É impossível se viver em uma
cidade grande e não acompanhar o seu ritmo alucinante. Cada dia que
inicia parece que temos menos tempo para viver. Se tivéssemos um dia
de vinte cinco ou trinta horas, ainda reclamaríamos da falta de
tempo para executar tantas tarefas e administrar os problemas que
surgem. As horas passam depressa, é preciso remir o nosso tempo,
aproveitá-lo melhor para não sermos engolidos por ele. E por falar
em ser engolidos, tenho percebido que por causa dessa velocidade
urbana, as pessoas estão engolindo tudo o que aparece pela frente.
Muitos trabalhadores que saem cedo para o serviço, nem mesmo têm
tempo para um cafezinho em casa. A falta de tempo é a nossa
principal justificativa para algumas atitudes que tomamos.
Atentos a fatia de mercado
dessas pessoas que não tem tempo, foi que muitos desempregados e
algumas senhoras, espalharam carrinhos, bancas e mesas pelas ruas e
calçadas nas imediações da maioria das estações do metrô,
comércios e hospitais. A procura é relativa a oferta. Ou seja, se
come de tudo que se apresentam nessas improvisadas barraquinhas.
Tapiocas, cuzcuz, pão com manteiga, pão de queijo, bolo caseiro,
toma-se café, café com leite, sucos, chás, come-se amendoim,
pipoca e até sopa em copo descartável é servido nas calçadas.
Tudo isso sem falar na culinária rural, sazonal, regional e até
mesmo da internacional como milho cozido, pamonhas, arroz doce,
canjica, cocada bahiana, castanha do Pará, yakisoba, churrasco grego
no pão sírio e por ai vai. Há também os temperos e condimentos
com os diversos tipos de pimenta, as frutas, os doces etc...
A
concorrência está acirrada. Dentro de alguns dias teremos
self-service em plena calçada. No horário do almoço é possível
encontrar várias senhoras com seus carrinhos cheios de marmitex para
abastecer o comércio ambulante das calçadas. Os preços são
módicos, condizente com a qualidade e com o público que dele se
abastece. O
importante é não passar fome,
dizia um desses ambulantes que saboreava um marmitex, agarrado a uma
coxa de frango cozida e com arroz amarelado pelo excesso de molho do
frango. Em seguida passava uma garota gentilmente oferecendo um copo
de café ao cliente, tudo
por conta da casa,
afirmava aos que haviam comprado o marmitex. No decorrer da tarde é
possível adquirir a qualquer momento, balas de coco, trufas, doces e
lanches para o café da tarde. No final do dia e no começo da noite,
na volta para casa, o trabalhador ainda pode comer um churrasquinho
acompanhado de um aperitivo para fechar o dia.
A gastronomia da calçada está
ficando cada vez mais sofisticada e diversificada, atingindo um
público mais exigente. Certa manhã quando me dirigia ao trabalho,
nas proximidades de uma estação do metrô, vi um conglomerado de
pessoas que concorriam para se abastecer de um sanduíche natural que
era servido por dois jovens. O que chamou a minha atenção era que
as pessoas ao redor dos rapazes, também eram jovens, estudantes e
trabalhadores com suas mochilas que parecia que tinham feito a opção
de tomar o café na calçada. Nos dois rapazes que serviam, além da
qualidade do produto, havia um outro diferencial entre todos os que
ofereciam seus lanches. Usavam aventais brancos toucas nas cabeças,
um deles usava luvas plásticas, o que servia o lanche, e o outro,
apenas manuseava o dinheiro e servia o café, tudo n'uma perfeita
sincronia.
Um saco para depositar o lixo
estava ao lado deles e pude notar várias caixas vazias de sucos de
frutas jogadas no lixo. Era um produto a mais que era oferecido que
eles trouxeram para atender seus clientes. Havia guardanapos,
canudinhos para quem preferisse, catchup e mostarda a vontade e
talvez o mais importante, tudo limpo. Eu parei, vi os diversos tipos
de lanches que eram oferecidos, o atendimento cordial dos rapazes,
notei que eram dois estudantes que com isso estavam custeando seus
estudos. Engoli seco com vontade de saborear um daqueles lanches, mas
eu era um privilegiado. Nesse dia, antes de sair, eu havia saboreado
um gostoso bolo de fubá cremoso feito pela esposa e até exagerei no
pedaço, por essa razão, me contive. Depois dessa cena acredito que
em brevíssimo tempo veremos altos executivos saindo de seus carrões
blindados para fazerem suas refeições nas calçadas.
As calçadas das alamedas,
ruas e avenidas dos bairros nobres ficarão repletas de pessoas
pedindo seus lanches...um de picanha por favor...um salmão grelhado
para mim...me passe o molho madeira por favor...um sanduíche de
queijo parmesão acompanhado de uma garrafa de vinho cheval-blanc no
banquinho dois...é não sabemos onde pode chegar essa gastronomia
das calçadas...
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