terça-feira, 18 de agosto de 2015

Justiça ou Vingança

Poucos dias atrás, ao assistir uma reportagem sobre um pai de família que esperou por treze longos anos por uma oportunidade de ver a justiça, de acordo com o seu ponto de vista, prevalecer sobre o acusado de ter matado seu filho, e quando finalmente ela chegou, ele não a deixou escapar. Acreditava que ele mesmo deveria fazer a sua justiça com as próprias mãos e matou a pessoa que outrora havia tirado a vida de seu filho. Um ato de pura injustiça para justificar um outro. Depois desse triste episódio e arrependido o velho pai, justo aos seus olhos, foi condenado a alguns anos de prisão em regime semi aberto. Durante esse período o seu coração clamou por uma justiça que se confundia com vingança. Fiquei refletindo na dor desse pai. Um homem aparentemente justo, integro e reto e que queria justiça a qualquer preço, comete um ato de injustiça perante a sociedade.
Talvez para si e para muitas pessoas que acompanharam o caso, ele fez a justiça. Mas fiquei pensando na sua integridade. Ele agora pelo resto de sua vida terá de conviver com o fantasma de ser um assassino. Se a sua família já estava destruturada e fortemente abalada com a dor da perda de um ente querido, quanto mais agora, com a sua prisão, e com esse estigma que pesará sobre seus ombros. Assassino. Como já disse, nada justifica um ato de injustiça. Talvez seja esse o motivo do seu arrependimento. Como se pode esperar de que nós, seres humanos injustos, cometam atos de justiça? Isso é contrário a natureza humana. É o mesmo que esperar que um pé de abacate produza laranja, ou de um pé de melancia que produza abacaxi. Impossível. Percebi que o nosso clamor por justiça é, muitas vezes, na realidade por vingança. Há um adágio que diz que a Deus pertence a vingança. Engana-se quem pensa assim. Deus não é vingativo, Ele é justo e misericordioso. Esse sentimento Ele não tem. A sua natureza é intrinsícamente amor. E o objeto de seu amor somos nós, homens injustos. Que sua misericórdia triunfe sobre a nossa justiça.
Infelizmente são dois sentimentos, um positivo e um negativo, que nos acompanham bem de perto. Por um, o sentimento de justiça, eu clamo a pleno pulmões quando quero que seja feita a meu favor. O outro, o de vingança, eu escondo dentro do meu peito e muitas vezes confesso, também a plenos pulmões, que não possuo tal sentimento. Esse não é um sentimento nobre, digno do ser humano, mas o fato é que ele está dentro de nós ao passo que o outro, o de justiça, um sentimento nobre, mas está fora de nós. Eu clamo por um, mas, realizo o outro. O que parece ser justo para mim, pode não parecer para outrem. Por sermos injustos, cometemos tantas barbáries impossíveis de acreditar que foi um ser humano que cometeu. Diante disso clamamos por uma justiça mesclada com vingança. Não há um justo sequer. Aliás, só sei de apenas um homem que era justo e ainda assim foi morto injustamente. O justo morreu pelos injustos, foi pregado em uma cruz injusta, por mãos injustas, para justificar-nos das nossas injustiças. É Deus quem nos justifica.
Ainda bem que Deus não nos pois por juiz de ninguém, caso contrário, ao clamor da justiça, cometeríamos vingança. Cerca de trinta dias atrás, assistimos pasmos diante dos nossos televisores, o julgamento de um casal, cujo pai e a madrasta, conjuntamente assassinaram uma menina de seis anos. A população saiu às ruas sob forte clamor de justiça. Notava-se claramente nos rostos e nos depoimentos que além da justiça, que só tinha um lado, a condenação, por trás de cada palavra, se escondia a chama do ódio e da vingança por tal atitude brutal. Os réus e seus familiares esperavam que a justiça prevalecesse e que a verdade viesse à tona. A mãe da vítima e a população também ansiava pelo mesmo sentimento de justiça. Se houvesse justiça em favor de um lado, o outro não aceitaria e caso contrário também. Se esse casal tivesse sido absolvido, será que a justiça não teria sido realizada pelos jurados? A justiça não é parcial. Somente Deus é justo. A nossa justiça é como trapos de imundícia. Com as mãos que mataram o justo, queremos fazer justiça.
Há também outros casos, como o do pedreiro que em poucos dias de liberdade, ao sair da prisão, cometeu uma série de assassinatos contra jovens e adolescentes. Novamente se ouviu o clamor por justiça. Ele auto se justificou, ou seja, suicidou-se. Isso alegrou a multidão. O fato é que devemos refletir, pois estamos retrocedendo aos primórdios, ao olho por olho e dente por dente. Já é possível ver a justiça sendo feita por causa de um esbarrão, de um pisão no pé, de uma fechada no trânsito e por tantas banalidades que só afloram o sentimento de vingança. Que a justiça cega possa abrir os olhos para enxergar o tanto de vingança que se pratica em nome de uma justiça que se espera. E que nós, cidadãos injustos, deixemos de praticar vingança em nome da justiça...um erro, não justifica o outro

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