quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O Peso da Vida

Quem em algum dia de sua vida não acordou inquieto sem saber a razão? Eu já acordei assim inúmeras vezes. Hoje é um desses dias onde parece que nada está bom, tudo causa certa irritação e insatisfação sem nenhum motivo aparente. Claro que nesses momentos nosso pensamento viaja em velocidade espantosa procurado uma causa ou quem sabe a solução para sairmos dessa situação. Você olha para os lados e não encontra uma saída. Você não quer falar com ninguém porque palavras não resolvem, amigos não entendem, nada nos satisfaz. O resultado é uma introspecção desmedida, capaz de nos aprofundar nos porões da tristeza e abatidos esperamos somente o dia passar. Eu procurei entender a razão da minha desventura. Queria encontrar o oxigênio da vida e insuflar os pulmões com o ar da alegria, do entusiasmo, enfim, com o ar da graça que parecia minguar dentro de mim sufocando as boas recordações. Sentia-me desviado da rota, perdido no meio da tempestade, sem bússola e sem nenhuma estrela guia. Embora a vida fosse tão bela, para mim, nesse dia, parecia um jardim sem cor.
Densas nuvens atravessavam o céu do meu viver anunciando mal tempo. Eu estava sentindo-me acorrentado de corpo e alma, tropeçando nos sonhos e desejos, sufocado pelo sistema do mundo que me cobrava e exigia algo que eu não tinha, não sabia o que era, e assim sendo, não podia oferecer. Enquanto as primeiras horas do dia passavam, a tempestade se aproximava e eu ficava cada vez mais sem um lugar de refúgio. Aquietei-me, viajei em busca de uma resposta dentro de mim. Alguma parte do meu ser tripartido estava incompleta e por isso me desequilibrava. Abri a janela do coração para poder inspirar o folego da vida e ao invés de avançar, retrocedi em meu humilde viver. Analisei as circunstâncias que me cercavam e senti o peso da vida sobre os meus ombros. Eu tinha uma família e parecia que não estava sendo um bom exemplo para eles. O futuro dos filhos de repente virou presente em minha mente. Trabalho, escola, relacionamento, o caminho deles estava sinuoso. O peso da vida estava no limite. A criação e educação dos netos fizeram o pêndulo da vida se inclinar para cima.
Não era somente o prazer de ser avô, mas a responsabilidade como de pai me deixava temeroso. A saúde tanto a minha quanto da minha esposa clamava por uma melhor atenção. A aposentadoria batia a porta querendo entrar. A minha casa em construção no interior ocupava minha cabeça. Eu precisava de dinheiro para completar esse sonho. O trabalho, a família, a aposentadoria, a igreja, o meu viver por alguns instantes estavam tudo sem sabor. Era como se estivesse saboreando uma comida muito gostosa, porém sem sal e sentindo-me subnutrido. Queria poder parar o mundo naquele momento para ver onde eu tinha errado. Mas não foi preciso. O Deus da criação me mostrou a causa e a solução. A parte do meu ser que estava desequilibrada era o meu espírito. A subnutrição estava no meu interior. Não estava me alimentando do pão da vida e por essa razão as forças minguaram, o desânimo tomou conta do meu ser e as circunstâncias tão pequenas da vida me assolavam. Era preciso voltar ao primeiro amor.
Enquanto almoçava fui inspirando o ar da vida divina e a comida que ora saboreava tinha um gosto incrível de prazer misturado com arrependimento. A sensação agora não era mais de peso momentâneo e sim de um alívio refrescante, um regozijo sem igual e uma vontade de sorrir da minha fraqueza e de mim mesmo. O peso da vida não me sobrecarregava mais. Os problemas continuavam ao meu redor, mas agora o papel deles era fortalecer o meu homem interior. A visão foi ampliada, o coração se dilatou pois foi liberto das correntes da angústia que o dilacerava. O futuro se transformou em esperança, sólida confiança em um viver baseado em princípios divinos. A alegria, ainda que não tão explicita, deu novo formato ao meu rosto. A paz que sempre foi a minha fiel escudeira novamente rechaçou os dardos inflamados que insistiam em penetrar em meus pensamentos. A fé inabalável deu o tom para um novo começo. A introspecção como um passe de magia desapareceu e comecei a pensar na família como meu porto seguro. O peso da vida se tornou leve.
Percebi que Aquele que prometeu estar comigo todos os dias da minha vida nunca havia me abandonado e em momentos como esses, de fraqueza, era Ele que me sustentava. Fiquei emocionado. Vibrei. Algo inexplicável aconteceu. Eu estava em Deus e Ele em mim. À vida eu voltei. E agora bem nutrido física e espiritualmente retornei ao trabalho e aprendi a levar o fardo da vida ao Criador e aprendi que tudo posso Naquele que me fortalece, inclusive passar por essas dificuldades, porque quando estou fraco, então é que sou forte...

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