quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Casa vazia...

Em uma madrugada fria o único ruído que se ouvia era do vento forçando as frestas da janela querendo invadir a penumbra do nosso quarto. Levantei-me tropeçando em brinquedos espalhados pela casa, resultado de brincadeiras de crianças na noite anterior. Abri um pouco a cortina, passei a mão em círculo sobre o vidro para poder observar melhor a madrugada escura, iluminada apenas por algumas luzes amarelas de lâmpadas cobertas por uma névoa fina e fria que envolvia o coração daquela madrugada deixando um cenário apropriado para um filme de terror.
O vento forte sacudia as árvores que teimavam em permanecerem firmes. Além do vento, nada se ouvia. Não se ouvia barulhos de carros, nem de motos, nem de jovens nas ruas. Travei a janela, fechei rapidamente a cortina, e voltei tropeçando nos brinquedos. Observei os adultos que dormiam, caminhei até o outro quarto para verificar se as crianças estavam cobertas adequadamente, mas, cadê as crianças?. Despertei como de um pesadelo.
Lembrei-me que na noite anterior, foram dormir na casa da mãe deles.
Voltei para cama, olhei as horas no celular e tentei adormecer novamente. Uma sensação de vazio tomou conta do meu ser. Estava faltando alguma coisa que eu não podia entender. Revirei-me de um lado para o outro da cama e de repente percebi o que faltava, era as crianças. Apesar de ser madrugada, se eles estivessem conosco, naquele momento estariam dormindo, mas como era incrível, que falta eles faziam!! Acordei pela manhã para trabalhar e como faço todos os dias, fui ao quarto deles para cobri-los, não os vi, havia me esquecido que eles não estavam. Novamente a sensação de vazio tomou conta de mim.
Trabalhei o dia inteiro com essa sensação de que faltava alguma coisa em mim. Sabia que quando eu retornasse, lá estariam eles novamente correndo pela casa, espalhando brinquedos por todos os lados, o pai mandando ficar quieto, a avó desesperada preparando o jantar, o banho, tudo ao mesmo tempo. Era uma confusão mas vinha acompanhada de uma alegria incomparável. Imaginei toda essa cena na minha cabeça. Quando eu abrisse a porta, correriam para meus braços e me envolveriam naquela alegria. Era assim todos os dias. Já na porta do elevador era possível ouvir o corre-corre e a algazarra que faziam.
Um dia sem abraçá-los, sem beijá-los, fazia muita diferença para nós. O meu dia havia sido corrido no trabalho. Não liguei em casa durante aquela tarde. Portanto a minha ansiedade enquanto retornava, aumentava a cada passo. Em certos dias, queremos ficar sozinhos para ler, descansar, arrumar alguns papéis, cochilar no sofá, assistir um filme, um programa de televisão em silêncio, nessas horas é bom não ter crianças por perto. Mesmo assim a presença deles é mais importante do que tudo isso. Há muito tempo não sabíamos o que era conviver com crianças em casa, mais de quinze anos. Agora nos deparávamos com dois anjos levados e cheios de energia, nossos netos.
Enfim, cheguei à porta do elevador, lembrei-me dos trejeitos de cada um deles e das peraltices que faziam, quando desligavam sem eu perceber, o meu computador em plena atividade, quando derrubavam suco e outros alimentos pelo chão sob protesto impaciente da avó, quando não queriam comer, dormir, tomar banho, ir para escola e não queriam a roupa que era oferecida, de como gostavam de ouvir repetidas vezes a mesma história e sorri para mim mesmo enquanto esperava  o elevador chegar. Por alguns segundos, esqueci o cansaço de um dia de trabalho e voltei a ser criança como eles.

Quando abri a porta do elevador, antes de entrar em casa, ainda inclinei meus ouvidos esperando ouvir a algazarra infantil. Ouvi ao fundo apenas um som de televisão. Entrei e não vi as crianças novamente, apenas a minha flor, sentada, jantando, enfeitando a sala com o seu lindo sorriso me esperando, assistindo televisão sozinha. Perguntei sobre os netos ao que ela me respondeu que ficaram na casa da mãe e que por lá ficariam o restante da semana. Sentei-me ao seu lado e o nosso assunto foi as crianças. Apesar de todo barulho que fazem, como era ruim ficarmos sem eles. Não importava quem estivesse em casa, sem eles, a casa era vazia...

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