quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A Conhecida

Quando eu ainda era uma criança, meu pai nos apresentou uma estranha que em pouco tempo passou a ser muito conhecida. Fiquei com tanta afinidade com ela que quando me casei a levei para morar comigo. No princípio do meu viver a dois, ficamos fascinados com esta encantadora personagem que a permiti conviver com meus filhos que nasceram. A conhecida aceitou e desde então tem estado conosco. Enquanto as crianças cresciam, nunca questionei sobre seu lugar em minha família. Na minha mente ela já tinha um lugar muito especial. Dei-lhe o melhor lugar, bem de destaque na sala. Quando ela falava toda a atenção era para ela. Meus pais foram meus instrutores, minha mãe me ensinou o que era bem e mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas essa conhecida parecia ser superior. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com suas histórias de aventuras, mistérios e comédias. Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, economia, ciência ou arte. Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Nos levava aos estádios de futebol, fazia-nos rir e chorar. Nunca parava de falar, mas eu não me importava. Às vezes eu me levantava, e calado, começava a pensar na influência que exercia sobre meus filhos. Cheguei a conclusão que estava perdendo o controle sobre minha família por causa dela. Sempre procurei dirigir o meu lar com certas convicções morais, educação e respeito, mas essa conhecida nunca se sentia obrigada a honrar essas virtudes, pelo contrário, as ignorava.
Percebi que as blasfêmias, os palavrões, por exemplo, que não eram mencionados em minha casa, nem de minha parte, nem de nossos amigos ou de qualquer pessoa que nos visitasse. Entretanto, essa conhecida, e agora de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes ardia em meus ouvidos e que me fazia corar de vergonha diante de meus filhos. Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool, mas hoje, essa conhecida nos anima, influencia e estimula a experimentar e fazê-lo regularmente. Ela faz com que o cigarro pareça fresco e inofensivo, e permite que outros tipos de drogas sejam distinguidos entre as que podem e as que não podem usar. Ela fez com que as exceções virassem regras. O padrão de viver agora vinha dela.
Ela fala livremente (talvez em demasia) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outras vezes sutis e outras sugestivos, mas todos geralmente vergonhosos. Agora sei que meus conceitos sobre relações humanas que procurei passar para os meus filhos foram influenciados fortemente durante a adolescência por essa conhecida. Comecei repetidas vezes a criticá-la, mas ela nunca fez caso aos meus valores, mesmo assim, a deixei permanecer em nosso lar. Passaram-se mais de trinta anos desde que essa conhecida veio para dentro da minha casa, para o seio da minha família. Desde então ela mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio. Não obstante, se você entrar na minha casa, ainda a encontrará em seu canto, esperando que alguém lhe de atenção para escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre e fazer-lhe companhia...
Seu nome? Nós o chamamos de televisão. Agora ela já tem família também, um esposo, que se chama Computador e um filho que se chama Celular e uma filha de nome Internet! Se não nos dermos conta de que estes são meros instrumentos, viraremos seus servos e não seus senhores.
 Eles devem ser componentes facilitadores dentro de uma casa e em nosso viver e não adversários perigosos.

(adaptado internet)

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