Já
foi o tempo em que câmeras escondidas eram apenas a maneira
descontraída que alguns programas de televisão encontravam para
divertir seus ouvintes através de situações cômicas em que o
público nas ruas era surpreendido. Até mesmo os envolvidos
diretamente com elas, depois de momentos de nervosismo, acabavam se
divertindo também. Havia um clima de desconfiança do povo nas ruas
em certas situações enfrentadas, porque temia ser flagrado com uma
dessas câmeras escondidas e passar vergonha por fazer outros
sorrirem. Não vemos mais tais câmeras escondidas. Hoje elas estão
em todas as partes e são vistas nas ruas, nas calçadas, nas
portarias, nos portões, em frente as casas, nos condomínios, nas
empresas, nos consultórios, nos escritórios, nos shoppings, nos
estádios de futebol onde a adrenalina parece chegar ao limite,
levando jovens das diversas classes sociais a se digladiarem, matar
ou morrer por seus times, em troca de nada. Elas estão nos ônibus,
no comércio de maneira geral, nas lojas, nos bares, nas boites, nas
agências bancárias que com elas tentam em vão inibir a visita de
marginais.
Encontramos
câmeras nas casas lotéricas, que se transformaram em pequenos
bancos, em escolas, que de acordo com o padrão financeiro de seus
alunos, possuem mais de 200 câmeras vigiando desde a entrada
principal aos mais escusos corredores, tudo em nome da segurança.
Elas estão dentro das casas vigiando babás e demais empregados, e
quantas, graças a elas, foram flagradas maltratando crianças e
idosos e estão respondendo por suas ações perante a justiça. Quem
não se lembra da “vovó do crime”, uma idosa acima de qualquer
suspeita que entrava nas lojas de informática e roubava acessórios
para computadores e, colocando-os por debaixo de suas vestes, saia
sem chamar a atenção até que foi surpreendida em seus delitos
pelas câmeras de vigilâncias em várias lojas do ramo. Não sei se
já foi presa. Também é muito comum encontrarmos câmeras nas
fábricas, nos parques, nos estacionamentos e alguns até as usam de
maneira ilegal e inusitada, instalando-as em lugares indevidos,
escondidas em banheiros, provadores de roupas em lojas de produtos
femininos para observarem as mulheres etc... Essa semana, o prefeito
de uma pequena cidade no interior de São Paulo mandou instalar
algumas em banheiro público feminino, o fato está causando a maior
polêmica entre a população. É fácil concluir se são um mal
necessário ou uma maneira de termos a nossa liberdade cerceada.
A
polêmica está lançada. Afinal quem nunca leu a frase: sorria,
você está sendo filmado?
Estamos sendo vigiados nas ruas em plena luz do dia. Cerca de alguns
anos atrás um bando de jovens enfurecidos e descontrolados, na saída
de uma casa noturna, também em uma cidade do interior e isso mostra
que não é privilégio apenas dos grandes centros, atacou quase até
a morte um rapaz que diante das câmeras, sucumbia agonizando entre a
vida e a morte. Mas devido as câmeras, todos foram identificados e
presos. Dias atrás, outro grupo de rapazes de classe média, em
plena Avenida Paulista em São Paulo, durante a madrugada, longe dos
olhos humanos mas atentos aos olhos que não piscam das câmeras,
atacou outros jovens somente porque eram homossexuais e foram
flagrados em pleno ato. Outro fato aconteceu em Belo Horizonte e
novamente outro bando de salafrários, patifes e desordeiros apenas
porque outro jovem não torcia pelo mesmo time, teve sua vida
estraçalhada diante das câmeras. Os três grupos foram presos, mas
nada disso impede que outras cenas como essas não se repitam.
Enfim,
estamos vivendo um grande “big
brother”
da vida real sem querer, tudo em nome de uma segurança e o que se
constata é que parece que caminhamos lado a lado com a insegurança.
As câmeras de vigilância que são a extensão dos olhos e das mãos
da polícia, pela quantidade que estão espalhada pelos quatro cantos
da cidade, não estão vendo nada. Recentemente um político,
prefeito de uma cidade na grande São Paulo, foi brutalmente
assassinado e as inúmeras câmeras que deveriam monitorar a rotina
do lugar, não presenciou nada, no dia, estavam desligadas ou com
problemas. É sempre assim em muitos casos, ou seja, quem está por
detrás dessas câmeras somente enxergam o que querem. Vários crimes
são esclarecidos em razão dos olhos atentos das câmeras, mas
quantos não são, exatamente porque os olhos por detrás delas não
querem?
Que
bom seria se as câmeras continuassem escondidas alegrando os
teleespectadores, ao invés de vigiar as atitudes de pessoas que com
ou sem elas continuarão sendo o que são e fazendo o que fazem, sem
sorrir, mesmo sendo filmados...
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