Vivemos
na correria de uma das maiores cidades do mundo e estamos sendo
arrastados de um lado para o outro tentando nos moldar ao ritmo
frenético da metrópole. A procura de ganharmos um pouco mais do
tempinho que nos resta, estamos assistindo esse mesmo tempinho se
perdendo cada vez mais, nas longas viagens que percorremos
diariamente parados no caos do trânsito. O tempo está passando
depressa e fugindo ao nosso controle, aliás, muita coisa já está
fora do nosso controle. As exigências de uma vida rápida e moderna
é que tem ditado as regras de conduta em nossa vida diária. A fim
de nos moldar aos padrões de uma cidade grande, onde os valores
muitas vezes não coincidem com aqueles que trazemos de nossos pais,
nos adaptamos e até concordamos que seja um mal necessário. Digo
isso com relação a criação e a educação de nossos filhos.
Esse
é apenas um dos itens que noto certa inversão de valores por causa
das nossas atuais necessidades. Em um passado não muito distante,
apenas o pai não podia dedicar a maior parte de seu tempo à criação
dos filhos, mas, hoje, por causa dessa correira em que vivemos, até
mesmo as mães não têm mais tempo para seus filhos. A vida moderna
exige da mulher a renúncia de algumas virtudes humanas naturais para
se dedicar, em maior parte do seu tempo a trabalhos extra familiares.
Já presenciei relatos de algumas mães que se viram obrigadas a
desmamar seus filhos devido a obrigação extra familiar, ou seja,
tinham de voltar ao trabalho secular e se viram diante da dura
necessidade de desmamar seus filhos já no terceiro mês após o
nascimento. As creches estão recebendo crianças cada vez mais cedo.
Os políticos se elegem em cima dessa plataforma: mais creches. Por
isso também concordo que seja necessário e até mesmo muito
importante que as famílias tenham lugares adequados e aconchegantes
para deixarem os seus filhos nesses momentos.
Mas,
não podemos esquecer que quebramos uma regra básica da constituição
familiar, que é, gerar nos filhos, desde a mais tenra idade, valores
e virtudes humanas que, aconteça o que acontecer, jamais serão
substituídos. Hoje pelo que tenho presenciado de uma maneira geral
nas famílias, até mesmo na minha ascendência, é que as crianças
estão sendo entregues a programas educacionais em DVD´s, elaborados
por psicólogos e educadores em seus escritórios e lançam esses
programas nas creches e escolas para professores e crianças
assistirem e praticarem, como se elas fossem lógicas e exatas e
esperamos que tudo saia corretamente. As exceções já se tornaram
regras impossíveis de se mudar. Colocamos nossas crianças diante de
um aparelho de televisão e esperamos que elas aprendam com programas
infantis, alguns até interessantes, e com apresentadoras medíocres
a serem cidadãos e cidadãs que façam a diferença e que mudem o
mundo. Impossível.
Nada
substitui o toque, o carinho, o beijo, o prazer de ensinar as
primeiras palavras, o olhar cuidadoso e apreensivo acompanhando os
primeiros passos dos filhos, o sorriso fácil de gratidão de uma mãe
ao contemplar o sono profundo de seu filho. Isso não tem preço,
mas, pagamos um alto preço para as “tias” profissionais,
intolerantes, impacientes, cheias de ansiedades, muitas delas, deixam
seus próprios filhos expostos as mesmas condições a que são
tratadas as crianças sob seus cuidados. Hoje é necessário até o
auxilio de câmeras de vigilância para aliviar um pouco a angústia
e a tensão dos pais, que nunca esperam assistir, o que tem se
tornado comum, crianças sendo mal tratadas e espancadas, algumas até
com certa violência por essas “tias”. Tudo tem dois lados. Se
por um, as mães precisam trabalhar, pois, muitas famílias dependem
financeiramente delas, por outro, somos obrigados a conviver com o
fantasma de um futuro incerto para nossos filhos.
Aos
três, quatro ou cinco de idade já é possível notar em
determinadas crianças, o medo, a insegurança, a rebeldia,
desrespeito, descontrole emocional, irritação, ansiedade,
obesidade,
estresse,
colesterol, pressão alta, sintomas psicossomáticos, coisas
próprias de adultos já fazem parte da rotina de nossas crianças.
