quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A realidade de um sonho

Estávamos chegando a entrada do hospital, era nove horas de uma manhã fria. Uma chuva fina caia lentamente esfriando ainda mais o coração da cidade. Minha esposa me acompanhava, calma como era, pelos corredores daquele belo hospital. Os médicos, enfermeiros e enfermeiras passavam por nós e nos cumprimentavam com um alegre e espontâneo bom dia, que qualquer doente, com esse tipo de cumprimento, poderia melhorar. Era um bom dia cheio de alegria e amor pelo serviço que prestavam. Parecia ser natural daquelas pessoas de branco.
Bom dia, respondíamos a cada um. Quanta gentileza segui pensando. Notei algumas pessoas sentadas em confortadas cadeiras pelas salas que passava, algumas lendo, outras falando ao telefone conversando descontraídas que nem parecia hospital. Paramos na recepção, duas moças bonitas e atenciosas, enquanto uma delicadamente atendia uma senhora, a outra dirigiu-me outro bom dia semelhante ao que recebi no caminho. Havia várias cadeiras vazias, limpas e confortadas que até parecia que ninguém havia sentado nelas ainda. Sentei-me em uma delas enquanto minha esposa apresentava os papéis.
Notei que as mocinhas trabalhavam com dois belos computadores e impressoras, um televisor com imagens dos pacientes chegando, outros saindo, dos corredores, tudo era perfeito. Na sala em que fomos encaminhados, apesar de pequena, havia uma mesa com jornais do dia, vasos de flores bem vivas decorando o ambiente. Um filtro de água que mais parecia móvel da recepção, com copos descartáveis fortes que não amassavam na mão ao tirá-lo. Tudo estava funcionando normalmente. Fiquei indignado comigo por nunca ter desfrutado do conforto desse hospital.
Da cadeira fui observando as pessoas sendo atendidas. Todas saiam satisfeitas com o trabalho dos enfermeiros e atendentes. Saiam com sorriso nos rostos e agradecendo a todos. O chão era claro e limpo. Um som ambiente irradiava pelos corredores uma melodia suave, levando um pouco de paz aos ouvintes. Tudo era agradável naquele hospital. Mal acabara de sentar e logo vi e ouvi no painel o toque da campainha mostrando o meu número de chegada, fui atendido.
O doutor também era de uma cortesia e educação sem igual. Deixava os pacientes sem medo de enfrentar a doença por pior que fosse. Eu não estava acostumado com esse tipo de atendimento. Estranhei muito o ambiente, mas fui em frente. Expliquei a minha situação ao médico que atentamente me ouvia, esperei o seu diagnóstico e saímos encantado com tudo aquilo. Era algo de primeiro mundo, comentei. Quando íamos nos retirando, o doutor nos lembrou que os remédios receitados, poderiam ser facilmente adquiridos na farmácia do hospital, e o mais espantoso, grátis.
Realmente nunca vimos e nunca tivemos tanto privilégio. Eu não possuía plano de saúde especial, não era político e nem parente de nenhum, não conhecia os médicos, não era rico e muito menos famoso. Então qual a razão daquele hospital ter tal tratamento para com as pessoas!
E todas eram tratadas da mesma maneira. Rico ou pobre, não havia distinção. Pensei então porque um hospital assim com essa estrutura, não era difundido.
Eu estava acostumado com hospitais cheios, filas intermináveis, crianças chorando, pessoas pelos corredores gemendo, falta de leitos, espera em salas apertadas, não tão sujas, mas cheia de gente, falta de médicos, senhoras impacientes tendo de brigar com os seguranças, reivindicando seus direitos de serem atendidas ou ao menos virem seus filhos sendo atendidos.
O que sempre via nos hospitais, era paciente morrendo sem atendimento, por falta de remédio, sem assistência. Isso sem contar a falta de informação, de cuidado e atenção com as pessoas.

É comum já pela madrugada os pacientes se acotovelarem em fila à espera de poucas senhas para serem atendidos e muitos fazem isso por vários dias seguidos até conseguir. E quando consegue a senha, não consegue ser atendido. Consultas, dependendo do caso, espera-se dois ou até três meses, mas aqui, tudo era diferente...acorda...acorda...hã...hã...acordei assustado com a minha esposa me informando que era a minha vez de ser atendido. Depois de duas horas aguardando para ser atendido, cochilei e agora era despertado para realidade...olhei ao derredor e não vi nada do que sonhei...

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