Parece-me
que o problema não está sendo levado muito a sério pelo governo
federal, mas a falta de água que estamos enfrentando, não é uma
exclusividade brasileira. O mundo já sofre com a escassez pelo menos
a algumas dezenas de anos. A falta de água potável está sendo
agravada em virtude do uso descontrolado dos recursos naturais. Um
dado assustador revelado pela UNICEF mostra que menos da metade da
população mundial tem acesso a água potável. E dentro desses que
tem acesso, 35% não tem acesso a água tratada, ou seja, um bilhão
e 200 milhões de pessoas. Nesse caso, 10 milhões de pessoas morrem
por ano em decorrência do consumo de água não tratada, o que
acarreta diversos problemas intestinais. Na verdade, o planeta água
está morrendo de sede.
O desafio dos governantes brasileiros será, dentro de pouco tempo,
encontrar água potável para o consumo da população. A falta de
água afeta diretamente a produção agrícola. O crescimento
populacional, a industrialização, a urbanização e o uso
irracional ampliam a demanda pela água. É um circulo gravitacional
girando ao redor da água que em breve resultará na falta de
alimentos. Isso deve começar a preocupar a mente dos governantes
mundiais. O primeiro passo para se evitar uma hecatombe pela falta de
recursos hídricos é a conscientização racional do uso da água. O
que muita gente talvez não saiba é que na grande maioria dos
produtos industrializados a água está presente. De acordo com o
Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar, situado
em Washington, até 2050 quase cinco bilhões de pessoas passará
pelo sofrimento do estresse hídrico, ou seja, pela falta de água
para o consumo mínimo. A falta de água mundial vem sendo lenta,
porém, constante.
Embora sejamos privilegiados, gigante pela própria natureza, pois
detemos 12% de toda água doce superficial do planeta, muitas cidades
já padecem pela falta do produto. A poluição dos rios e do meio
ambiente de forma geral, vem apressando o clamor humano pelo precioso
mineral. Além disso, as empresas de abastecimento com serviços
ineficientes na distribuição que permitem desperdícios em
vazamentos e roubos, contribuem para o aumento da demanda. Há
profetas da era apocalíptica de plantão afirmando que a água será
causa de muitos conflitos mundiais. Não duvido. Até mesmo entre as
duas maiores e mais ricas cidades do país já houve desentendimentos
verbais dos governos por causa da captação de recursos hídricos.
Um querendo encontrar um desvio no rio para a água chegar até o seu
estado e o outro querendo proibir e reter o que possui. Até mesmo o
maior rio que corta o estado paulista já agoniza com a água que
míngua pelo seu leito.
O rio Tietê, na região do interior paulista, fonte de renda aos
ribeirinhos e pescadores tem preocupado e já vem tirando o sono das
autoridades. Os peixes estão desaparecendo, os barcos estão sendo
alertados quanto a profundidade de navegação e o volume das águas
diminui notadamente. Todos estamos no mesmo barco. Tanto ricos como
pobres precisam de água. Quem ainda tem dinheiro já começa a
estocar água, não sei por quanto tempo ainda conseguirá. Mas como
diz um grande escritor brasileiro, o dinheiro pode comprar uma bela
cama, porém, não nos garante uma noite de sono tranquila. Da mesma
forma, não terá o poder de saciar a nossa sede se não existir água
para satisfazer-nos. Na semana passada o governador paulista, depois
de afirmar por inúmeras vezes que não haveria o racionamento na
capital, se viu obrigado a apertar os botões das bombas e captar
água do chamado volume morto da represa. Isso representa algumas
gotas no deserto escaldante.
Está
na hora de se explorar com mais eficiência o aquífero guarani,
considerado o maior do mundo até o momento, e que 2/3 de sua
extensão passa por terras brasileira, antes que também se esgote
por uso indevido da ação destruidora humana. No momento em que o
planeta azul, a terra, também conhecido como planeta água, pois é
constituído por mais de 70% de água, ironicamente anela pela água,
somente nos resta navegar por águas tranquilas da esperança e
clamar aos céus por chuvas temporãs para que as comportas sejam
abertas e nunca nos falte o nosso bem maior, a água.
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