Desde
os primórdios da era moderna, o homem tem se preocupado em encontrar
a fonte da juventude, ou seja, tem buscado uma maneira de manter a
jovialidade permanente. A busca desenfreada para manter o corpo
saudável, tem feito o homem envelhecer com mais rapidez, porque
passou a ter uma coisa a mais em que se preocupar. Envelhecer deixou
de ser um processo natural da vida e passou a ser uma síndrome. Os
sulcos na pele e as cãs, estão deixando a humanidade pré-ocupada
com o bem-estar físico mais do que o psicológico. É impossível
barrar a natureza quanto ao processo de envelhecimento. Essa palavra
parece ser sinônimo de peste ou de doença incurável, onde travamos
uma batalha inútil contra o tempo. A sociedade tem cobrado,
principalmente das mulheres, um corpo escultural eterno.
E
elas obedecendo a ditadura da beleza, enfrentam todos os tipos de
experiências para tentar manter um corpo jovem. Algumas pagam com a
vida e não encontram tal fonte. O velho de 80 anos não tem o
direito de envelhecer naturalmente, lhe cobram força e vigor,
disposição e desempenho como se fosse um atleta de 20 anos. A
indústria farmacêutica agradece. Já é possível ver velhos em
corpos de jovens e jovens em corpos de velhos. Tudo isso é anormal.
As clínicas de rejuvenescimento com suas ramificações têm
proliferado o medo em mulheres, de preferência, com muito dinheiro,
a investirem em sua saúde física. Tratamento com fios de ouro, com
luzes, cremes especiais, tudo em nome da boa aparência. A aparência
física que muitos procuram, pode esconder uma doença crônica
interiormente.
As
mulheres ficaram reféns de um padrão estético exigido por uma
sociedade consumista, que as escraviza e negocia suas almas. Ficam
presas interiormente, e acabam envelhecendo no lugar que jamais
deveriam envelhecer, em suas mentes. Dos pés à cabeça, a sociedade
moderna exige da humanidade, especificamente das mulheres, algo
impossível de se manter, a eterna juventude. Um sonho. Claro que
grande número de homens tem acompanhado essa tendência. São
verdadeiros Narcisos. E o pior é que se oferecem fórmulas mágicas
através de equipamentos ultramodernos cujos resultados são
insatisfatórios, ou, momentaneamente eficazes. A palavra silicone
foi incorporada de tal maneira ao vocabulário feminino como se fosse
sinônimo de comer ou beber. Passou a ser algo vital na vida das
mulheres. Estão sendo padronizadas de acordo com a quantidade (ml)
que possuem em seus corpos.
Estética
corporal, facial, drenagem linfática, bronzeamento artificial. A
lipoaspiração, tem feito vítimas em toda região do país. Nunca
se realizou tanta cirurgia plástica como nesses últimos anos. A
profissão caçador
de gordura
tem dado muito lucro. O culto ao corpo, o fitness, a aparência,
insisto, esconde o verdadeiro ser humano que somos. Quantas pessoas
“malham”
diariamente, algumas até duas vezes ao dia e nada as fazem felizes.
Mesmo assim são obrigadas a manterem-se em forma o ano inteiro,
sendo privadas de alguns privilégios em razão de um desfile
carnavalesco que dura apenas alguns minutos. A disputa pelo melhor
corpo tomou as páginas dos jornais e revistas. Condomínios têm se
tornado verdadeiras academias de ginástica com todos os tipos de
aparelhos sofisticadíssimos, tudo para oferecer uma melhor qualidade
de vida. Na comodidade de nossa sala, vendo televisão, já é
possível fazer exercícios. Até em produtos alimentícios se
oferece qualidade de vida.
Dietas
riquíssimas em fibra, complexos vitamínicos, tudo isso para
prolongar um pouco mais a expectativa de vida do ser humano. Tudo
isso é muito bom e recomendável, mas o exagero, o culto ao corpo, a
adoração física ao extremo, pode trazer sérias consequências
interiores. Não se pode negar, o homem tem pago um preço muito alto
em busca de uma melhor qualidade de vida. Estamos sendo levados a
encontrar e manter a juventude em coisas e objetos como se a fonte da
vida estivesse em algo material. Hoje estamos usando em demasia o
controle remoto com suas múltiplas funções. A lei do menor esforço
alcançou até a nossa mente. Tudo já vem enlatado. Cria-se o
sedentarismo e ao mesmo tempo, se oferece motivos e razões para
sairmos dele. A mídia é o nosso molde. O marketing está criando
desejos e necessidades nos homens exteriormente, e com isso estamos
esquecendo daquilo que realmente somos, seres humanos. Esperamos
manter sempre a aurora da vida através do físico.
A
figura do espelho parece oferecer um perigo assustador. Olha-se para
ele como um detetive com sua lupa, procurando pistas de alguma
deficiência em seus corpos. Ninguém se olha para admirar seu rosto,
seus olhos, cabelos, enfim, a anatomia perfeita e o sincronismo
preciso de seu corpo. Mas procura-se ver o quanto os seios ficaram
flácidos, as nádegas, um sinal de ruga que apareceu, então surge o
pânico. Apesar de fisicamente perfeitos, nunca se viu tanta gente
velha em corpos joviais. A lâmpada da vida um dia irá se apagar e
os vigias do corpo, nossos olhos, um dia se fecharão para sempre.
Mas a velhice não reside nisso, e sim na arrogância, no orgulho, na
violência, na concupiscência, na lascívia, na inveja, no ódio, no
rancor, na mágoa, na morte através de drogas e anabolizantes, para
em nome da saúde, manter um corpo saudável e assim acabamos com
ela. Essas coisas nos deixam cada vez mais velhos.
Mas
onde está a gentileza, compreensão, educação, paciência,
humildade, bondade, amor fraternal? Se essas virtudes existirem
dentro de nós e em nós aumentando, encontraremos o segredo da
eterna juventude. Essas coisas não envelhecem, pelo contrário nos
renovam interiormente dia a dia, ainda que o nosso exterior se
corrompa. Sabemos que desde que abrimos os olhos para a vida, até o
fechamento deles, um curto espaço de tempo ocorrerá. Para alguns,
talvez isso dure 80, 90 anos, para outros sessenta, cinquenta,
quarenta, mas o certo é que ninguém sabe quanto tempo teremos
diante da eternidade. Portanto concluímos que a nossa vida é tão
breve. Então me pergunto, temos medo de envelhecer, ou de velho ser?
É preciso ter medo do nosso velho ser e não de envelhecer.
O
envelhecer assusta homens e mulheres, principalmente em nossa
cultura, onde o novo é super apreciado, esquecemos da sabedoria do
velho. Envelhecer parece sinônimo de morte anunciada e continua
abalando os pilares da medicina. Pois ao fecharmos os olhos à vida,
ela não pode fazer mais nada. Queremos a todo custo manter nossos
corpos joviais e nem percebemos quantas coisas já envelheceram e não
notamos. Ainda que possamos prolongar alguns dias em nossa vida e
aparentemente termos os nossos corpos sadios, contudo a velhice nos
acompanha dia-a-dia. Está envelhecendo o amor, o romantismo, o
caminhar de mãos dadas sem direção, pelo simples prazer de se
estar juntos. As amizades envelheceram. Hoje é comum afirmarmos que
temos muitos colegas, mas poucos amigos. Alguns até se orgulham de
dizer que os amigos que têm, podem ser contados nos dedos de uma
única mão. Temos centenas de amigos virtuais e quase nenhum real.
Isso é velhice.
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