segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A Mãe que balança o berço

Vivemos na correria de uma das maiores cidades do mundo e estamos sendo arrastados de um lado para o outro tentando nos moldar ao ritmo frenético da metrópole. A procura de ganharmos um pouco mais do tempinho que nos resta, estamos assistindo esse mesmo tempinho se perdendo cada vez mais, nas longas viagens que percorremos diariamente parados no caos do trânsito. O tempo está passando depressa e fugindo ao nosso controle, aliás, muita coisa já está fora do nosso controle. As exigências de uma vida rápida e moderna é que tem ditado as regras de conduta em nossa vida diária. A fim de nos moldar aos padrões de uma cidade grande, onde os valores muitas vezes não coincidem com aqueles que trazemos de nossos pais, nos adaptamos e até concordamos que seja um mal necessário. Digo isso com relação a criação e a educação de nossos filhos.
Esse é apenas um dos itens que noto certa inversão de valores por causa das nossas atuais necessidades. Em um passado não muito distante, apenas o pai não podia dedicar a maior parte de seu tempo à criação dos filhos, mas, hoje, por causa dessa correira em que vivemos, até mesmo as mães não têm mais tempo para seus filhos. A vida moderna exige da mulher a renúncia de algumas virtudes humanas naturais para se dedicar, em maior parte do seu tempo a trabalhos extra familiares. Já presenciei relatos de algumas mães que se viram obrigadas a desmamar seus filhos devido a obrigação extra familiar, ou seja, tinham de voltar ao trabalho secular e se viram diante da dura necessidade de desmamar seus filhos já no terceiro mês após o nascimento. As creches estão recebendo crianças cada vez mais cedo. Os políticos se elegem em cima dessa plataforma: mais creches. Por isso também concordo que seja necessário e até mesmo muito importante que as famílias tenham lugares adequados e aconchegantes para deixarem os seus filhos nesses momentos.
Mas, não podemos esquecer que quebramos uma regra básica da constituição familiar, que é, gerar nos filhos, desde a mais tenra idade, valores e virtudes humanas que, aconteça o que acontecer, jamais serão substituídos. Hoje pelo que tenho presenciado de uma maneira geral nas famílias, até mesmo na minha ascendência, é que as crianças estão sendo entregues a programas educacionais em DVD´s, elaborados por psicólogos e educadores em seus escritórios e lançam esses programas nas creches e escolas para professores e crianças assistirem e praticarem, como se elas fossem lógicas e exatas e esperamos que tudo saia corretamente. As exceções já se tornaram regras impossíveis de se mudar. Colocamos nossas crianças diante de um aparelho de televisão e esperamos que elas aprendam com programas infantis, alguns até interessantes, e com apresentadoras medíocres a serem cidadãos e cidadãs que façam a diferença e que mudem o mundo. Impossível.
Nada substitui o toque, o carinho, o beijo, o prazer de ensinar as primeiras palavras, o olhar cuidadoso e apreensivo acompanhando os primeiros passos dos filhos, o sorriso fácil de gratidão de uma mãe ao contemplar o sono profundo de seu filho. Isso não tem preço, mas, pagamos um alto preço para as “tias” profissionais, intolerantes, impacientes, cheias de ansiedades, muitas delas, deixam seus próprios filhos expostos as mesmas condições a que são tratadas as crianças sob seus cuidados. Hoje é necessário até o auxilio de câmeras de vigilância para aliviar um pouco a angústia e a tensão dos pais, que nunca esperam assistir, o que tem se tornado comum, crianças sendo mal tratadas e espancadas, algumas até com certa violência por essas “tias”. Tudo tem dois lados. Se por um, as mães precisam trabalhar, pois, muitas famílias dependem financeiramente delas, por outro, somos obrigados a conviver com o fantasma de um futuro incerto para nossos filhos.
Aos três, quatro ou cinco de idade já é possível notar em determinadas crianças, o medo, a insegurança, a rebeldia, desrespeito, descontrole emocional, irritação, ansiedade, obesidade, estresse, colesterol, pressão alta, sintomas psicossomáticos, coisas próprias de adultos já fazem parte da rotina de nossas crianças. Acredito que seja um assunto para ser discutido. Quando decidi, muito tempo atrás, que meus filhos seriam cuidados pela mãe, fui chamado de louco, pois em comum acordo decidimos, ela deixar o trabalho para se dedicar a criação dos filhos. Financeiramente não era viável, mas, foi uma sábia decisão e jamais nos arrependemos dela. Os valores adquiridos ninguém pode tirar dele. O tempo que