segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Corrida do Ouro

O brilho do vil metal resplandece como uma chama hipnotizadora, que atrai, corrompe e seduz a humanidade desde os seus primórdios. Ao mesmo tempo parece iluminar os passos, fascinar a mente e corromper o coração dos homens que tudo fazem para, como no conto de fadas, encontrar o seu pote no fim do arco-íris. Nessa corrida ilusória vale tudo, até mesmo mercadejar almas humanas trancafiando-as com algemas de ouro nas masmorras do querer, do possuir, do ostentar e com isso, geram sonhos, despertam desejos, criam falsas esperanças e produzem, em alguns casos, frustrações que resultam em traumas psicológicos de difíceis soluções. Nessa corrida maluca tudo é substantificado em unidade monetária. É possível imaginar um carro de luxo, um apartamento de alto padrão, um iate, uma maneira de vida de reis e rainhas e no mesmo instante traduzir essa imaginação em valores. Desse ponto até a conquista, vale tudo para alcançar o objetivo.
Os sonhos são para serem realizados, as metas para serem alcançadas, os paradigmas para serem derrubados, as barreiras para serem ultrapassadas, mas tudo isso precisa ser planejado em seus mínimos detalhes a fim de que os percalços, as contrariedades que surgem pelos caminhos escorregadios da vida, não criem nenhum descontrole emocional no futuro. Não é raro se ouvir notícias de artistas que conquistaram a fama, o topo, mas desembolsaram alto preço para ostentarem o status, a glória e o glamour, que alguns até mesmo, por não conseguirem se equilibrar na balança do sucesso, pagaram com a vida pelo desequilíbrio. O pote de ouro encontrado, não tinha valor e nem poder para libertar a alma sedenta por alegria, paz e felicidade. O ouro que extraíram das minas das ilusões do show business, da sociedade alternativa, do é dando que se recebe, de um viver de aparências, não foi suficiente para comprar a tão sonhada qualidade de vida. Embora possuíssem tudo, nada tinham para oferecer, com raras exceções, de si mesmos. Mesmo sendo ricos, contudo, alguns, tornaram-se pobres interiormente. Deixaram apenas um legado frio e teórico de frases vazias, cujos heróis, como diz a canção, morreram de overdoses.
Hoje, diferentemente de como ocorreu no passado, onde as descobertas das minas atraiam os homens fortes, rudes e corajosos para um trabalho de escavação árduo, difícil e perigoso, o tiro de partida que atualmente foi disparado, acirrando a corrida do ouro, está arrastando não somente homens visionários e desbravadores, mas, crianças, adolescentes e jovens que correm incentivados e até mesmo, manipulados por garimpeiros profissionais que auto denominam-se empresários, caçadores de talentos. As minas na atualidade são os clubes de futebol, as gravadoras musicais, a televisão e a mídia de um modo geral. Os futuros milionários mirins ficam expostos na grande vitrine que são as redes sociais onde são vistos, analisados e por fim, comprados por verdadeiras fortunas e por fim, ficam reféns da ganancia e do brilho fugaz do ouro em suas contas bancárias. O ciclo natural do ouro acabou, mas o ciclo natural da vida não é passageiro.
É preciso cumprir cada etapa do viver humano e preenchê-la com sonhos, com esperanças, mas, acima de tudo, é preciso viver as circunstâncias de maneira sólida, baseada não somente em valores monetários efêmeros e sim em princípios humanos básicos como honestidade, sinceridade, caridade, verdade, fraternidade, altruísmo, sensatez, gratidão e sobre todas essas virtudes acrescentar o amor que é o vinculo da perfeição. Somente assim, a tão sonhada qualidade de vida, que independe dos verbos ter, possuir ganhar, adquirir, comprar serão muito mais amenos, aprazíveis, suaves e doces, que ao conjugá-los em nosso viver, a corrida do ouro até linha de chegada será facilmente atingida. Nem tudo que reluz é ouro. Como dizia Gandhi em sua sabedoria humana: algemas de ouro são muito piores do que as de ferro.
Portanto, ao pensar em extrair os ovos de ouro, pode-se matar a galinha, a vida, e a decepção pelo fracasso de não encontrar nada dentro dela pode ser insuperável. É preciso verificar a rota, repensar a trajetória, mudar de direção, de objetivo. Vamos correr para a vida, para o abraço, para o sorriso inocente, para a família, para os amigos porque, onde estiver o nosso tesouro, ai estará o nosso coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário