quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A bolha

No último domingo, quatro de junho de dois mil e seis, assistindo a partida de futebol entre a seleção brasileira e a da Nova Zelândia, vi uma cena comum. Um jogador, incomodado que estava por causa de umas bolhas no pé, viu-se obrigado a trocar suas chuteiras e, por fim, precisou ser substituído. Algo aparentemente normal. Digo aparentemente normal, porque já vi tanta gente com problemas de bolhas nos pés. Aliás, quem de nós nunca sofreu com uma bolha no pé? Aquele sapato apertado, ainda novo, mas barato, material de segunda categoria que causa bolhas nos pés. Ou até mesmo por andar descalço em lugares áridos? A bolha nunca foi a preocupação e sim o pé de quem a possuía. Mas porque essa bolha tinha de aparecer naquele pé? O pé era especial e a bolha se tornou “a bolha” essa bolha era especial, ela estava no pé de um fenômeno. Digo fenômeno, não pelo futebol que vem demonstrando em campo, porque está parecendo uma bolha, mas pela repercussão que a bolha proporcionou. A bolha foi um fenômeno e o fenômeno virou uma bolha. A bolha durante três dias tornou-se mais importante do que a bola. Se uma bolha incomoda muita gente, cinco bolhas incomodam muito mais. Milhões de pessoas, quem sabe bilhões, assistiram no dia seguinte à jornada da bolha. Era tanto assunto sobre a bolha que especialistas em bolhas deixaram seus afazeres apenas para esclarecer os perigos da bolha. Claro que não era uma bolha qualquer, aliás, era uma bolha qualquer, apenas onde ela foi aparecer é que era a questão. A bolha nos fez esquecer tantos problemas mundiais como a guerra no Iraque, a questão Palestina e Israel, a fome na África etc...enfim o mundo virou um bolha. Foi a primeira vez que ouvi falar tanto de uma bolha como essa. Especialista de um grande grupo de material esportivo, responsável por causar a bolha, precisou justificar-se, analisar, e afinal, teve de concluir a contra gosto que a causa da bolha, fora um problema em seus produtos. A ação contra a bolha precisou ser rápida e eficiente. Não poderia haver erros. Milhões de dólares poderiam ser perdidos caso a bolha não fosse explicada a contento. Era necessário estourar aquela bolha antes que ela se transformasse em uma bolha assassina. Após três dias de esgotantes idas e vindas, notícias desencontradas, e de tanto frisson sobre a bolha, que não esperava tanto alarde, ela mesma resolveu se implodir. A bolha estourou. É isso mesmo, do modo como surgiu, ela foi embora. Mesmo depois de partir a bolha ainda vem causando indagações, dúvidas e suspeitas pelos quatro cantos do planeta terra. O mundo inteiro assistiu perplexo a saga de uma bolha. Depois que a bolha estourou podemos notar que tudo é uma bolha. Grandes objetivos e realizações, depois que os atingimos, podem ter sido apenas uma bolha. Sonhos, casamentos, carreiras, grandes negócios viram bolhas. Uma pequena bolha transtornou o mundo. Em todos os meios de comunicação não víamos e ouvíamos outra coisa se não fosse sobre a bolha. Jornalistas queriam a qualquer custo informar o mundo sobre aquela bolha. O troféu do jornalismo era dar informação que ninguém deu sobre a bolha. Apenas espero que nessa copa, o nosso sonho do hexa mundial não se transforme em uma bolha. E que eu não tenha de escrever sobre o estouro da bolha do hexa. Que essa bolha quando estourar, traga grande alegria para os cento e oitenta milhões de especialistas em bola. A bolha é uma bola, o mundo é uma bola. Que a bolha não impeça o fenômeno de jogar bola. Viva a bolha...

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