. Assim como algumas coisas importantes em nossa vida que não podemos abrir mão de tão cruciais que são, também não podemos abrir mão de ter uma casa sem ele, não sei como seria o nosso viver sem a sua presença. A casa ficaria faltando alguma coisa.
Como é gratificante ver uma criança deitada sobre ele, dormindo depois de um período de muita brincadeira, é como aquela tradicional cena de um anjo descansando sobre as nuvens. Como é bom ver a esposa em seu momento de descontração lendo um livro bem acomodada sobre ele e os filhos assistindo filmes, os familiares, parentes e amigos conversando descontraídos. Cenas de grande beleza são proporcionadas em sua presença. Também é nele que eu me vejo refletindo e compartilhando sobre meus problemas e dificuldades. É nele que nos sentamos muitas vezes para agradecer a Deus pela vida, pelos filhos e netos e também pelos irmãos, pelos amigos e por todos que nos são queridos. Sem ele fica muito difícil de imaginar essas cenas dentro de minha casa.

Ah! se eu pudesse, agora mesmo estaria descansando em meu sofá...

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