quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Uma vida agitada

Chegamos ao século XXI de maneira rápida e assustadora. Algumas décadas já ficaram para trás e parece-nos que apenas poucos dias se passaram. Relembramos personalidades que se foram a vinte ou trinta anos, como se até pouco dias atrás eles estivessem vivos entre nós. O tempo passou e não vimos, afirmamos constantemente. A humanidade está sendo conduzida em uma velocidade tão grande que passamos sem perceber por determinadas circunstâncias, que quando damos por conta, não notamos que os nossos filhos cresceram. Nessa vida agitada não paramos mais para apreciar a beleza das flores, não falamos e nem ouvimos o bom dia dos vizinhos, não abraçamos mais nossos entes queridos, assim como, não nos importamos com as coisas simples e belas da vida. Sorrimos cada dia menos e trabalhamos cada dia mais. Nossa mente se perde na velocidade dos pensamentos, procurando a maneira exata de resolver os problemas da vida. E quanto mais pensamos, mais eles, os problemas, se acumulam. Viver é saber administrar os problemas oriundos dessa vida agitada.
Mas o preço está muito alto e o resultado desse avanço tecnológico, que era para oferecer uma melhor qualidade de vida para o homem, o está deixando cada vez mais estressado e ansioso. Digo isso por uma simples razão. Eu, que já me disseram ser muito “zen”, o que fora recebido como um elogio em virtude da vida agitada que atravessamos, de repente, me achei lutando contra o computador que estava demorando alguns eternos segundos para completar um processo. Percebi então que a minha paciência não passava desses míseros segundos. A agitação da vida havia corrompido a minha breve paciência de muitos anos e me conduzido, sem que eu notasse, pelos caminhos de uma mente rápida e intranquila. Ao notar que estava perdendo a paciência por causa de alguns insignificantes segundos de espera diante do computador, parei tentando encontrar o exato momento em que o elo, entre a serenidade de um viver harmonioso e a agitação de uma mente desequilibrada havia se rompido.
O susto foi enorme quando descobri que isso não era somente um privilégio meu, e sim, até mesmo dos meus netos, que ainda crianças haviam sido atingidos pelos bombardeios tecnológicos que já usufruíam. A internet, o celular, que foram criados para o bem, se tornou em um mal. A vida on-line plugada no mundo com todos os seus derivados, havia tomado o lugar das conversas à mesa, do abraço do filho, do beijo na esposa, das palavras de gratidão e de cortesia que desapareciam nos lares. E o que era muito pior, os remédios e até mesmo os antidepressivos, para diminuir um pouco a agitação da vida, se acumulavam em ritmo acelerado entre as prateleiras domésticas.
Foi então que senti saudades do olhar sincero da amizade, da gentileza, do sorriso largo, do colo e do conforto carinhoso da mãe, do calor da mão amiga, das palavras românticas fruto de um coração apaixonado, das brincadeiras movidas pela inocência, pureza e simplicidade das crianças, esse era o elo rompido que havia ficado no passado não muito distante. Era preciso recuperar o tempo, voltar a ser “zen”, dormir tranquilo, planejar a vida sem ansiedade, viver em harmonia com a natureza e em paz com Deus e com os semelhantes. Deixei o computador de lado, sai da internet, parei na contramão do mundo, atravessei sua correnteza rumo a felicidade. Naveguei pelas águas da vida que nasce da fonte celestial e vi que diante da turbulência em que vivemos, olhar os lírios dos campos apazígua a mente, amar e ser amado diminui o stress, gargalhar com as piadinhas infantis refrigera a alma, escrever uma poesia faz-nos descobrir a magia da vida.
Enfim, descobri que era o momento para aquietar os pensamentos, abandonar a sisudez, viver cada segundo como se fosse eterno, andar de mãos dadas com a gratidão, ouvir a voz do coração, o barulho do vento nas folhas das árvores, sentir o cheiro da relva, o perfume encantador da brisa alegre anunciando um novo dia. Decidi ouvir o canto dos pássaros, o barulho da chuva regando a vida, semear a união e colher a igualdade, conviver e tolerar as diferenças, sonhar com a esperança, me aproximar mais da verdade, sentar-me à mesa com o diálogo, abraçar a família, estender os braços ao respeito, a educação, a dignidade, deixar essa vida agitada para aprender a viver contente em toda e qualquer situação.

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