Certo
tempo atrás, cerca de aproximadamente uns três anos, li uma crônica
que descrevia com grande maestria uma cena que ocorreu em um
coletivo. Narrava o escritor que seguia para sua residência em um
coletivo, quando observou uma garota, muito bonita por sinal, disse
ele, comendo pipoca. Até ai nada de anormal, mas, seus gestos
delicados e a maneira como degustava sua pipoca despertou nele o
desejo de também saboreá-las. Ele a observava de soslaio
interiormente com vontade de solicitar algumas pipocas mas temia
receber um sonoro não e se conteve apenas a observá-la. Em certo
momento ele a encarou com firmeza, com olhar de cão pedinte, mas
nenhuma reação por parte da garota que continuava degustando sua
pipoca docemente e depois desceu deixando-o com o gosto da pipoca na
boca sem, portanto, saboreá-la. Quando li, me coloquei em seu lugar.
Ainda
hoje quando me deparo com alguém comendo pipoca ou mesmo quando meus
filhos estouram pipoca em casa, eu me lembro dessa crônica, como já
disse, escrita com muita maestria. Algo do gênero aconteceu comigo,
somente o produto consumido e a personagem eram diferentes. Seguia em
meu caminho de volta para casa, o qual já faço, se possível fosse,
até de olhos vendados, quando, depois de esperar o terceiro ônibus
para poder embarcar com segurança e encontrar um lugarzinho para
sentar, finalmente relaxei. Enquanto as pessoas entravam, eu já
estava sentado ao lado da janela observando todo o movimento lá
fora. Depois de alguns minutos e de um empurra-empurra descomunal
para que todos se acomodassem, no horário determinado, o motorista
partiu.
Algumas
pessoas seguiam em pé com seus fones de ouvido, alheias ao som de
conversas e de buzinas. Outras, que mesmo em pé, cochilavam tentando
afastar um pouco o cansaço depois de um dia de trabalho. Todos
pareciam que ansiavam pelo aconchego do lar. Os que estavam sentados,
eram solidários e seguravam bolsas e mochilas daqueles que se
acomodavam em pé. De repente, depois de completamente lotado o
coletivo, se aproximou um rapaz de boné na cabeça, mochila nas
costas e trazendo um saco plástico nas mãos que logo se acomodou em
um pequeno espaço bem próximo de mim. Imediatamente, com um pequeno
esforço por causa das pessoas a sua volta, tirou a mochila das
costas e a colocou no assoalho do ônibus entre as pernas, abriu um
saco plástico, puxou outro de dentro, rasgou-o com a força de um
leão, pegou um pedaço de bacon e com a fome de um urso, deu uma
mordida que todos ao redor ouviram o crooofit...crooofit...de suas
mordidas.
Foi
então que me lembrei da crônica da garota comendo pipoca. Enquanto
ela, sentada, gestos delicados, saboreava sua pipoca docemente a
ponto de por água na boca do escritor, esse rapaz estava em pé e a
cada voraz mordida, um senhor que estava sentado olhava para cima
temendo que caísse farelos de bacon em sua cabeça. As pessoas, até
mesmo as de fone nos ouvidos, algumas os retiraram para se certificar
de onde viera aquele barulho. Os olhares se cruzavam, os sorrisos
ficavam contidos e ninguém manifestava palavra alguma, apenas ouviam
o crooofit...crooofit das mordidas enlouquecidas do rapaz que não se
importava com nada. Era um rapaz simples que aparentemente não
estava nem um pouco preocupado com o preço do dolar, do euro, do
barril de petróleo, muito menos queria saber sobre as ogivas
nucleares do Irã ou da Coréia do Norte, preocupava-se apenas em
comer o seu bacon. Diante
dessas duas atitudes, pude perceber que a verdadeira satisfação
está nas coisas simples da vida. Enquanto uns e outros olhavam
aquela cena com certa reprovação, confesso que assim como o
escritor acima mencionado, eu, que não costumo me alimentar com
esse tipo de produto, despertou-me o paladar.
Ao contrário do escritor que temia receber um sonoro não caso pedisse um pouco de pipoca, eu tinha a certeza que o meu pedido seria atendido, mas em nome de uma aparente discrição e vergonha não o fiz. Depois de certo momento de viagem ele sentou-se a meu lado e ofereceu-me uma porção do bacon, eu agradeci e recusei a oferta. Diferentemente do escritor que queria a pipoca, eu recusei o bacon, a garota saiu e o deixou saboreando a pipoca mesmo sem come-la, eu sai e deixei o rapaz saboreando o restante do bacon ainda com mesma voracidade do início. Segui para casa lembrando-me das palavras do Mestre dos mestres que dizia: nem só de pão viverá o homem...mas também de pipoca, bacon, salgadinhos...completei e sorri para mim mesmo. Ainda com o cheiro e o gosto do bacon, que mesmo sem provar, podia saborear, fiquei aguardando o jantar, que para minha surpresa, não tinha bacon....
Ao contrário do escritor que temia receber um sonoro não caso pedisse um pouco de pipoca, eu tinha a certeza que o meu pedido seria atendido, mas em nome de uma aparente discrição e vergonha não o fiz. Depois de certo momento de viagem ele sentou-se a meu lado e ofereceu-me uma porção do bacon, eu agradeci e recusei a oferta. Diferentemente do escritor que queria a pipoca, eu recusei o bacon, a garota saiu e o deixou saboreando a pipoca mesmo sem come-la, eu sai e deixei o rapaz saboreando o restante do bacon ainda com mesma voracidade do início. Segui para casa lembrando-me das palavras do Mestre dos mestres que dizia: nem só de pão viverá o homem...mas também de pipoca, bacon, salgadinhos...completei e sorri para mim mesmo. Ainda com o cheiro e o gosto do bacon, que mesmo sem provar, podia saborear, fiquei aguardando o jantar, que para minha surpresa, não tinha bacon....
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