as famílias modernas passam com seus filhos tem sido muito pouco. E nesse pouco tempo, compramos os filhos com jogos, brinquedos eletrônicos de última geração, cursos de idiomas e tantos outros, internet, lan house, celular, shoppings, fast-food, filmes, festas que precisam ser em buffet´s, e por ai vai. Quando pensamos na prática de alguma atividade esportiva para os filhos, o que deveria ser algo extraordinariamente saudável, logo surge aquele pensamento de que, em um futuro não muito distante, teremos os nossos investimentos recompensados pelos seus altos salários e sonhamos com a independência financeira, ou seja, pensamos mais em nós mesmos do que nos filhos. O que era para ser um prazer para eles e uma alegria e satisfação para os pais, torna-se cobrança, exigência, forte disciplina e rotina de treinamentos roubando-lhes o tempo das brincadeiras e gerando traumas nas crianças. Eu me pergunto muitas vezes, onde estão os livros, as histórias infantis, o passear de bicicleta ou com o filho sobre o pescoço, chupar sorvete em uma tarde ensolarada, andar descalço, correr nos parques, empinar pipas, enfim, se divertir com eles? Andar descalço não pode, pega gripe, chupar sorvete, idem, passear com os filhos, não temos tempo, empinar pipas, não se tem mais lugar adequado, se fizermos isso de qualquer maneira corremos risco de morte. Então qual a razão de se entregar os filhos às creches e instituições de ensino que cobram altas taxas pelo serviço enquanto o tempinho que nos resta para estar com eles não pode ser aproveitado? Qual a razão de deixá-los a mercê de educadores e profissionais do ensino, porque não temos tempo e nem dinheiro para educá-los e cobrarmos deles aquilo que não lhes damos?
Nos dias modernos até o cuidado vital com a amamentação diminui, caiu para seis meses apenas, e quando se atinge esse padrão, comemora-se como um campeonato qualquer conquistado digno de medalha de ouro. Outrora se amamentava no mínimo até os dois anos de idade. Hoje justifica-se que o leite perde os nutrientes depois de seis meses, que não faz tanto efeito, as mães precisam, em nome da ditadura da beleza, voltar a forma física, se possível, melhor do que antes do período da gravidez e por ai vai. Sonhamos com os filhos antes de nascer e depois terceirizamos o seu crescer e o seu ser.
Aluga-se barrigas e depois vendem-se os filhos. Se faz muito amor, mas, ignora-se o fruto desse amor. Queremos a unidade dos homens, mas abandonamos as crianças. Abraçamos o mundo e nos afastamos dos filhos, falamos vários idiomas, mas, não compreendemos a linguagem dos filhos. Queremos que eles colham um mundo melhor, quando nós mesmos, destruímos as sementes do futuro. Trabalhamos para dar-lhes o melhor, nos entregamos ao trabalho e o que resta, uma pequena parte, ainda negamos a eles, a nossa compreensão.
O dinheiro pode comprar muitas coisas, até mesmo o sorriso dos filhos, mas, não pode evitar as lágrimas dos pais. Cobramos amor, sem dar amor, queremos respeito sem respeitá-los, queremos que sejam carinhosos, sem portanto dar-lhes carinho, cobramos alegria, mas, vivemos iracundos. Cantamos mas não os alegramos. Talvez minha voz e o meu pensamento jamais encontrem eco e sejam levados pelo vento, como uma bolha de sabão, mas, elas carregam a simplicidade e o sonho de uma família estruturada no amor e na paz, bela com uma bolha de sabão, mas, que não pode ser estourada com facilidade. Acredito que muitas mães gostariam de ficar cuidando de seus filhos por longo período, mas são tolhidas pelas circunstâncias da vida que lhes roubam esse direito e sucumbem às necessidades da sobrevivência. Talvez no momento possamos até maquiar a nossa consciência alegando que o que fazemos é em prol dos filhos, pois, queremos o melhor para eles e para que não tenham de passar pelos sofrimentos que passamos. Podemos explicar tudo, justificar tudo para ter um viver melhor todos os dias, mas em apenas dois dias não podemos fazer nada, ontem e amanhã. Eles dependerão sempre do hoje, e o hoje não custa nada, é presente, dom de Deus.

Não sei até onde pode chegar esse ciclo vicioso e nem tampouco de quem pode ser a culpa, se é que existe uma culpa, sei lá, mas, uma coisa que me dava muita alegria era poder ver, quando retornava para casa, depois de um dia exaustivo de trabalho, a minha esposa com os filhos a lhe rodear. Se meus filhos ainda fossem pequenos, com certeza haveria uma babá cuidando deles. Por isso, hoje posso apenas imaginar, será que ainda tem alguma mãe que balança o berço...

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