Na
correria de uma estação de metrô, entre um vai-e-vem de pessoas
atrasadas e apressadas, a figura daquela mulher parada contrastava
com o movimento em sua volta. Era uma senhora loura, na casa dos seus
sessenta anos, elegantemente bem trajada e não aparentava que seguia
ao trabalho. Ela estava ali olhando para um lado e para outro que até
pensei que esperava alguém. As pessoas que por ela passavam, olhavam
e alguns insistiam em olhar para trás, mas ela mesmo não tinha nada
que pudesse chamar tanto a atenção. Logo ao passar pelas catracas,
acompanhando a correria do povo, eu também olhei para aquela senhora
e percebi a razão de tantos olhares espantados. Ela trazia junto a
si uma enorme mala que com certeza aguardava alguém para ajudá-la
descer as escadas. Eu também já ia passando por ela quando nossos
olhares se cruzaram e para mostrar que ainda existem cavalheiros,
ofereci-me para socorre-la. Ela agradeceu e respondeu que estava
aguardando um funcionário vir e modificar o curso da escada rolante
para que ela pudesse descer.
Eu
desci, perdi o trem que estava na plataforma e fiquei aguardando o
próximo. Em questão de segundos ela descia as escadas e embalada
pelas rodinhas da mala, seguia puxando-a e parou ao meu lado. Outro
trem chegou e parou abrindo as portas bem a minha frente. Novamente
exercitei o meu senso de cavalheiro e permiti que ela entrasse
primeiro. Algumas pessoas se anteciparam a nós e antes dela e da
mala, entraram no trem. O peso daquela enorme mala era proporcional
ao tamanho. Ao entrar, as rodinhas ficaram retidas no vão entre o
trem e a plataforma e ela não tinha forças suficientes para puxá-la
para dentro. Como eu ainda não havia entrado e com receio que soasse
a campainha do trem, dessa vez, atrevi-me em uma atitude igual a do
bom samaritano, empurrei a mala, e logo que entramos, soou a
campainha e as portas se fecharam. Ela seguiu puxando a mala pelo
corredor à esquerda esbarrando em todos que estavam em pé,
procurando um espaço adequado para ela e para a mala e eu fui para
direita, do lado oposto, instintivamente, um pouco distante dela.
Procurei
acompanhá-la visualmente para ver se conseguia um lugar para se
sentar. Ela como era de baixa estatura, se perdeu entre as mochilas
que as pessoas carregavam. Não sei se passou uma ou duas estações
e lá vinha ela novamente em minha direção puxando a enorme mala
procurando um assento reservado para idosos, mas, todos estavam
ocupados. Agora exercitei a solidariedade, apertei um pouco mais um
jovem que estava ao meu lado que não percebeu a dificuldade da
senhora com a mala, pois ouvia o som e cochilava entre os embalos do
trem, oferecendo-lhe um pequeno espaço ao meu lado. Ela esboçou um
pequeno sorriso de agradecimento. Olhei com mais detalhe aquela mala
e realmente parecia ser maior do que quando no início eu a vi.
Acredito que a viagem, pelo tamanho da mala, seria apenas de ida. A
mulher parecia seguir de mudança, estava levando a casa inteira
dentro daquela mala. Lembrei-me da frase estampada no ônibus da
seleção brasileira: Lotado,
o Brasil inteiro está aqui dentro,
e sorri pra mim mesmo.
Fiquei
imaginando aquela senhora na hora do desembarque, mas eu não queria
estar presente. Poucas estações a frente novamente a surpresa. Dois
senhores, provavelmente pai e filho, entraram no trem com mais cinco
malas, o mais novo com três e o senhor com duas, pouco menores do
que a da senhora ao meu lado. A porta ficou sem saída. A exposição
de malas tomou conta de quase todo vagão. As pessoas se acotovelaram
ainda mais com receio de serem impedidas para saírem do trem na
estação seguinte. Se uma mala já incomodava muita gente, seis
malas, incomodavam muito mais. Agora entendi porque chamamos aquelas
pessoas que nos são inconvenientes de “malas sem alças” ainda
que seja em tom de brincadeira. Não estou com isso dizendo que
aquelas pessoas com suas malas fossem inconvenientes, mas,
proporcionaram um momento de inconveniência. Imaginem a correria
pela manhã nas estações do metrô, o entra e sai de pessoas, e
seis malas, sendo uma com mais de um metro quadrado atrapalhando os
movimentos dos passageiros!
Não,
não estou exagerando, a mala daquela senhora e daqueles dois homens,
causaram sérias dificuldades aos usuários do metrô. Depois que
eles entraram não se podia entrar pela mesma porta e até o corredor
ficou intransponível. Os apressadinhos entravam correndo e
imediatamente saiam para entrar novamente por outra porta mais livre.
Pelo menos eu sai com a consciência aliviada, pois, não me lembro
conhecer ninguém inconveniente que eu possa considerar uma “mala
sem alça” e que eu tenha que carregar, mas que eu ajudei a
empurrar uma, ah, isso eu ajudei...
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