segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O último sermão

Entre nuvens que cobrem o céu da igreja católica com acusações de pedofilia, escândalos sexuais, disputa pelo poder, corrupção, vazamento de documentos pessoais, divergências doutrinais (o Papa é considerado um defensor linha dura das doutrinas da igreja), cansaço físico, saúde precária, entre outras tantas suposições, o Papa Bento XVI disse não à cadeira de São Pedro. Em sua peregrinação pelo mundo nesse curto espaço de tempo em que esteve liderando bilhões de fiéis, nesse final de semana ele abandonará as sandálias do pescador. As águas agitadas no mar da religião fizeram com que a pesca, nos últimos anos, não fosse tão satisfatória. Os ventos contrários abalaram Sua Santidade na condução da igreja, segundo afirmação própria em seu último sermão.
O fato é que na igreja, como em nenhuma outra instituição, não se pode colocar silenciador nas atitudes de seus membros para abafar o tiro da vergonha efetuado. Também não adianta muito divulgar uma falsa transparência e deixar em oculto, enterrado por séculos e por gerações, todos os abusos cometidos no passado, não somente pelos padres e sacerdotes, mas por todo o clero, que de uma maneira ou de outra, hoje os ventos contrários estão agitando as águas em direção da Santa Sé. E o Senhor dos senhores parece dormir, alegou o Papa. É meu caro Joseph, o Senhor dos exércitos não dormita, seus olhos estão atentos percorrendo toda a terra e nada que está oculto ficará encoberto! A renúncia de vossa Santidade nos mostra com clareza o que é a natureza humana, somos todos homens com as mesmas fraquezas.
É muito difícil suportar injúrias, difamações, calúnias, acusações fundamentadas ou não, pressão exterior, insatisfação por parte de subordinados. É impossível suportar injustiças, ofensas verbais e até mesmo morais ou físicas sem nenhuma reação. Não é fácil suportar o peso do mundo sobre os ombros. Não se pode depositar tanta esperança em um só homem. Ele fez o que lhe estava ao alcance. Nós ainda somos incapazes de oferecer a outra face, de perdoar sete vezes como o apóstolo Pedro perguntou ao seu Mestre. Somente um homem foi capaz de suportar tudo isso e muito mais sem abrir a boca ou renunciar, Jesus Cristo. Não podemos creditar a um homem capacidade que ele não tem só porque ocupa uma posição de destaque como se ele estivesse acima dos demais. A função de elo entre o céu e a terra, de divino entre os humanos, o concebido sem pecado, pertence àquele que deixou a mais alta posição nos céus e se humilhou tomando forma de servo. Portanto, a posição não representa o homem, mas o homem representa a posição que ocupa.
Não é tão estranha assim a renúncia do Papa. Ele não é um super herói com super poderes e sim, um homem sujeito as mesmas dificuldades dos demais. Um homem bom, cordato, que se desvia do mal, tem compaixão dos semelhantes, porém, chora e sofre como os outros. O seu cargo não o isenta do sofrimento, do medo, das dores da vida, dos problemas e de todos os males que acompanha a espécie humana. Ele não é imortal. O Papa merece todo o respeito pelos quase oito anos conduzindo o rebanho de Deus nessa terra. Ao renunciar, demonstrava solidão, todos os seus asseclas parecia tê-lo abandonado já pensando em seu trono. Em seu último sermão, ele me pareceu cabisbaixo, semblante caído como se não tivesse conseguido realizar o que se propôs e, abatido, parecia deixar a obra incompleta.
É meu caro Joseph, vossa Santidade combateu o bom combate como pode, completou a sua carreira como deixaram, portanto, pode guardar a sua fé, essa é exclusivamente sua. Somente o sermão do Mestre dos mestres, o último, foi sui generis e Ele o fez crucificado de braços abertos e clamando ao céus afirmando que tudo estava consumado. Ele não desistiu e nem renunciou, mas derramou gota por gota do seu precioso sangue e enfatizou que sem Ele, nada podemos fazer.

Fique com Deus.

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