quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Exame de próstata...ufa! que sufoco

Algum tempo atrás precisei fazer alguns exames cardiovasculares, algo rotineiro, próprio da idade de quem já está avançando nos dias, para que nada nos pegue de surpresa. Mas a gente sabe que ele, o coração, quando quer nos surpreende. Ele é especialista nisso. A tensão que fiquei no dia foi impressionante. Aquele monte de fios monitorando meu peito, médicos atentos às minhas reações, mediam a pressão arterial seguidamente enquanto me esforçava na esteira. Foi estressante mas nada que um ser humano comum não faça com facilidade. Tudo bem, você está vendendo saúde, disse o doutor brincando comigo. Eu acreditei, pois me sentia em excelente forma física. Realmente os resultados comprovaram que meu estado físico não eram ruim, pelo contrário estavam até muito bom, ou melhor, não vamos exagerar, normal, pela idade.
Depois ele me perguntou se eu já havia feito exame de próstata. Engoli seco. Suei frio. Tentei em frações de segundos pensar o que responder, mas a minha língua foi mais rápida do que o meu pensamento. Ainda não, respondi timidamente. Então vamos encaminhá-lo à um urologista. Nesse momento o coração disparou talvez mais do que quando me esforçava na esteira. Olhei bem pra ele e perguntei, mas esse exame não é para homens acima dos cinquenta anos. Não, ele me respondeu, a partir dos quarenta e cinco é bom começar a fazer. Booommm, retruquei. Quer dizer, necessário ele corrigiu e foi escrevendo nos papéis. Se eu tivesse algum problema no coração, já teria sido reprovado naquele momento. Vamos lá, pensei com meus botões. Eu sabia que um dia teria que passar por isso, mas não esperava que fosse tão cedo.
Sai daquele consultório com os papéis para os exames e muito pensativo. Lembrei-me das mulheres, pois sempre ouço a minha falar do constrangimento que passam periodicamente em consultórios para exames ginecológicos, principalmente quando se trata de um médico e não de uma médica que faz o exame. Tentei então me acalmar, mas não conseguia parar de pensar no bendito do exame. Como esquecer! Caminhava e imaginava como seria tal exame, o dos homens, e não o das mulheres. O delas, por informações eu imaginava a cena desconfortante. Mas agora, mesmo antes de realizá-lo eu já me colocava na mesma situação. Não sabia o quanto era folclore e o quanto era realidade o que se comentava a respeito desse exame.
Chequei em casa e nem mesmo tive coragem de falar para a esposa sobre o exame. Temia ser ela a primeira a rir do meu constrangimento. Falei sobre os testes ergométricos, da minha forma física, enfim, engrandeci a minha masculinidade mais do que era necessário, mas por dentro, o frio na espinha corroía com medo do tal exame. Era uma segunda-feira, resolvi esperar e não comentei com ninguém durante aquela semana. Para aumentar meu espanto, na quarta-feira seguinte, vejo na internet o escândalo que um deputado federal fez na tribuna do congresso ao relatar o sofrimento e o constrangimento que passara ao realizar tal exame. Se ele, um deputado, famoso, cheio do dinheiro, poderia ir aos melhores médicos e hospitais, passou por isso, imagine eu, um mero cidadão desconhecido. A adrenalina aumentou de nível.
Percebi que os relatos, apesar de fantasiosos, eram mais realidade do que folclóricos. Criei coragem e falei para esposa esperando o seu sorriso sarcástico, mas ela me encorajou. Todo homem deveria fazer esse exame, disse ela. Não sei se realmente era para me encorajar ou por perceber a minha tensão e querer aliviar a minha pré ocupação. Durante aquela semana procurei especular entre os colegas de serviço, estávamos todos na mesma faixa etária, se algum deles já havia feito tal exame. Nem foi preciso ir a fundo no assunto que logo começaram as brincadeiras.
Os mais engraçadinhos até afirmavam que tinha médico que não usava o dedo, deixando nas entrelinhas o que queria dizer. Mas dei graças a Deus pois um deles havia feito o exame e me falou como era e até me indicou o consultório onde havia realizado o exame.
Se eu já estava desconfiado, agora tinha certeza do constrangimento que passaria. Lutei comigo mesmo e até pensei em não fazer o exame, mas depois que falei para a esposa, nem tinha como recuar e todos os dias ela me cobrava se já havia marcado a data. Marquei a data. Pensei em uma clínica bem distante para não mais ver a cara do médico novamente. Tinha exatos dez dias para me concentrar e me preparar psicologicamente. Sempre que tentava especular sobre o exame, começava as piadas, alguns falavam de câmera escondida, de homens que se apaixonam pelo médico e querem repetir o exame semanalmente, enfim, todas essas coisas para confrontar a nossa masculinidade. Pensei que se era constrangedor para mim, também o seria para o doutor.
