terça-feira, 18 de agosto de 2015

Um dia chuvoso

Cinco e meia da manhã, despertei com o ruído da chuva em minha janela vinte minutos antes do relógio anunciar o horário marcado para me acordar. O barulhinho da chuva que caia me forçou a continuar na cama os vinte minutos que ainda me restavam. Fiquei com receio de dormir e não ouvir o despertador, mas não resisti. O ambiente propício para continuar na cama estava formado. Antes observei nos quartos e todos dormiam tranquilamente. Deitei-me a ouvir os pingos da chuva que caiam, os carros que já começavam passar na rua fazendo o barulho dos pneus em contato com a água da chuva, tudo embalava o meu sono.
Pensei em levantar-me e sair um pouco mais cedo de casa por causa da chuva. Não sei se dormi ou cochilei ou se fiquei acordado pensando, só sei que logo o despertador que estava programado para me acordar dez minutos antes das seis horas, despertou. Teria de deixar o aconchegante ambiente do quarto e enfrentar o frio e a chuva que caia. Em um dia chuvoso os transtornos são maiores. Olhei pela janela embaçada pelo vapor da chuva, passei a mão fazendo um circulo para observar a intensidade da chuva e me assustei. Era um temporal. Não podia perder muito tempo. Acordei um dos filhos, nos preparamos e saímos debaixo de chuva.
Com um guarda-chuva para dois, saltávamos as poças de água que se formavam pelo caminho até chegarmos ao ponto do coletivo. Pensei que havia de esperar debaixo de chuva, mas para a nossa surpresa já havia um coletivo no ponto, e vazio, acabara de chegar. Esperamos um pouco na chuva até que motorista e fiscal conversassem, em total desrespeito aos passageiros que aguardavam e depois entramos. Sentei-me em um lugar ao lado da janela e fui observando a chuva que caia, enquanto o ônibus seguia lentamente por causa do trânsito que se formava, pegando as pessoas em cada ponto de parada. Sombrinhas e guarda-chuvas escorriam água para todos os lados. O pequeno coletivo em dois ou três pontos a frente já estava cheio.
Todos queriam chegar ao trabalho o mais cedo possível. Seis e meia da manhã já estava um caos. Ônibus lotado, janelas fechadas por causa da chuva. Alguns passageiros que seguiam em pé reclamavam por as janelas estarem fechadas, por outro lado, os que estavam sentados não queriam que as abrissem, pois estava entrando água. Para evitar o bate-boca que era inevitável, a contra-gosto, abri um pouco a minha janela. Até que não me importei com alguns chuviscos que caiam, eu já estava molhado, foi bom, pois assim entrava um pouco mais de ar. Guarda-chuvas e sombrinhas passavam escorrendo água entre nossas cabeças. Mulheres entravam com sacolas, bolsas e sombrinhas tudo molhado e tínhamos que segurar. Um dia chuvoso é sempre assim.
A correria nas ruas da cidade era inevitável. Um festival de guarda-chuvas e sombrinhas era exibido ficando impossível se caminhar rapidamente sem colidir com outros guarda-chuvas que vinham em nossa frente. A cidade parou nessa manhã, apesar dos transeuntes se apressarem, o caos estava montado. As grandes avenidas viraram rios. Por falta de energia, semáforos estavam desligados, trânsito parado, trens urbanos não circulavam na totalidade, um dia de ira, era melhor, em alguns casos, não ter saído de casa. Além do medo, o desespero tomou conta de alguns motoristas, que mais afoitos tentavam a qualquer preço vencer a força das águas. E o dia tinha apenas começado, ainda restava a volta, e continuava chuvoso.

Enquanto os cidadãos se esforçam para virem de casa para o trabalho e voltarem do trabalho para casa, as nossas autoridades, pasmem, culpam a natureza por tanta chuva. Devem mandar a conta desse prejuízo para Deus. Foi ele que abriu as comportas dos céus permitindo esse dilúvio. Mas ele não constrói avenidas e não constrói prédios, não desmata, não polui os rios, não é o causador do aquecimento global, muito menos usa dinheiro público destinado para infra-estrutura e o usa em benefício próprio. Dessa conta Deus está totalmente isento. Enquanto os governantes mundiais se reúnem para negociar uma solução climática, cada dia a situação piora. Se quiserem que não haja mais dias chuvosos como esse, a melhor coisa a fazer é preservar o que ainda é possível preservar, as matas, o clima, o planeta, pois caso contrário, a natureza pode não dar uma segunda chance...

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