Chegamos
ao século XXI de maneira rápida e assustadora. Algumas décadas já
ficaram para trás e parece-nos que apenas poucos dias se passaram.
Relembramos personalidades que se foram a vinte ou trinta anos, como
se até pouco dias atrás eles estivessem vivos entre nós. O tempo
passou e não vimos, afirmamos constantemente. A humanidade está
sendo conduzida em uma velocidade tão grande que passamos sem
perceber por determinadas circunstâncias, que quando damos por
conta, não notamos que os nossos filhos cresceram. Nessa vida
agitada não paramos mais para apreciar a beleza das flores, não
falamos e nem ouvimos o bom dia dos vizinhos, não abraçamos mais
nossos entes queridos, assim como, não nos importamos com as coisas
simples e belas da vida. Sorrimos cada dia menos e trabalhamos cada
dia mais. Nossa mente se perde na velocidade dos pensamentos,
procurando a maneira exata de resolver os problemas da vida. E quanto
mais pensamos, mais eles, os problemas, se acumulam. Viver é saber
administrar os problemas oriundos dessa vida agitada.
Mas o
preço está muito alto e o resultado desse avanço tecnológico, que
era para oferecer uma melhor qualidade de vida para o homem, o está
deixando cada vez mais estressado e ansioso. Digo isso por uma
simples razão. Eu, que já me disseram ser muito “zen”,
o que fora recebido como um elogio em virtude da vida agitada que
atravessamos, de repente, me achei lutando contra o computador que
estava demorando alguns eternos segundos para completar um processo.
Percebi então que a minha paciência não passava desses míseros
segundos. A agitação da vida havia corrompido a minha breve
paciência de muitos anos e me conduzido, sem que eu notasse, pelos
caminhos de uma mente rápida e intranquila. Ao notar que estava
perdendo a paciência por causa de alguns insignificantes segundos de
espera diante do computador, parei tentando encontrar o exato momento
em que o elo, entre a serenidade de um viver harmonioso e a agitação
de uma mente desequilibrada havia se rompido.
O susto foi enorme quando descobri que isso não era somente um
privilégio meu, e sim, até mesmo dos meus netos, que ainda crianças
haviam sido atingidos pelos bombardeios tecnológicos que já
usufruíam. A internet, o celular, que foram criados para o bem, se
tornou em um mal. A vida on-line plugada no mundo com todos os seus
derivados, havia tomado o lugar das conversas à mesa, do abraço do
filho, do beijo na esposa, das palavras de gratidão e de cortesia
que desapareciam nos lares. E o que era muito pior, os remédios e
até mesmo os antidepressivos, para diminuir um pouco a agitação da
vida, se acumulavam em ritmo acelerado entre as prateleiras
domésticas.
Foi
então que senti saudades do olhar sincero da amizade, da gentileza,
do sorriso largo, do colo e do conforto carinhoso da mãe, do calor
da mão amiga, das palavras românticas fruto de um coração
apaixonado, das brincadeiras movidas pela inocência, pureza e
simplicidade das crianças, esse era o elo rompido que havia ficado
no passado não muito distante. Era preciso recuperar o tempo, voltar
a ser “zen”,
dormir tranquilo, planejar a vida sem ansiedade, viver em harmonia
com a natureza e em paz com Deus e com os semelhantes. Deixei o
computador de lado, sai da internet, parei na contramão do mundo,
atravessei sua correnteza rumo a felicidade. Naveguei pelas águas da
vida que nasce da fonte celestial e vi que diante da turbulência em
que vivemos, olhar os lírios dos campos apazígua a mente, amar e
ser amado diminui o stress, gargalhar com as piadinhas infantis
refrigera a alma, escrever uma poesia faz-nos descobrir a magia da
vida.
Enfim, descobri que era o momento para aquietar os pensamentos,
abandonar a sisudez, viver cada segundo como se fosse eterno, andar
de mãos dadas com a gratidão, ouvir a voz do coração, o barulho
do vento nas folhas das árvores, sentir o cheiro da relva, o perfume
encantador da brisa alegre anunciando um novo dia. Decidi ouvir o
canto dos pássaros, o barulho da chuva regando a vida, semear a
união e colher a igualdade, conviver e tolerar as diferenças,
sonhar com a esperança, me aproximar mais da verdade, sentar-me à
mesa com o diálogo, abraçar a família, estender os braços ao
respeito, a educação, a dignidade, deixar essa vida agitada para
aprender a viver contente em toda e qualquer situação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário