Hoje,
trinta e um de maio, dia internacional sem tabaco, é mais uma dessas datas que
ninguém sabe, fica-se sabendo apenas no dia e quando se sabe é por acaso e quem
não faz uso do tabaco. Logo pela manhã já fui lembrado desse dia. Ao sair de
casa, como faço costumeiramente todos os dias, desço de elevador. Para a minha
surpresa, nesse dia, já encontrei alguém no elevador desesperado, segurando um
cigarro na ponta dos dedos. A ansiedade e o desejo de soltar algumas baforadas
de prazer parecia tomar conta daquele
ser humano. Observava angustiado os andares passando pelo visor do elevador que
se pudesse fazia com que o mesmo fosse mais rápido apenas para acender o seu
cigarro. Entrei desejei-lhe um bom dia e esperei concluir a descida. Dois
andares abaixo entra uma senhorita. Noto pela expressão do cidadão que ele
estava apressado. Tornou a apertar o botão térreo como implorando para chegar
mais rápido. Ao abrir a porta o cidadão saiu desesperado não sendo nem um pouco
cortês, educado e cavalheiro esperando que a senhorita que nos acompanhava
saísse primeiro. Soltou a porta do elevador e num gesto rápido acendeu o
cigarro soltando a fumaça no rosto de quem o seguia. A senhorita fora
privilegiada em receber toda aquela fumaça em seu rosto, e com um gesto
tentando fazer das mãos e dos papéis que segurava um ventilador, como se
procurasse um pouco de ar, olhou-me desaprovando tal atitude enquanto se
desviava da fumaça que flutuava no ar a qual tínhamos de atravessar.
E o cidadão caminhava feliz entre uma tragada e
outra. Pude perceber a importância desse dia e como as pessoas estão
constituídas organicamente dos produtos maléficos que compõem o cigarro. O
cidadão não aguentava nem mais um minuto sem inalar aquele produto. O corpo
exigia dele uma satisfação oriunda de algo que o prejudicava. Aliás, o cheiro
da composição química já fazia parte da própria pessoa dele. Apesar de bem
trajado, cheirava fumaça. Apenas ele, ou quem faz uso do cigarro, não percebe
isso. Pensei até em exortá-lo quanto à sua saúde, mas com receio de ser
indelicado ou taxado como intrometido na vida alheia e ao mesmo tempo não
querendo ouvir uma resposta desagradável, segui o meu caminho acompanhando o
cidadão que mais parecia uma chaminé ambulante. Pelo caminho afora fui vendo as
pessoas se equilibrando nas pontas dos dedos. Em filas, em bancos, em escadas
rolantes e em todos os lugares vi pessoas sendo alimentadas pelas pontas dos
dedos. Alguns mais desesperados do que outros, tinham suas faces já deformadas
de tanto sugarem aquela fumaça que já formava uma cavidade profunda em seus
rostos. Quantos que após um cafezinho, não conseguem resistir ao
cigarrinho...Outros andam de um lado para outro só se acalmam quando saboreiam
o cigarro. E tantos que possuem seus dedos amarelados, bigodes queimados, por
não resistirem a ausência do cigarro. Quanto se tem gasto em saúde pública para
tentar controlar ou mesmo amenizar os resultados cancerígenos do cigarro...é um
mal que não se pode frear...Acredito que todos nós conhecemos alguém que tentou
com suas forças derrotar o cigarro. Mas o esforço foi em vão, foram derrotados
por ele, e como troféu o exibem nas pontas dos dedos. Segui pensando em quantas
pessoas conhecia que acreditavam ter saúde de ferro, o peito e nervos de aço,
na consciência se diziam tranquilos, era só alegria e prazer total, pés firmes,
vontade própria, alguns diziam ter, mas por causa de andarem sempre com o
cigarro nas pontas dos dedos, muitos hoje não estão mais entre nós, e outros
desmoronam-se diante da fragilidade da vida. Quantos ainda acreditam ser
invencíveis e que nada os pode abater. Mas na
realidade, a cabeça e coração estão duros como pedra, o peito de aço
está desabando, os nervos já estão a flor da pele, os corações de pedra, estão
sendo implodidos, substituídos, paralisados...a consciência antes tranquila,
hoje é agitada, estimulada, complicada, cauterizada, insensível, o prazer agora
é limitado, onde há mais lugar para a ira do que alegria, vontade agora é dos
outros, a saúde virou pó, os pés já vacilam na caminhada diária. A fumaça que
sugam para os seus pulmões está inflando as pessoas de ansiedades, medos, ódio,
estresse que só são aliviados com um cigarro nas pontas dos dedos. As pessoas
estão se fechando prontas para explodirem...Uma pequena faísca, incendeia um
bosque, derrete aço, mata pessoas...A chama está acesa...É como um leme que
controla o navio, assim são as pessoas controladas pela ponta dos dedos...
estão vivendo na ponta dos dedos. E em casa, quantos são obrigados a conviverem
entre pontas de cigarros espalhadas pelos quatro cantos da casa sem falar no
odor que torna-se uma característica ambiental. Estamos vendo as pessoas sendo
sufocadas em nome do prazer aparente. Mães que já alimentam seus filhos no
próprio ventre com os males da nicotina. Cada dia mais pessoas estão aderindo
ao uso desenfreado do cigarro do que aqueles que desejam parar. Já é necessário
doses cada vez maiores de tabaco pra se manter o equilíbrio do corpo. *Quando mais tabaco uma pessoa fuma, maior o
risco de desenvolver câncer, aponta estudo - confirmando o que muitos outros já
demonstraram. O cigarro é resultado de mais de quatro mil toxinas algumas
delas, o alcatrão por exemplo, contém substâncias radioativas comprovadamente
cancerígenas pois alteram os núcleos das células do corpo humano. Em consequência,
as células deixam de respirar e produzir energia, o que faz com que o fumante
tenha o fôlego prejudicado e fique exposto ao risco de doenças cardiovasculares
e respiratórias. A nicotina, outra das substâncias encontradas no cigarro,
diminui a capacidade de circulação sanguínea, aumenta a deposição de gordura
nas paredes dos vasos sobrecarrega o coração, podendo levar ao infarto do
miocárdio e ao câncer, mas seu papel mais importante é reforçar e potencializar
a vontade de fumar. Ela atua da mesma forma que a cocaína, o álcool e a
morfina, causando dependência e obrigando o fumante a usar continuamente o
cigarro. Em altas concentrações, é também venenosa. Esse é um pouco dos
males que muitos carregam nas pontas dos dedos. Isso sem falar nos prejuízos
causados aos trabalhadores e a economia do País de modo geral. São faltas ao
trabalho, baixa produtividade – um funcionário, segundo pesquisa – ao se
ausentar para fumar, perde dez minutos por cigarro fumado. Mortes prematuras,
aposentadorias precoces, incêndios são alguns riscos que correm conscientemente
quem exerce o direito de fumar. E muitos desses males são estendidos aos não
fumantes pois tornamo-nos fumantes passivos. Então vale a pena refletir. Se sua
vida está nas pontas dos dedos, não deixe a nossa nas pontas dos seus dedos...
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