quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A primeira vez, a gente nunca esquece.

Finalmente chegou o grande dia. Eu o esperei por três anos. Durante esse período fui treinando procurando aumentar a minha performance, fui determinada, disciplinada, paciente e persistente, tudo para não decepcionar aqueles que acreditavam em mim. Confesso que estava um pouco ansiosa e angustiada por ser a minha primeira vez, mas como dizem por ai que a primeira vez a gente nunca esquece, resolvi encarar com naturalidade, afinal, eu havia me preparado para esse momento durante um longo período. Não poderia deixar passar essa oportunidade, pois, quem sabe, não houvesse outra. Já alguns dias o meu pensamento fora ocupado com essa determinação. Eu sonhava com esse dia já algum tempo. Apesar da expectativa, da ansiedade e porque não dizer do medo que a aproximação do dia me trazia, era preciso superar os obstáculos, saltar as barreiras e vencer os paradigmas.
Queria fazer desse dia um marco inesquecível, um divisor de águas em minha vida, o antes e o depois da primeira vez. 
Tinha certeza de que seria a primeira de muitas que virão pela frente. Embora saiba que o cansaço e o esforço que se faz nesse momento em nada é comparável com o prazer, com a satisfação plena e a alegria da chegada, pelo menos era assim que eu imaginava, puro êxtase. Uma semana antes do dia marcado, um calafrio tomou conta do meu ser. Quando faltavam dois dias pensei em desistir, não me achava capaz. Foi então que os verdadeiros amigos surgiram e me encorajaram. Ligações, mensagens de incentivo, de força e de entusiasmo me fizeram sentir uma vitoriosa mesmo antes do momento. Enfim, chegou o dia. Na noite anterior procurei relaxar, dormir mais cedo, sonhar com o grande momento. Eu estava feliz porque até mesmo a minha filha me incentivava.
Finalmente chegou o momento. Já era possível perceber o nível da adrenalina aumentando, o coração batia em uma arritmia frenética, os pulmões exigiam mais oxigênio. O medo, a tensão, a ansiedade, a angústia do momento me faziam refletir na vida e nos meus sonhos. Eu estava a caminho de realizar um deles. 
Fui cativada pelo ambiente. Os amigos ao meu lado me fizeram perceber que ninguém pode vencer sozinho. Já estava mais à vontade. Um sorriso despontou ainda que tímido, mas já era um sinal que tudo daria certo e não havia o que temer. Como em um último esforço, levamos nossos corações a Deus em uma prece, agradecendo-o por estarmos ali. Ouvi o disparo do canhão, quase desfaleci, a emoção tomou conta do meu ser e me deixei levar como uma folha arrastada pelo vento. E assim dei os primeiros passos, percorri os primeiros metros, os primeiros quilômetros. Desfilava naquela passarela a passos firmes e determinados como se tivesse correndo para vida.
Era algo inexplicável, mas muito satisfatório. A sensação de poder sentir o vento no rosto era algo indescritível, não havia nada comparável, eu estava pagando um ótimo preço para realizar o meu sonho. Jamais poderia desistir dele. De repente as dores surgiram, mas não me importei com elas. O prazer superava o cansaço. Respirei fundo tentando encontrar o ar e forças dentro de mim, mas parecia ser inútil. 
Lembrei-me de uma frase de um amigo que me disse: “Em uma maratona você morre e ressuscita diversas vezes pelo caminho”. Eu já estava fadigada, talvez morrendo naquele momento, mas quebrei outro paradigma. Atravessei o túnel, algo que me trazia pavor e contemplei a luz no final. Era a primeira ressurreição, pensei. Recobrei o fôlego e prossegui confiante. Apesar do tempo que não passava, eu já chegava ao final. Faltava pouco, era preciso perseverar, vencer as dores, os medos, superar as dificuldades. Novamente o filme da minha família, dos meus filhos, dos amigos, como um replay passava em minha mente. As lágrimas surgiram incontidas, a emoção me fazia a pessoa mais feliz do mundo. Eu estava terminando.
Era preciso guardar energia, chegar se possível, sorrindo. Última curva, últimos metros, últimos passos, eu estava no limite quando avistei novamente os amigos de braços abertos gritando e me incentivando com aplausos. Não controlei as lágrimas e agora sem limite para o meu corpo dei um sprint final. Agradeci a Deus, peguei minha medalha, compartilhei da mesma emoção com os amigos e desfrutei da minha indescritível primeira maratona. 
Muitos por falta de experiência durante e depois do ato, ficam com o corpo dolorido, as pernas não suportam o peso do corpo, e dizem que jamais repetirão o fato. Eu, pelo contrário, superei todos os traumas e já estou pensando na próxima maratona, porque, a primeira vez, a gente nunca esquece...

(Para uma colega de trabalho pelo esforço de correr a sua primeira maratona em São Paulo)

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