segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Câmeras escondidas

Já foi o tempo em que câmeras escondidas eram apenas a maneira descontraída que alguns programas de televisão encontravam para divertir seus ouvintes através de situações cômicas em que o público nas ruas era surpreendido. Até mesmo os envolvidos diretamente com elas, depois de momentos de nervosismo, acabavam se divertindo também. Havia um clima de desconfiança do povo nas ruas em certas situações enfrentadas, porque temia ser flagrado com uma dessas câmeras escondidas e passar vergonha por fazer outros sorrirem. Não vemos mais tais câmeras escondidas. Hoje elas estão em todas as partes e são vistas nas ruas, nas calçadas, nas portarias, nos portões, em frente as casas, nos condomínios, nas empresas, nos consultórios, nos escritórios, nos shoppings, nos estádios de futebol onde a adrenalina parece chegar ao limite, levando jovens das diversas classes sociais a se digladiarem, matar ou morrer por seus times, em troca de nada. Elas estão nos ônibus, no comércio de maneira geral, nas lojas, nos bares, nas boites, nas agências bancárias que com elas tentam em vão inibir a visita de marginais.
Encontramos câmeras nas casas lotéricas, que se transformaram em pequenos bancos, em escolas, que de acordo com o padrão financeiro de seus alunos, possuem mais de 200 câmeras vigiando desde a entrada principal aos mais escusos corredores, tudo em nome da segurança. Elas estão dentro das casas vigiando babás e demais empregados, e quantas, graças a elas, foram flagradas maltratando crianças e idosos e estão respondendo por suas ações perante a justiça. Quem não se lembra da “vovó do crime”, uma idosa acima de qualquer suspeita que entrava nas lojas de informática e roubava acessórios para computadores e, colocando-os por debaixo de suas vestes, saia sem chamar a atenção até que foi surpreendida em seus delitos pelas câmeras de vigilâncias em várias lojas do ramo. Não sei se já foi presa. Também é muito comum encontrarmos câmeras nas fábricas, nos parques, nos estacionamentos e alguns até as usam de maneira ilegal e inusitada, instalando-as em lugares indevidos, escondidas em banheiros, provadores de roupas em lojas de produtos femininos para observarem as mulheres etc... Essa semana, o prefeito de uma pequena cidade no interior de São Paulo mandou instalar algumas em banheiro público feminino, o fato está causando a maior polêmica entre a população. É fácil concluir se são um mal necessário ou uma maneira de termos a nossa liberdade cerceada.
A polêmica está lançada. Afinal quem nunca leu a frase: sorria, você está sendo filmado? Estamos sendo vigiados nas ruas em plena luz do dia. Cerca de alguns anos atrás um bando de jovens enfurecidos e descontrolados, na saída de uma casa noturna, também em uma cidade do interior e isso mostra que não é privilégio apenas dos grandes centros, atacou quase até a morte um rapaz que diante das câmeras, sucumbia agonizando entre a vida e a morte. Mas devido as câmeras, todos foram identificados e presos. Dias atrás, outro grupo de rapazes de classe média, em plena Avenida Paulista em São Paulo, durante a madrugada, longe dos olhos humanos mas atentos aos olhos que não piscam das câmeras, atacou outros jovens somente porque eram homossexuais e foram flagrados em pleno ato. Outro fato aconteceu em Belo Horizonte e novamente outro bando de salafrários, patifes e desordeiros apenas porque outro jovem não torcia pelo mesmo time, teve sua vida estraçalhada diante das câmeras. Os três grupos foram presos, mas nada disso impede que outras cenas como essas não se repitam.
Enfim, estamos vivendo um grande “big brother” da vida real sem querer, tudo em nome de uma segurança e o que se constata é que parece que caminhamos lado a lado com a insegurança. As câmeras de vigilância que são a extensão dos olhos e das mãos da polícia, pela quantidade que estão espalhada pelos quatro cantos da cidade, não estão vendo nada. Recentemente um político, prefeito de uma cidade na grande São Paulo, foi brutalmente assassinado e as inúmeras câmeras que deveriam monitorar a rotina do lugar, não presenciou nada, no dia, estavam desligadas ou com problemas. É sempre assim em muitos casos, ou seja, quem está por detrás dessas câmeras somente enxergam o que querem. Vários crimes são esclarecidos em razão dos olhos atentos das câmeras, mas quantos não são, exatamente porque os olhos por detrás delas não querem?

Que bom seria se as câmeras continuassem escondidas alegrando os teleespectadores, ao invés de vigiar as atitudes de pessoas que com ou sem elas continuarão sendo o que são e fazendo o que fazem, sem sorrir, mesmo sendo filmados...

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