Nesse
último carnaval, começando alguns dias antes e até o presente, a
música que embalou os corpos suados dos passistas, moças, rapazes e
foliões que seguiam atrás dos trios elétricos, foi Rebolation.
Um ritmo frenético criado pelo povo bahiano e cantado até a
exaustão por um desses trios. Só não seguia atrás desse carro de
som, digo dessa verdadeira usina de som, quem realmente já estivesse
morto. O rítimo é contagiante. É impossível ouvir as notas
musicais e ficar parado sem sacolejar o corpo acompanhando o rítimo
alucinógeno, maluco da música. Até mesmo as crianças na sua
inocência e na mais tenra idade, quando ouvem já começam a
movimentar o corpo para alegria dos adultos. Essa música virou
sinônimo de movimento corporal. Até o presente momento, o eco desse
som contagiante continua envolvendo não somente o povo bahiano, que
por natureza já é alegre, mas em todo o País é possível sentir
a repercussão desse fenômeno musical.
Os
humoristas estão atrás dos políticos para ver qual dos candidatos
à presidência será o primeiro a dançar o Rebolation.
É claro que em troca de votos eles dançarão. Vamos ver quem tem o
melhor jogo de cintura para governar esse País. Rebolation
significa rebolado em inglês. Enquanto uma pequena parte do povo se
diverte rebolando ao som da música, a grande maioria rebola para
sobreviver. O verbo rebolar até algum tempo atrás também tinha um
sentido de se conseguir as coisas através de um esforço fora do
comum. Você tinha que rebolar muito, ou seja, era necessário muito
esforço, muita dedicação e persistência para se alcançar o que
queríamos. Era necessário suar a camisa, esse era um dos sentidos
do verbo rebolar. Meu pai costuma falar: você
tem que rebolar muito na vida para conseguir o que você quer.
E ele rebolou muito e mesmo assim, não conseguiu tudo o que queria
na vida. Tinha que rebolar muito mais, e ele rebolou muito para que
seus filhos rebolassem menos. Hoje esse sentido da palavra caiu no
descrédito popular.
Literalmente
nos dias de hoje, ganhar dinheiro rebolando ficou mais fácil do que
se imagina. Basta para isso possuir alguns dotes físicos especiais,
principalmente as mulheres com seus corpos trabalhados e torneados.
Concursos são promovidos dioturnamente para saber quem rebola melhor
e olha que não faltam candidatos. Ganhar a vida rebolando se tornou
o caminho mais curto para realizar os sonhos. A concorrência está
acirrada pela melhor desenvoltura. Parece algo vital para a
sobrevivência humana saber quem rebola mais, o homem ou a mulher. Há
uma canção que afirma que se você quiser conquistar tal pessoa ou
coisa, você tem que rebolar...rebolar. Não apenas essa música nos
impulsiona a nos mover, mas existe uma qualidade de som pairando no
ar que ao menor toque dos acordes começamos a nos mover, ou melhor,
a rebolar. Pessoas comuns, famosos, artístas, jogadores de futebol,
políticos todos estão nessa dança, alguns de um jeito e outros de
outro jeito.
Alguns
rebolam fazendo graça para manter a sua popularidade, outros para
conseguir votos, outros para ganhar seu dinheiro suado como outrora e
é a esses últimos trabalhadores que com seu rebolado, sustentam
suas famílias e impulsiona o País, permitindo que outros rebolem se
divertindo, que quero me referir. Àqueles que rebolam dia e noite
para levar o pão nosso de cada dia à suas famílias. Muitos desses
não possuem mais o jogo de cintura, rebolaram demais, estão
cansados de tanto rebolar e não conseguirem nada. Muitos já fizeram
de tudo e mesmo assim ainda estão rebolando para se manter vivos.
Ainda hoje, para usufruir dos transportes públicos em horário de
rush, é preciso rebolar muito. Para se conseguir consultas e
tratamentos médicos em hospitais públicos e para matricular seus
filhos em boas escolas públicas é preciso rebolar ainda mais. Desde
o nascimento começamos a rebolar, mas não precisamos de música.
Esse Rebolation
só desperta e atrai a sensualidade e quando essa música parar, pode
ser tarde, e você, pode ter dançado...
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