quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A Viagem

Nessa época do ano, dezembro, e principalmente no final do mês, quanto mais nos aproximamos da noite de natal, a euforia toma conta das pessoas. A alegria, não apenas por causa da noite especial de natal, mas também pela ansiedade de poder rever familiares e parentes distantes, gera nas pessoas uma expectativa que faz com que a nossa mente viaje na velocidade da luz. A expectativa dos encontros aumenta o nível de adrenalina. Nessa época, é momento para se refletir sobre o ano que está findando, sobre os objetivos alcançados, das frustrações pelos não realizados, das perdas, dos ganhos, naquilo que deu certo e no que deu errado, enfim, é momento para rever as rotas, os planos e objetivos para o ano seguinte.
Essas e outras coisas são algumas questões que toma conta dos corações da maioria dos seres humanos. E nessa busca para realizarmos nossos sonhos e desejos, viajamos entre mil projetos. Outras vezes tropeçamos no desânimo, levantamos e caímos por diversas vezes, mas em cada ano prosseguimos a nossa viagem em busca dos objetivos. Sonhamos com um mundo exterior diferente, sem frustrações, sem medo, sem incertezas, mas alcançamos bem menos do que sonhamos. Sonhamos com uma boa saúde, um corpo físico esplendoroso, atlético, perfeito.
E para isso, alguns não medem esforços, suam, correm, se exercitam, deixam de comer por longos períodos, trocando pratos saborosos por dietas influenciadas por atores e atrizes almejando ficar com corpo semelhante ao do artista. Há os que fazem tais dietas por recomendação médica, é claro, e naturalmente se abstendo dos alimentos físicos, mas mendigando o pão da tranquilidade e da alegria, e para isso, gastando suas fortunas em Spas obedecendo as rígidas disciplinas alimentares. Há outros que saem de férias, planejam suas viagens, arrumam suas malas, traçam seus destinos em busca da felicidade.
Outros, preferem o silêncio do campo, o canto dos pássaros, o borbulhar de águas correntes de rios tranquilos e até se esquecem do tempo em uma pescaria relaxante, e assim, vislumbrando a natureza, passam a meditar na obra do Criador do universo, afinal, esse momento é diferente, é mágico, é transcendente por causa Dele. E assim, cada um, de uma maneira ou de outra, é tomado por esse clima festivo e ao mesmo tempo solitário, entre um sonho e a sua dura realidade, dos encontros esperados e dos desencontros inesperados, de fartura e de escassez.
Com esse pano de fundo natalino, comecei minha viagem, não em busca de férias ou descanso ao meu físico, mas descanso para a minha alma. Talvez essa seja a minha mais longa viagem, para dentro de mim mesmo. Não em busca de prazeres, mas de respostas. Não pensei em me distanciar dos problemas, mas enfrentá-los de maneira confiante. Quanto de nós nessa época, ficamos extasiados diante de uma mesa farta e ao mesmo tempo morremos desnutridos psiquicamente sem ouvir o clamor da alma e do espírito.
Então arrumei as malas e rumei ao interior do meu ser. Fui observando os caminhos do meu coração e vi como eram bonitos e ao mesmo tempo enganosos. Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, quem o conhecerá? É como se uma fonte pudesse dar água doce e salgada ao mesmo tempo. Por essa razão notei que alguns caminhos eram rodeados de flores e que enquanto caminhava por eles, podia sentir a brisa alegre do vento que se misturava com a alegria que emanava de um coração alegre. Mas no mesmo caminho, parte dele era de curvas sinuosas e traiçoeiras onde não havia sinalização e elas apareciam repentinamente murchando as flores e trazendo um sol que além de escaldante tirava toda a beleza do caminho e com o cansaço esmoreci. As curvas eram as dificuldades da vida que tornavam o caminho cada vez mais sinuoso e escorregadio, e assim, o coração pesado não conseguia sorrir.
