Poucos
dias atrás, no aconchego do meu lar, enquanto observava o meu neto
sem nenhuma preocupação com o mundo rabiscando seus desenhos
indecifráveis, eu permanecia zapeando impaciente pelos botões do
controle remoto em busca de um programa um pouco mais interessante,
quando me deparei com um que falava sobre a vida das pessoas famosas
e o seu giro pelas cidades e eventos. E o que mais me deixou
impressionado era o batalhão de fotógrafos alucinados que
disputavam o melhor flash sobre aquela personalidade. Eram atores e
atrizes, cantores e cantoras entre outras celebridades do mundo
esportivo, que com seus carrões e seguranças particulares, mal
podiam caminhar pelas ruas devido ao excessivo número de fotógrafos.
As pessoas se acotovelavam para observar o frisson
que em alguns casos não se sabia nem do que se tratava. Sem contar
que esses pseudofamosos, alguns se deixavam fotografar sem nenhuma
cerimônia e outros partiam para cima dos fotógrafos para impedi-los
em seus cliques. Em ambos os casos apenas para demonstrar seu ego e o
que estava por detrás do personagem. Não os reprovo por essa
atitude, isso faz parte da natureza humana. Provavelmente se eu fosse
famoso agiria da mesma forma, quem sabe...
Eram
personalidades infantis, jovens e adultos, alguns esbanjavam simpatia
e cortesia, outros, porém, soberba e arrogância como se fossem
intocáveis ou semideuses. Não me importei muito com o que via, mas
quando ia apertar o botão do controle remoto, uma dessas
personalidades me chamou a atenção. Ela havia sido condenada por
roubo. A sua fama agora era pelo fato de ter roubado certa quantia e
ser presa. Nesse momento pude perceber a instabilidade das riquezas e
que realmente somos todos iguais, sujeitos as mesmas paixões. Notei
que as pessoas não são famosas em si, mas por causa da posição
social ou profissional que representam, as tornam famosas. A fama e o
sucesso são meros coadjuvantes no palco onde atuam. Deixa-se o
palco, perde-se a fama. A fama não é natural do homem. Ele a
adquire e a perde a qualquer momento. Em um instante é uma estrela
brilhante em outro se ofusca e finalmente se apaga, sem luz nem para
caminhar. E foi isso que me despertou para perceber que sempre
seremos o que sempre fomos, independentemente da posição que
ocupamos. Um dia podemos estar em alta, outro em baixa.
São
as voltas que o mundo da que nos faz subir e descer constantemente.
Pude então refletir em tantas pessoas famosas que hoje deixaram de
ser, caíram em ostracismo e lutam para sobreviver, tentando se
agarrar em um pouco de luz que eles insistem em manter acesas. Há
inúmeros casos de jogadores de futebol que no passado ainda recente
foram famosos e disputaram os holofotes com outras personalidades e
que hoje ocupam os últimos lugares humildemente no rol dos mortais.
Talvez seja impossível fazê-los acreditar que não são famosos,
mas que estão famosos e isso é muito tênue, fugaz, passageiro. Por
causa da capa chamada fama, da ilusão aparente e momentânea, da
fascinação pelo mundo, algumas pessoas se tornam autoritárias,
fazem exigências doentias, verdadeiras loucuras e exigem seu
cumprimento como se fossem senhores de escravos. Mal sabem eles que a
soberba precede a ruína. Muitos caminhos que levam ao sucesso e a
fama são escorregadios e difíceis de se manter neles. Não podemos
ser néscios em nos apegar demasiadamente ao que temos, e esquecer do
que somos, pois, se essa noite o autor da nossa existência pedir a
nossa alma, o que temos, para quem será?
Quando
as pessoas mais velhas diziam que o mundo dava muitas voltas eu não
podia entender o que elas queriam dizer, mas agora é possível
compreender que tudo o que temos não é nosso, apenas administramos.
Sem nada viemos para esse mundo e sem nada sairemos dele, nem mesmo
os aplausos se por ventura recebermos poderemos levá-los, pois nesse
mundo, tudo é vaidade e correr atrás do vento. Do nosso trabalho,
nada poderemos levar conosco. A soberba de muitos famosos é como um
colar, como um adorno em seu pescoço, puro enfeite e esquecem que a
arrogância do homem um dia poderá ser humilhada. Portanto, fama,
sucesso, orgulho, ambição, desejos, sonhos e tantas outras coisas
intrínsecas da natureza humana, não nos podem causar angústias,
tristezas, depressão, dor, lágrimas e até mesmo a morte. Vale mais
ter um bom nome do que muitas riquezas, se elas aumentam, não
devemos por nelas o nosso coração. Embora ricos e famosos, o
importante é ser gente como a gente.
Precisei
atualizar o meu pensamento nesse texto, porque enquanto relia, puder
assistir com tristeza em meu coração uma outra reportagem sobre a
vida de um ex-jogador, outrora muito famoso, que perdeu tudo o que
ganhou durante os mais de vinte anos de carreira. Desde morar em
castelo e andar de Ferrari, e hoje é acolhido por um colega que ele
chama de irmão, que o recebeu em sua casa. A fama é uma fase e
muito passageira, um caminho brilhante que se não souber caminhar
por ele, se torna uma cilada no futuro. Interessante que o homem mais
famoso que já existiu, nunca se autopromoveu, pelo contrário, ele
fugia dos holofotes, se esvaziou de si mesmo, se humilhou, se tornou
pequeno para ser acessível e tornar as pequenas
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