Quem em
algum dia de sua vida não acordou inquieto sem saber a razão? Eu já
acordei assim inúmeras vezes. Hoje é um desses dias onde parece que
nada está bom, tudo causa certa irritação e insatisfação sem
nenhum motivo aparente. Claro que nesses momentos nosso pensamento
viaja em velocidade espantosa procurado uma causa ou quem sabe a
solução para sairmos dessa situação. Você olha para os lados e
não encontra uma saída. Você não quer falar com ninguém porque
palavras não resolvem, amigos não entendem, nada nos satisfaz. O
resultado é uma introspecção desmedida, capaz de nos aprofundar
nos porões da tristeza e abatidos esperamos somente o dia passar. Eu
procurei entender a razão da minha desventura. Queria encontrar o
oxigênio da vida e insuflar os pulmões com o ar da alegria, do
entusiasmo, enfim, com o ar da graça que parecia minguar dentro de
mim sufocando as boas recordações. Sentia-me desviado da rota,
perdido no meio da tempestade, sem bússola e sem nenhuma estrela
guia. Embora a vida fosse tão bela, para mim, nesse dia, parecia um
jardim sem cor.
Densas
nuvens atravessavam o céu do meu viver anunciando mal tempo. Eu
estava sentindo-me acorrentado de corpo e alma, tropeçando nos
sonhos e desejos, sufocado pelo sistema do mundo que me cobrava e
exigia algo que eu não tinha, não sabia o que era, e assim sendo,
não podia oferecer. Enquanto as primeiras horas do dia passavam, a
tempestade se aproximava e eu ficava cada vez mais sem um lugar de
refúgio. Aquietei-me, viajei em busca de uma resposta dentro de mim.
Alguma parte do meu ser tripartido estava incompleta e por isso me
desequilibrava. Abri a janela do coração para poder inspirar o
folego da vida e ao invés de avançar, retrocedi em meu humilde
viver. Analisei as circunstâncias que me cercavam e senti o peso da
vida sobre os meus ombros. Eu tinha uma família e parecia que não
estava sendo um bom exemplo para eles. O futuro dos filhos de repente
virou presente em minha mente. Trabalho, escola, relacionamento, o
caminho deles estava sinuoso. O peso da vida estava no limite. A
criação e educação dos netos fizeram o pêndulo da vida se
inclinar para cima.
Não
era somente o prazer de ser avô, mas a responsabilidade como de pai
me deixava temeroso. A saúde tanto a minha quanto da minha esposa
clamava por uma melhor atenção. A aposentadoria batia a porta
querendo entrar. A minha casa em construção no interior ocupava
minha cabeça. Eu precisava de dinheiro para completar esse sonho. O
trabalho, a família, a aposentadoria, a igreja, o meu viver por
alguns instantes estavam tudo sem sabor. Era como se estivesse
saboreando uma comida muito gostosa, porém sem sal e sentindo-me
subnutrido. Queria poder parar o mundo naquele momento para ver onde
eu tinha errado. Mas não foi preciso. O Deus da criação me mostrou
a causa e a solução. A parte do meu ser que estava desequilibrada
era o meu espírito. A subnutrição estava no meu interior. Não
estava me alimentando do pão da vida e por essa razão as forças
minguaram, o desânimo tomou conta do meu ser e as circunstâncias
tão pequenas da vida me assolavam. Era preciso voltar ao primeiro
amor.
Enquanto
almoçava fui inspirando o ar da vida divina e a comida que ora
saboreava tinha um gosto incrível de prazer misturado com
arrependimento. A sensação agora não era mais de peso momentâneo
e sim de um alívio refrescante, um regozijo sem igual e uma vontade
de sorrir da minha fraqueza e de mim mesmo. O peso da vida não me
sobrecarregava mais. Os problemas continuavam ao meu redor, mas agora
o papel deles era fortalecer o meu homem interior. A visão foi
ampliada, o coração se dilatou pois foi liberto das correntes da
angústia que o dilacerava. O futuro se transformou em esperança,
sólida confiança em um viver baseado em princípios divinos. A
alegria, ainda que não tão explicita, deu novo formato ao meu
rosto. A paz que sempre foi a minha fiel escudeira novamente rechaçou
os dardos inflamados que insistiam em penetrar em meus pensamentos. A
fé inabalável deu o tom para um novo começo. A introspecção como
um passe de magia desapareceu e comecei a pensar na família como meu
porto seguro. O peso da vida se tornou leve.
Percebi
que Aquele que prometeu estar comigo todos os dias da minha vida
nunca havia me abandonado e em momentos como esses, de fraqueza, era
Ele que me sustentava. Fiquei emocionado. Vibrei. Algo inexplicável
aconteceu. Eu estava em Deus e Ele em mim. À vida eu voltei. E agora
bem nutrido física e espiritualmente retornei ao trabalho e aprendi
a levar o fardo da vida ao Criador e aprendi que tudo posso Naquele
que me fortalece, inclusive passar por essas dificuldades, porque
quando estou fraco, então é que sou forte...
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