Não alegrava o meu rosto. Nesse momento encontrei-me com a minha mente e o meu pensamento que me ensinaram a não olhar e nem seguir por essas partes desse caminho. Eu não consegui desviar dessa parte do caminho, pois acompanhado como estava por uma forte emoção, a minha vontade ordenou parar e seguir a voz da razão. Procurei fechar os olhos a tudo que via, segurando-me apenas nas mãos do equilíbrio e da tolerância, tentei prosseguir a viagem. Ondas de medo começaram a se intensificar e quase perdi o equilíbrio, mas segurei com mais firmeza nas mãos da tolerância e relevei meu pensamento, mas a vontade e a emoção pesaram sobre meus ombros ao passar pelas nuvens do desentendimento que se aproximava. A ansiedade passou repentinamente por mim, deixando o vento da tristeza me envolvendo e me prendendo, abafando ainda mais a minha emoção. A solidão chegou antes de mim e já me esperava com uma angústia que me enfraquecia e que não tive outra saída senão clamar pela autoestima para que soprasse aquela nuvem para longe, dando-me passagem para prosseguir.
Ainda vi pela janela do sentimento quando a maldade sorriu para mim, um sorriso sarcástico, mas fechei a cortina do passado para não me distrair e nem percebi que a falsidade e o rancor se aproximavam tentando uma ultrapassagem, visto que seguiam na mesma direção que eu. Fiquei um pouco desnorteado em minha viagem, mas por fé resolvi seguir sem olhar as barreiras da mentira que apareciam no caminho. Percebi que a fé era a melhor direção a seguir. Porque coisas não vistas pode a fé tocar. Então, mesmo assustado sobre os caminhos do futuro, segurei novamente na mão do equilíbrio e passei pelas terras áridas da incompreensão e da ingratidão observando com a coragem o orgulho que ia ficando para trás. Nesse momento dei uma parada obrigatória para refrescar a memória, enchi a vida de sonhos, calibrei os pulmões de esperança, purifiquei a consciência com a paz e segui rumo ao meu interior.
Descobri fascinado observando o espetáculo da vida, que no palco do nosso interior, todos os caminhos são iguais. Todos somos dotados dos mesmos sentimentos, das mesmas angústias, das mesmas dificuldades, enfim, somos da mesma espécie, seres humanos. Em alguns momentos podemos estar cheios de alegria e no momento seguinte mergulharmos em uma profunda tristeza. Mas isso é o êxtase da vida, o seu segredo. Esses são os trajetos da nossa viagem. Podemos deslumbrar picos e montanhas em determinado momento e em outros, passamos pelos desertos áridos do nosso temperamento e do nosso mal humor.
A única certeza em nosso viver é que somos pessoas totalmente incertas e inconstantes. Não somos lógicos. Somos públicos e particulares. Seguros e inseguros. Nossos valores não são medidos em espécie monetária, mas sim em algo invisível, porém sobremodo precioso. Temos um tesouro em vaso de barro. Enquanto o nosso corpo e alma clama por prazeres infindos, lá, no mais profundo do nosso ser, o nosso espírito, embora tenhamos sido saciados com os maiores prazeres, se essa parte do nosso ser for neglicenciada, tudo parece esvair-se e nada nos completa plenamente. Por isso acredito que cheguei ao meu destino.
Descobri que preciso ser enchido totalmente de dentro para fora, do interior para o exterior e assim a nossa viagem em busca de nós mesmo, terá um final feliz. E assim foi. Encontrei no final dessa viagem o amor que estava acompanhado da paz e que ambos traziam consigo a felicidade, o sorriso espontâneo, a compreensão que por sua vez era seguida pelo perdão. Descobri que dentro de mim mesmo estão todos os tesouros insondáveis da sabedoria e que o Deus Criador que iluminava o meu caminho, escolheu as coisas loucas desse mundo para confundir as sábias, porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens. Descobri que Ele mesmo escolheu as coisas vis desse mundo, as que não são, as desprezíveis, para aniquilar as que são para que todo aquele que se glória, glorie-se na sua presença. Descobri que tudo o que sentimos, Ele sente também e compreende as nossas fraquezas e dificuldades, e que também não dá muita atenção aos nossos erros, mas se preocupa com a nossa pessoa.

Ele elevou as virtudes humanas e pretende por nosso intermédio viver a nossa vida. Ele sabe o que é padecer, porque foi homem de dores, e carregou as nossas dores sobre a cruz e pelas suas pisaduras fomos sarados. Então agora que cheguei ao final dessa viagem fantástica, assim como esse ano que chega ao seu final, espero que a sua viagem também possa ter o mesmo final e que você encontre o verdadeiro sentido da vida Jesus Cristo, o nosso porto seguro...

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