terça-feira, 18 de agosto de 2015

Padrefilia

Em meio as nuvens vulcânicas que cobrem o céu da Europa, o Papa Bento XVI as enfrenta, assim como as que cobrem o céu da igreja católica, em busca de curar as feridas causadas pelos padres pedófilos durante décadas. Em sua peregrinação pela ilha de Malta nesse final de semana, que de acordo com os registros bíblicos, o apóstolo Paulo sofreu um naufrágio, o Papa, em meio as cinzas do vulcão e das denúncias tenta soprar as cinzas da padrefilia para bem longe da igreja. Nos últimos anos temos visto e ouvido relatos de cidadãos, vítimas quando crianças, dos irresponsáveis atos de padres pedófilos ao redor do mundo, dando margem a que se questione a integridade moral dos sacerdotes católicos. Não somente a padrefilia ocupa os noticiários nesses últimos dias, mas também o homossexualismo entre os sacerdotes é notícia que lança nuvens negras sobre a igreja. O assunto, desde os primórdios ficou escondido e jamais foi assumido abertamente pela igreja. Muito se questionou, e agora, muito mais se questiona o voto de celibato dos padres com esses assuntos vindo à tona. Aliás, já estava na hora da igreja rever essas questões.
É impossível se conter ou barrar os impulsos sexuais humanos, quer seja de homens ou mulheres através de exigências e regras exteriores. É algo intrínseco do ser humano. Não se pode frear a libido humana durante o curso da vida. Padres ou freiras possuem a mesma natureza, igual a de todos os mortais. O que está vindo à tona e divulgado ainda que timidamente pela mídia, talvez não seja dez por cento do que realmente acontece por detrás da sacristia. Como dizem alguns em tom de brincadeira, é uma sacranagem. Homens paramentados tentam esconder atrás de suas vestes algo que não se consegue evitar: o desejo sexual. O que é proibido por dogmas, doutrinas ou por leis externas, a qualquer momento pode explodir, e o pior é que não se consegue mensurar as consequências dessa explosão. Aqueles que estão expressando seus desejos reprimidos por décadas, o estão fazendo de maneira errada e escandalosa. Contrário à natureza. Estão abusando de crianças inocentes e indefesas com a certeza da impunidade. Até mesmo o Santo Padre está sendo acusado de acobertar os abusos sexuais dos padres no passado. Nessa segunda-feira Sua Santidade, o Papa, completou seu quinto ano no governo da igreja mas sem muito o que comemorar.
As nuvens negras que pairam sobre a cúpula do Vaticano encobrem práticas, ainda que não generalizada, de padres que antes de tudo são homens ainda cheios de vigor, mas de apetite sexual reprimido. Através de cartas, Sua Santidade pediu desculpas, assumindo a culpa, a máxima culpa, quando deveria ter perdido perdão a todos àqueles que sofreram abusos sexuais dos padres pedófilos. A atitude negligente do clero levou o Pontífice a clamar por uma penitência, ou seja, por uma purificação em favor da igreja. As justificativas são muitas. A controvérsia entre celibato e pedofilia tomou fôlego nesses últimos dias. Psicólogos e psiquiatras concordam e ao mesmo tempo divergem entre esses dois temas. Há os que afirmam que pedofilia é uma doença que pode atingir qualquer pessoa e em menor escala, os sacerdotes, mas que não deixa de ser em qualquer pessoa uma atitude escandalosa. E há os que defendem o fim do celibato, liberando os padres para o casamento, o que a igreja é contra. Porque será? Enquanto a controvérsia continua não podemos continuar assistindo as denúncias de padrefilia nem que isso resulte em exoneração, aliás, denúncias como essas não deveriam existir em nenhuma classe da sociedade.
Os mais importantes meios de comunicação insistem na pergunta: Como os padres pedófilos puderam, durante tanto tempo, continuar exercendo o sacerdócio e celebrando a comunhão? O fato é que a igreja, como em nenhuma outra instituição, não pode colocar silenciador nas atitudes de seus membros para abafar o tiro da vergonha que esteja sendo efetuado. Também não adianta muito divulgar uma falsa transparência e deixar em oculto, enterrado por séculos e por gerações, todos os abusos cometidos no passado, não somente pelos padres e sacerdotes, mas por todo o clero, que de uma maneira ou de outra, hoje o vento está soprando as cinzas em direção da Santa Sé. Os ventos que por lá sopraram balançaram as árvores da padrefilia por aqui e o resultado foi a descoberta desse mal também em território nacional. Houve até entre o clero quem desdenhasse das acusações que caminhavam em direção ao Santo Padre como se ele fosse um homem acima dos demais, o elo entre o céu e a terra, o divino entre os humanos, o concebido sem pecado, mas a posição não representa o homem, mas o homem representa a posição que ocupa.
O pecado está dentro de todos os seres humanos enquanto que os atos pecaminosos estão fora, por causa do que está dentro cometemos o que está fora. O querer fazer o bem está em mim, não porém o efetuar, dizia o apóstolo Paulo, lembrando ao Pontífice que refaz seu percurso. A natureza humana é pecaminosa e por causa dela cometemos pecados independentemente de quem somos. Não há acepção de pessoas, mas infelizmente, alguns, com os lábios que profetizam e bendizem a Deus, cometem piores deslizes do que aqueles que se calam, pasmos e envergonhados por tamanho descalabro. Não quero atirar pedra isentando-me de qualquer pecado, porque vejo em meus membros uma outra lei que guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro do pecado. Porque nem eu mesmo entendo o meu próprio modo de agir. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, que é fraca, não habita bem algum. Diante disso, acredito que já passa da hora de se revelar a sujeira oculta durante séculos debaixo das batinas. Está na hora de descortinar o passado mantido sob a égide da moralidade espiritual e que a vontade do Pai celestial seja feita na terra como é feita no céu e que seu nome seja santificado na terra como é santificado no céu.

O problema está aqui na terra e não no céu. A padrefilia talvez não seja o mal maior. Por essa razão continuo acreditando na oração do Senhor, o único a santificar o nome de Deus, mas pedindo-o que nos livre dos padres nossos de cada dia...amém

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