Acredito que seja um assunto para ser discutido. Quando decidi, muito
tempo atrás, que meus filhos seriam cuidados pela mãe, fui chamado
de louco, pois em comum acordo decidimos, ela deixar o trabalho para
se dedicar a criação dos filhos. Financeiramente não era viável,
mas, foi uma sábia decisão e jamais nos arrependemos dela. Os
valores adquiridos ninguém pode tirar dele. O tempo que as famílias
modernas passam com seus filhos tem sido muito pouco. E nesse pouco
tempo, compramos os filhos com jogos, brinquedos eletrônicos de
última geração, cursos de idiomas e tantos outros, internet, lan
house, celular, shoppings, fast-food, filmes, festas que precisam ser
em buffet´s, e por ai vai. Quando pensamos na prática de alguma
atividade esportiva para os filhos, o que deveria ser algo
extraordinariamente saudável, logo surge aquele pensamento de que,
em um futuro não muito distante, teremos os nossos investimentos
recompensados pelos seus altos salários e sonhamos com a
independência financeira, ou seja, pensamos mais em nós mesmos do
que nos filhos. O que era para ser um prazer para eles e uma alegria
e satisfação para os pais, torna-se cobrança, exigência, forte
disciplina e rotina de treinamentos roubando-lhes o tempo das
brincadeiras e gerando traumas nas crianças. Eu me pergunto muitas
vezes, onde estão os livros, as histórias infantis, o passear de
bicicleta ou com o filho sobre o pescoço, chupar sorvete em uma
tarde ensolarada, andar descalço, correr nos parques, empinar pipas,
enfim, se divertir com eles? Andar descalço não pode, pega gripe,
chupar sorvete, idem, passear com os filhos, não temos tempo,
empinar pipas, não se tem mais lugar adequado, se fizermos isso de
qualquer maneira corremos risco de morte. Então qual a razão de se
entregar os filhos às creches e instituições de ensino que cobram
altas taxas pelo serviço enquanto o tempinho que nos resta para
estar com eles não pode ser aproveitado? Qual a razão de deixá-los
a mercê de educadores e profissionais do ensino, porque não temos
tempo e nem dinheiro para educá-los e cobrarmos deles aquilo que não
lhes damos?
Nos
dias modernos até o cuidado vital com a amamentação diminui, caiu
para seis meses apenas, e quando se atinge esse padrão, comemora-se
como um campeonato qualquer conquistado digno de medalha de ouro.
Outrora se amamentava no mínimo até os dois anos de idade. Hoje
justifica-se que o leite perde os nutrientes depois de seis meses,
que não faz tanto efeito, as mães precisam, em nome da ditadura da
beleza, voltar a forma física, se possível, melhor do que antes do
período da gravidez e por ai vai. Sonhamos com os filhos antes de
nascer e depois terceirizamos o seu crescer e o seu ser.
Aluga-se
barrigas e depois vendem-se os filhos. Se faz muito amor, mas,
ignora-se o fruto desse amor. Queremos a unidade dos homens, mas
abandonamos as crianças. Abraçamos o mundo e nos afastamos dos
filhos, falamos vários idiomas, mas, não compreendemos a linguagem
dos filhos. Queremos que eles colham um mundo melhor, quando nós
mesmos, destruímos as sementes do futuro. Trabalhamos para dar-lhes
o melhor, nos entregamos ao trabalho e o que resta, uma pequena
parte, ainda negamos a eles, a nossa compreensão.
O
dinheiro pode comprar muitas coisas, até mesmo o sorriso dos filhos,
mas, não pode evitar as lágrimas dos pais. Cobramos amor, sem dar
amor, queremos respeito sem respeitá-los, queremos que sejam
carinhosos, sem portanto dar-lhes carinho, cobramos alegria, mas,
vivemos iracundos. Cantamos mas não os alegramos. Talvez minha voz e
o meu pensamento jamais encontrem eco e sejam levados pelo vento,
como uma bolha de sabão, mas, elas carregam a simplicidade e o sonho
de uma família estruturada no amor e na paz, bela com uma bolha de
sabão, mas, que não pode ser estourada com facilidade. Acredito que
muitas mães gostariam de ficar cuidando de seus filhos por longo
período, mas são tolhidas pelas circunstâncias da vida que lhes
roubam esse direito e sucumbem às necessidades da sobrevivência.
Talvez no momento possamos até maquiar a nossa consciência alegando
que o que fazemos é em prol dos filhos, pois, queremos o melhor para
eles e para que não tenham de passar pelos sofrimentos que passamos.
Podemos explicar tudo, justificar tudo para ter um viver melhor todos
os dias, mas em apenas dois dias não podemos fazer nada, ontem e
amanhã. Eles dependerão sempre do hoje, e o hoje não custa nada, é
presente, dom de Deus.
Não
sei até onde pode chegar esse ciclo vicioso e nem tampouco de quem
pode ser a culpa, se é que existe uma culpa, sei lá, mas, uma coisa
que me dava muita alegria era poder ver, quando retornava para casa,
depois de um dia exaustivo de trabalho, a minha esposa com os filhos
a lhe rodear. Se meus filhos ainda fossem pequenos, com certeza
haveria uma babá cuidando deles. Por isso, hoje posso apenas
imaginar, será que ainda tem alguma mãe que balança o berço...
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