quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Barriga roncando

Domingo é o dia de descansar, ficar na cama um pouco mais do que o normal, acordar mais tarde, ir para a reunião da igreja, comer pastel na feira, enfim, é um dia diferente dos demais. É o dia de reunir a família para o almoço, visitar os parentes distantes e recarregar a bateria para o dia seguinte, a segunda-feira. Nesse domingo passado, de manhã fria, sem os filhos e os netos em casa, aproveitei para ficar descansando e para arrumar e colocar em ordem alguns papéis, fazer uma faxina. Com esse pensamento na cabeça, depois de acordar e saborear o delicioso café covarde (aquele que jamais vem sozinho, é acompanhado de frios, frutas, sucos, bolos etc...) preparado pela esposa, comecei meu intento. Liguei a televisão, o melhor passatempo dos domingos e fiquei ouvindo as notícias sobre esporte. Depois de um certo período, mais ouvia do que propriamente assistia, pacientemente continuei rasgando papéis, separando outros e assim o tempo foi passando. Lembrei-me que precisava verificar algo no computador e parei o que fazia e sentei-me em frente ao computador.
Enquanto navegava pela internet, uma notícia vinda de Brasília, outra entre tantas absurdas e vergonhosas que de lá já vieram, era sobre um jantar no Senado Federal. Até então nada de anormal, era um simples jantar de negócios sobre as decisões dos nobres senadores em prol da República e do povo brasileiro, pensei. Fiquei pasmado ao ler a quantia gasta nesse jantar, R$ 24,900,00. Isso era uma afronta ao povo brasileiro que luta com unhas e dentes para conseguir trazer alimento para casa, e esses senhores esbanjam nosso dinheiro para se banquetearem. Que vergonha! Fiquei indignado. Pensei que fosse um jantar para se tratar de um assunto relevante, mas era para uma homenagem a um ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Que injustiça para com o povo! Segundo a Constituição Federal art 37 inciso XXI o limite para esse tipo de gasto e com licitação é de R$ 8.000,00. Enquanto lia sobre a comilança dos nobres senadores e dos seus convivas, a minha barriga estava roncando com fome e sentindo o cheirinho do almoço que vinha da minha cozinha.
Não sei a quantia certa que a minha esposa gastou para preparar o nosso almoço do domingo, mas com certeza foi menos do que os R$ 400,00 gastos por cabeça nesse jantar, três vezes mais do que o valor permitido por lei. Ah, o Sarney disse que vai devolver a diferença, quem acredita levante a mão rsrsrsrsrs. Me desculpe meu caro Sarney, mas o verdadeiro líder, ele não apenas corrige os erros e sim os previne. Se já sabiam dessa repercussão que o caso teria, por quê cometer tamanha afronta enquanto o povo luta pelo fome zero? O fato é que enquanto esperava para saborear alguns pedaços de frango assado com batata, um verdadeiro banquete, que a esposa preparava com muito amor, carinho e dedicação, os nobres senhores em uma noite inesquecível, se esbaldaram com um cardápio digno do faraó dos faraós, (veja cardápio no site:www.contasabertas.uol.com.br). Esqueci dos papéis que estava organizando, do pastelzinho na feira, do programa de esporte que era transmitido pela tv, tamanha era a minha incompreensão por causa desse jantar que nem notei que minha barriga roncava de fome.
Como é possível homens que deveriam cuidar da nutrição básica da população brasileira, digo isso com respeito as crianças, pois são as que mais sofrem com a pobreza e a falta de nutrição, sobejarem em seus banquetes enquanto uma simples merenda escolar é fornecida com datas de vencimentos ultrapassadas, produtos de terceira categoria, estragados, podres e acima de tudo, superfaturados, mas que não valem nem mesmo um real. É fácil perceber que a fome que enfrentamos no Brasil, não é natural, somos um país rico na agricultura, um dos maiores do mundo nessa área, mas ela é política. Se olharmos para as regiões norte e nordeste veremos os bolsões da fome se alastrando. Foi preciso um cidadão comum dar início a um projeto que mobilizou o país e o mundo, o fome zero, para despertar nos glutões do palácio da alvorada um pouco de sensibilidade com os miseráveis. E quando resolveram abocanhar essa ideia, porque viram uma maneira de angariar votos em cima dessa plataforma política, o projeto fome zero não saciou a fome de mais ninguém. Morreu de fome.

Mas é bom que se lembrem das palavras do Autor da Existência que dizia: bem aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque eles serão fartos...Hoje, os senhores arrotam caviar sobre a cabeça de uma nação que clama com sede e fome de justiça, esses serão saciados, mas os senhores, nobre senadores, que hoje estão fartos, empanturrados, nutridos, gordos, enfastiados com tanta comida,

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