quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Marcha para Jesus x Parada Gay

O que mais se falar do que já se falou? É obvio que o assunto é muito polêmico e ainda carece de debate e exaustiva discussão com todos os segmentos da sociedade até que se esgotem os motivos e razões para se evitar preconceitos e conclusões infundadas que levam as pessoas a se desrespeitarem com palavras, provocações e até mesmo atitudes agressivas para que, pessoas um pouco inteligentes, possam conviver com as diferenças sem nenhuma animosidade. Grupos radicais, cristãos católicos e evangélicos estão disparando impropérios e com dedo em riste saem às ruas em uma marcha para Jesus acusando de promiscuidade, ou seja, de uma mistura sexual perniciosa de homens com homens e mulheres com mulheres na inútil tentativa de se criar um terceiro sexo. Com esse argumento, colocam palavras não proferidas na boca do Mestre do Amor como se ele as tivesse falado, apenas para censurar aqueles que pensam e agem de maneira contrária a deles.
Parecem cegos sendo guiados por cegos. Marcham firmes e determinados com seus libelos acusatórios, com seus slogans e chavões bíblicos como se fossem as pessoas mais corretas do mundo. Embora não mintam, se escondem atrás de meias verdades, pois parece que desconhecem que o Mestre do Amor jamais condenou as atitudes de prostitutas, chamou de amigo o maior traidor da história de que se tem notícia, abraçou leprosos, perdoou ladrões assim como seus algozes no momento de sua maior dor. Também encorajou aquele que o negou por três vezes a prosseguir resoluto em sua missão, e enquanto dependia dele, conviveu com as diferenças com muita harmonia. Teve uma pequena contenda com o grupo que mais falavam em Deus, os religiosos, chamando-os até de hipócritas e de raça de víboras, pois professavam às alturas o nome de Deus, mas com suas ações o desonravam. Com os lábios se aproximavam de Deus, mas com o coração se afastavam. A história se repete e o desentendimento ganha forças extremas.
O discurso religioso continua o mesmo assim como a hipocrisia. A batalha entre o bem e o mal foi declarada, a verdade entre o certo e o errado vem sendo travada em cima de carros de som, a moral e a imoralidade percorrem a mesma avenida da discórdia, os santos e os profanos disputam o mesmo espaço nas igrejas professando o nome do único Deus. O céu e o inferno seguem em paralelo, mas cada vez mais próximos, a razão tenta sobrepujar a sabedoria. A tolerância, uma das principais virtudes humanas nos diz que o mais importante é conviver em paz e aceitar um ao outro, pois ninguém é diferente de ninguém. Não quero me fazer, como cristão que sou, de advogado nem de um e nem do outro, cada um seja responsável por seus atos, o que plantarem, com certeza colherão, isso é infalível. Por outro lado, também não posso admitir que a ignomínia, o vitupério e a falta de respeito, algo que vem se perdendo com o tempo, devido a atitudes indecorosas de alguns, possa influenciar de maneira nefasta as crianças, as famílias e principalmente aqueles que não professam o mesmo pensamento de ambos os grupos que se debatem. Peçonha mortal destila-se dos lábios.
Não concordo com um grupo e também não aprovo as atitudes do outro. Não sou a favor de um e nem contra o outro. Entre a irreverência dos gays e a seriedade dos cristãos, se esconde um ser humano com problemas e dificuldades inerentes a todos e que desfrutam de momentos alegres, outras vezes tristes, que choram, sofrem, sentem dores, ficam chateados, se irritam, pensam, falam, se emocionam e se decepcionam como qualquer outra pessoa. A verdade tem dois lados e ninguém é dono dela. Aquele que julga e condena o outro se faz juiz sobre ele. Se por um lado se constitui família a partir de pessoas homoafetivas, por outro se inicia a castração da espécie humana. Se por um lado, tenta-se legalizar a imoralidade, por outro, por causa de uma pseudomoral, não se pode cometer atos levianos, difamatórios e até mesmo agressivos para defendê-la. O homo sapiens está deixando de ser sapiens e assumindo a passos largos apenas o lado homo.

É preciso caminhar pelas alamedas da vida, desarmados de ódio, rancor, de todas as formas de preconceito, de discriminação quer seja ela profissional, racial, sexual ou de qualquer outro tipo, mas ao mesmo tempo não podemos nos contentar com a Sodoma em que a nossa descendência viverá. A conclusão que eu não quero chegar é que nesses últimos anos, embora marchando para Jesus, o povo cristão, talvez mal comandado, parece que retrocede e se distancia dos ensinamentos do Mestre. Por outro lado a comunidade gay em sua parada, avança em passos largos conquistando seus direitos. Se na marcha ou na parada, somos todos da mesma espécie: humana.

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