Estávamos chegando a entrada
do hospital, era nove horas de uma manhã fria. Uma chuva fina caia
lentamente esfriando ainda mais o coração da cidade. Minha esposa
me acompanhava, calma como era, pelos corredores daquele belo
hospital. Os médicos, enfermeiros e enfermeiras passavam por nós e
nos cumprimentavam com um alegre e espontâneo bom dia, que qualquer
doente, com esse tipo de cumprimento, poderia melhorar. Era um bom
dia cheio de alegria e amor pelo serviço que prestavam. Parecia ser
natural daquelas pessoas de branco.
Bom dia, respondíamos a cada
um. Quanta gentileza segui pensando. Notei algumas pessoas sentadas
em confortadas cadeiras pelas salas que passava, algumas lendo,
outras falando ao telefone conversando descontraídas que nem parecia
hospital. Paramos na recepção, duas moças bonitas e atenciosas,
enquanto uma delicadamente atendia uma senhora, a outra dirigiu-me
outro bom dia semelhante ao que recebi no caminho. Havia várias
cadeiras vazias, limpas e confortadas que até parecia que ninguém
havia sentado nelas ainda. Sentei-me em uma delas enquanto minha
esposa apresentava os papéis.
Notei que as mocinhas
trabalhavam com dois belos computadores e impressoras, um televisor
com imagens dos pacientes chegando, outros saindo, dos corredores,
tudo era perfeito. Na sala em que fomos encaminhados, apesar de
pequena, havia uma mesa com jornais do dia, vasos de flores bem vivas
decorando o ambiente. Um filtro de água que mais parecia móvel da
recepção, com copos descartáveis fortes que não amassavam na mão
ao tirá-lo. Tudo estava funcionando normalmente. Fiquei indignado
comigo por nunca ter desfrutado do conforto desse hospital.
Da cadeira fui observando as
pessoas sendo atendidas. Todas saiam satisfeitas com o trabalho dos
enfermeiros e atendentes. Saiam com sorriso nos rostos e agradecendo
a todos. O chão era claro e limpo. Um som ambiente irradiava pelos
corredores uma melodia suave, levando um pouco de paz aos ouvintes.
Tudo era agradável naquele hospital. Mal acabara de sentar e logo vi
e ouvi no painel o toque da campainha mostrando o meu número de
chegada, fui atendido.
O doutor também era de uma
cortesia e educação sem igual. Deixava os pacientes sem medo de
enfrentar a doença por pior que fosse. Eu não estava acostumado com
esse tipo de atendimento. Estranhei muito o ambiente, mas fui em
frente. Expliquei a minha situação ao médico que atentamente me
ouvia, esperei o seu diagnóstico e saímos encantado com tudo
aquilo. Era algo de primeiro mundo, comentei. Quando íamos nos
retirando, o doutor nos lembrou que os remédios receitados, poderiam
ser facilmente adquiridos na farmácia do hospital, e o mais
espantoso, grátis.
Realmente nunca vimos e nunca
tivemos tanto privilégio. Eu não possuía plano de saúde especial,
não era político e nem parente de nenhum, não conhecia os médicos,
não era rico e muito menos famoso. Então qual a razão daquele
hospital ter tal tratamento para com as pessoas!
E todas eram tratadas da mesma
maneira. Rico ou pobre, não havia distinção. Pensei então porque
um hospital assim com essa estrutura, não era difundido.
Eu estava acostumado com
hospitais cheios, filas intermináveis, crianças chorando, pessoas
pelos corredores gemendo, falta de leitos, espera em salas apertadas,
não tão sujas, mas cheia de gente, falta de médicos, senhoras
impacientes tendo de brigar com os seguranças, reivindicando seus
direitos de serem atendidas ou ao menos virem seus filhos sendo
atendidos.
O que sempre via nos
hospitais, era paciente morrendo sem atendimento, por falta de
remédio, sem assistência. Isso sem contar a falta de informação,
de cuidado e atenção com as pessoas.
É comum já pela madrugada os
pacientes se acotovelarem em fila à espera de poucas senhas para
serem atendidos e muitos fazem isso por vários dias seguidos até
conseguir. E quando consegue a senha, não consegue ser atendido.
Consultas, dependendo do caso, espera-se dois ou até três meses,
mas aqui, tudo era diferente...acorda...acorda...hã...hã...acordei
assustado com a minha esposa me informando que era a minha vez de ser
atendido. Depois de duas horas aguardando para ser atendido, cochilei
e agora era despertado para realidade...olhei ao derredor e não vi
nada do que sonhei...
Nenhum comentário:
Postar um comentário