Há um
provérbio popular que diz que desgraça pouca é bobagem. Custa-me
acreditar que uma dia alguém falou tal palavra. Não sei em que
circunstância foi dita essa frase e nem qual era a situação
enfrentada pela pessoa ao afirmá-la. Mas o fato é que isso se
tornou um mito. Nesses últimos dias, refleti um pouco mais sobre
essa questão, quando contei a minha situação de momento e alguém
repetiu essa frase. Desgraça pouca é bobagem!. Mas, passei,
graças a Deus, por algumas situações, independente do meu querer e
que fugiram do meu controle. Uma após a outra, foram produzindo uma
inquietação em meu espírito deixando-me sem saber o que fazer e a
quem recorrer. Quando pensava que uma situação estava sob controle,
surgia outra pior. Deitava e levantava envolto em preocupações.
Sentia-me
como uma folha sendo arrastada pelo vento, que é lançada de um lado
para outro, que quando consegue descansar, surge outra rajada de
vento e a leva para mais distante ainda. Estava enfrentando um
verdadeiro vendaval de problemas e situações incontroláveis. Era
como se estivesse sem bússola resistindo aos fortes ventos e a
tempestade em um mar em fúria. Por alguns dias, esqueci que o meu
capitão estava comigo enfrentando a tempestade no mesmo barco junto
a mim. Enquanto eu era assolado ele dormia tranquilamente. E quando
parecia que iria submergir, lembrei-me dele. Imediatamente e
desesperado, o acordei dizendo:
Mestre,
não se te dá que morramos, podes assim dormir, se a cada momento me
vejo já prestes a submergir? Salva-me nessa hora, bradei.
Era só
o que faltava, acordá-lo. Percebi que desgraça era a ausência de
Deus e que a graça é simplesmente, a sua presença. Ele por sua vez
repreendeu o vento e a tempestade e surgiu a bonança. Depois com
suave e doce voz ao meu coração falou, que a sua graça me bastava
e que o seu poder se aperfeiçoava na minha fraqueza, porque quando
eu era fraco diante dessas situações, então é que eu era forte
pois o deixava agir. E era a mais pura verdade. Enquanto eu me
debatia contra as situações, e as colocava diante de meus olhos,
por menores que fossem, apenas via as situações, não conseguia
enxergá-lo. Mas quando desviei meu olhos dos ventos e das
tempestade, quando mudei de foco e clamei pelo seu nome, a tempestade
e os ventos passaram. A paz voltou. A verdadeira paz voltou.
Ele
então passou a consolar-me e a me encorajar a viver a vida em sua
presença sob a sua graça. Disse-me que no mundo eu teria aflições
iguais a todos seres humanos, mas para eu ter bom ânimo, porque ele
venceu o mundo e eu sem ele, nada poderia fazer. Disse-me ainda que
entendia o meu desespero e a minha dor diante dos sofrimentos. Ele
fora um homem de dores e sabia o que era padecer, e que havia sofrido
muito mais do que todos seres humanos. Desde o seu nascimento e até
mesmo antes dele, já sofria. Foi perseguido, injuriado, maltratado,
rejeitado, escarnecido, zombado, humilhado, abandonado, ferido, e
finalmente preso e morto, mas nunca murmurou. Aprendeu a obediência
pelas coisas que sofreu.
Recobrei
então o ânimo e as forças, desviei meu foco dos meu problemas, e
pouco a pouco, eles foram perdendo o sentido de existirem. A luz no
final do túnel já era possível enxergar. Aprendi a confiar ainda
mais nele. Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação,
pois podia todas as coisas, pois ele me fortalecia. Aprendi que tais
ventos e tempestades, por maiores que sejam, não podem uma nau
tragar, que leva o Senhor, rei do céu e mar. Aprendi a ouvir, a
depender, a me acalmar, não desesperar, a esperar, a ter esperança,
a sonhar, a falar, a agradecer, a repartir, a sorrir mesmo sob fortes
tempestades.
Aprendi
que desgraça não é apenas, como estamos acostumados a pensar, a
perda de pessoas queridas, sofrimentos, privações, miséria, dor,
pobreza, enfermidade e coisas inerente ao viver humano. E graça não
é apenas a ausência dessas coisas, ou um presente imerecido ou algo
que recebemos gratuitamente. Podemos estar passando por algumas das
situações acima e ainda assim estar cheio da graça. Porque a graça
é uma pessoa. Não é algo que nos deixa contente, mas uma pessoa
que nos acompanha e faz-nos felizes. A tua graça me basta. Portanto,
diante de qualquer situação, através de sua graça, da sua
presença, aprendo em tudo uma lição...
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