Por fim, me enchi de entusiamo e palavras positivas e relaxei por uns dias. A gente deve fazer coisas que não gosta quando são necessárias. Todos os homens devem passar por isso, lembrei do que disse a minha esposa. Eu sou homem, enchi o peito e afirmei para mim mesmo. Não me importaria com comentários posteriores. Na véspera do dia marcado, ainda pensei em transferir a data para outro dia. Deixa de bobagem, faz logo e fica livre, disse ela. É, você tem razão, respondi. No dia seguinte lá estava eu atemorizado, suando frio, mãos geladas, meu coração batia descompassado. De longe já avistei o consultório. A minha vontade era passar e ir embora, mas se já tinha chegado até aqui, entrei sem olhar para os lados.
Na recepção, duas lindas garotas faziam o pré atendimento. Entreguei meu cartão do plano de saúde, falei o nome do médico e elas logo entenderam que era mais um a ser exposto. Caminhei até a sala de espera, notei cerca de seis ou sete homens aguardando e percebi que a angústia se estenderia por mais tempo. Assim que me afundei na poltrona, que parecia ser própria para relaxamento, uma porta se abriu e um homem aparentando a minha idade saiu todo constrangido sem olhar para ninguém e rapidamente desceu as escadas. Outro foi chamado.
A porta ficou entreaberta e me esforcei para tentar ouvir a conversa entre eles, mas o médico imediatamente a fechou. Tentei ler alguma revista interessante, mas nada parecia se interessante naquele momento. Depois de uns quarenta minutos e de duas pessoas na frente eu fui chamado.
Tudo parecia haver parado naquele momento para somente eu me movimentar. Levantei-me levando comigo a revista que estava lendo e ao perceber, voltei e a deixei na mesa. O chão desapareceu sob meus pés, as pessoas que estavam ali me olharam quando eu levantei, invoquei o nome de Jesus e adentrei aquela sala, esperando encontrar ali um carrasco com seu machado afiado, pronto para cortar minha cabeça. O doutor se levantou para me receber ante a sua mesa e ao cumprimentar-lhe, meus olhos se fixaram em suas mãos, queria ver a grossura de seus dedos que nem reparei na sua fisionomia. Era um senhor na faixa dos seus setenta anos.
Ao contrário do carrasco que imaginei, deparei-me com um senhor de cabelos grisalhos, voz calma gestos corteses, educado, mas na minha mente era apenas um disfarce. Um monstro se escondia por baixo daquela aparência. Boa tarde, disse-me. Boa noite, respondi pois já passava das dezoito horas, tentei descontrair a conversa inicial. Mostrei-lhe o resultado de alguns exames, inclusive o de (psa) próstata sanguínea e ele começou a explicar a necessidade de tal exame em homens a partir dos quarenta anos até chegar a necessidade do exame de toque retal. Senti que havia sido fisgado pela armadilha e agora não tinha mais saída. Apesar do frio que fazia eu suava e suei mais ainda quando ele pediu que baixasse as calças virasse de costa, inclinasse o pescoço para frente formando um ângulo de quarenta e cinco graus com o corpo.
Enquanto isso, ele tranquilamente calçou suas luvas lambuzou-me com um gel e sem a cortesia que demonstrava anteriormente, fez o exame. Quase desmaiei. Foi angustiante ter que passar por isso. Eles não se preocupam com a vergonha do paciente. Tive a impressão que ele queria acabar com qualquer preconceito machista que houvesse. Senti-me humilhado igualmente ao nobre parlamentar. Não chorei de vergonha. Depois ele me indicou o banheiro e solicitou que me limpasse daquele gel gosmento. Não houve mais conversa entre nós. Apenas ao sair do banheiro entregou os papéis dizendo que a minha próstata estava ótima como a de um menino. Não sei se foi elogio eu se tirou um sarro. Recomendou que no ano seguinte eu voltasse. Concordei, e como os que saíram antes de mim, eu também sai sem olhar para ninguém.

Segui chorando. Um ardor dentro de mim insistia em me incomodar. Queria chegar logo em casa, tirar aquela roupa, tomar um banho e esquecer tamanha humilhação. Quando relatei o exame às pessoas mais próximas a mim, elas riram. Vi que o ditado popular que diz que pimenta nos olhos dos outros é refresco, era verdade. Já faz quase cinco anos e até o momento não voltei mais ao urologista. Mas como agora acho que devo, não por que quero, mas porque é preciso fazer novamente outro exame de próstata, lembrei-me do sufoco...ufa! e que sufoco...

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