quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Envelhecer

Desde os primórdios da era moderna, o homem tem se preocupado em encontrar a fonte da juventude, ou seja, tem buscado uma maneira de manter a jovialidade permanente. A busca desenfreada para manter o corpo saudável, tem feito o homem envelhecer com mais rapidez, porque passou a ter uma coisa a mais em que se preocupar. Envelhecer deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser uma síndrome. Os sulcos na pele e as cãs, estão deixando a humanidade pré-ocupada com o bem-estar físico mais do que o psicológico. É impossível barrar a natureza quanto ao processo de envelhecimento. Essa palavra parece ser sinônimo de peste ou de doença incurável, onde travamos uma batalha inútil contra o tempo. A sociedade tem cobrado, principalmente das mulheres, um corpo escultural eterno.
E elas obedecendo a ditadura da beleza, enfrentam todos os tipos de experiências para tentar manter um corpo jovem. Algumas pagam com a vida e não encontram tal fonte. O velho de 80 anos não tem o direito de envelhecer naturalmente, lhe cobram força e vigor, disposição e desempenho como se fosse um atleta de 20 anos. A indústria farmacêutica agradece. Já é possível ver velhos em corpos de jovens e jovens em corpos de velhos. Tudo isso é anormal. As clínicas de rejuvenescimento com suas ramificações têm proliferado o medo em mulheres, de preferência, com muito dinheiro, a investirem em sua saúde física. Tratamento com fios de ouro, com luzes, cremes especiais, tudo em nome da boa aparência. A aparência física que muitos procuram, pode esconder uma doença crônica interiormente.
As mulheres ficaram reféns de um padrão estético exigido por uma sociedade consumista, que as escraviza e negocia suas almas. Ficam presas interiormente, e acabam envelhecendo no lugar que jamais deveriam envelhecer, em suas mentes. Dos pés à cabeça, a sociedade moderna exige da humanidade, especificamente das mulheres, algo impossível de se manter, a eterna juventude. Um sonho. Claro que grande número de homens tem acompanhado essa tendência. São verdadeiros Narcisos. E o pior é que se oferecem fórmulas mágicas através de equipamentos ultramodernos cujos resultados são insatisfatórios, ou, momentaneamente eficazes. A palavra silicone foi incorporada de tal maneira ao vocabulário feminino como se fosse sinônimo de comer ou beber. Passou a ser algo vital na vida das mulheres. Estão sendo padronizadas de acordo com a quantidade (ml) que possuem em seus corpos.
Estética corporal, facial, drenagem linfática, bronzeamento artificial. A lipoaspiração, tem feito vítimas em toda região do país. Nunca se realizou tanta cirurgia plástica como nesses últimos anos. A profissão caçador de gordura tem dado muito lucro. O culto ao corpo, o fitness, a aparência, insisto, esconde o verdadeiro ser humano que somos. Quantas pessoas “malham” diariamente, algumas até duas vezes ao dia e nada as fazem felizes. Mesmo assim são obrigadas a manterem-se em forma o ano inteiro, sendo privadas de alguns privilégios em razão de um desfile carnavalesco que dura apenas alguns minutos. A disputa pelo melhor corpo tomou as páginas dos jornais e revistas. Condomínios têm se tornado verdadeiras academias de ginástica com todos os tipos de aparelhos sofisticadíssimos, tudo para oferecer uma melhor qualidade de vida. Na comodidade de nossa sala, vendo televisão, já é possível fazer exercícios. Até em produtos alimentícios se oferece qualidade de vida.
Dietas riquíssimas em fibra, complexos vitamínicos, tudo isso para prolongar um pouco mais a expectativa de vida do ser humano. Tudo isso é muito bom e recomendável, mas o exagero, o culto ao corpo, a adoração física ao extremo, pode trazer sérias consequências interiores. Não se pode negar, o homem tem pago um preço muito alto em busca de uma melhor qualidade de vida. Estamos sendo levados a encontrar e manter a juventude em coisas e objetos como se a fonte da vida estivesse em algo material. Hoje estamos usando em demasia o controle remoto com suas múltiplas funções. A lei do menor esforço alcançou até a nossa mente. Tudo já vem enlatado. Cria-se o sedentarismo e ao mesmo tempo, se oferece motivos e razões para sairmos dele. A mídia é o nosso molde. O marketing está criando desejos e necessidades nos homens exteriormente, e com isso estamos esquecendo daquilo que realmente somos, seres humanos. Esperamos manter sempre a aurora da vida através do físico.
A figura do espelho parece oferecer um perigo assustador. Olha-se para ele como um detetive com sua lupa, procurando pistas de alguma deficiência em seus corpos. Ninguém se olha para admirar seu rosto, seus olhos, cabelos, enfim, a anatomia perfeita e o sincronismo preciso de seu corpo. Mas procura-se ver o quanto os seios ficaram flácidos, as nádegas, um sinal de ruga que apareceu, então surge o pânico. Apesar de fisicamente perfeitos, nunca se viu tanta gente velha em corpos joviais. A lâmpada da vida um dia irá se apagar e os vigias do corpo, nossos olhos, um dia se fecharão para sempre. Mas a velhice não reside nisso, e sim na arrogância, no orgulho, na violência, na concupiscência, na lascívia, na inveja, no ódio, no rancor, na mágoa, na morte através de drogas e anabolizantes, para em nome da saúde, manter um corpo saudável e assim acabamos com ela. Essas coisas nos deixam cada vez mais velhos.
Mas onde está a gentileza, compreensão, educação, paciência, humildade, bondade, amor fraternal? Se essas virtudes existirem dentro de nós e em nós aumentando, encontraremos o segredo da eterna juventude. Essas coisas não envelhecem, pelo contrário nos renovam interiormente dia a dia, ainda que o nosso exterior se corrompa. Sabemos que desde que abrimos os olhos para a vida, até o fechamento deles, um curto espaço de tempo ocorrerá. Para alguns, talvez isso dure 80, 90 anos, para outros sessenta, cinquenta, quarenta, mas o certo é que ninguém sabe quanto tempo teremos diante da eternidade. Portanto concluímos que a nossa vida é tão breve. Então me pergunto, temos medo de envelhecer, ou de velho ser? É preciso ter medo do nosso velho ser e não de envelhecer.
O envelhecer assusta homens e mulheres, principalmente em nossa cultura, onde o novo é super apreciado, esquecemos da sabedoria do velho. Envelhecer parece sinônimo de morte anunciada e continua abalando os pilares da medicina. Pois ao fecharmos os olhos à vida, ela não pode fazer mais nada. Queremos a todo custo manter nossos corpos joviais e nem percebemos quantas coisas já envelheceram e não notamos. Ainda que possamos prolongar alguns dias em nossa vida e aparentemente termos os nossos corpos sadios, contudo a velhice nos acompanha dia-a-dia. Está envelhecendo o amor, o romantismo, o caminhar de mãos dadas sem direção, pelo simples prazer de se estar juntos. As amizades envelheceram. Hoje é comum afirmarmos que temos muitos colegas, mas poucos amigos. Alguns até se orgulham de dizer que os amigos que têm, podem ser contados nos dedos de uma única mão. Temos centenas de amigos virtuais e quase nenhum real. Isso é velhice.


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