Com licença...com
licença...licença...licencinha por favor...desculpe...perdão...licença...
Dessa maneira seguia aqueles dois jovens com
suas mochilas nas costas, óculos escuros e fone nos ouvidos, tentando
educadamente abrir caminho diante dos passageiros em um coletivo lotado. O que
me chamou à atenção, não era o fato de estar o coletivo lotado, mas a mochila e
o fone nos ouvidos. Segui ao trabalho observando e ao mesmo tempo fazendo um
retrospecto de como há gente com suas mochilas nas costas e seu fone nos
ouvidos totalmente alheias aos transtornos que causam aos que andam a seu lado.
Não sei se por coincidência ou pelo fato de um olhar mais apurado nesse dia,
mas eu mesmo fui vítima de algumas mochilas. Vinha eu depois de presenciar o
esforço dos jovens acima até alcançar a
proximidade da porta de saída do ônibus, lendo um livro de crônicas,
quando fui atingido por uma mochila na cabeça, e essa não estava nas costas e
sim na frente de uma jovem que fazia tremendo esforço para segurá-la assim como
seus cadernos e uma sombrinha.
Pensei com meus botões para que então a mochila
se os cadernos estão nas mãos, ou o que tanto leva dentro dessa mochila...bem
isso não me diz respeito. Parei de ler o meu livro e levei a sua mochila, a
qual foi difícil ela tirar do corpo, e seus cadernos até o ponto de parada do
ônibus no metrô. E no metrô, não foi diferente. Senti-me como uma ilha, cercado
de mochilas por todos os lados. Não era possível mover os braços. Um jovem
alto, acima do peso, óculos escuros,
boné e o tradicional fone nos ouvidos que explodia uma melodia estridente que
era acompanhada, ainda que timidamente pelo balanço do seu corpanzil na casa
dos cem quilos. Parecia estar em uma dessas festas RAVE, alucinado com o som,
não via e nem ouvia as reclamações das pessoas ao seu redor.
O vai e vem de mochilas era impressionante,
acho que sempre foi, apenas comecei a perceber por causa do incomodo. Dois
passageiros tiveram que ouvir de uma senhora a reclamação pois impediam sua
passagem pelo corredor do trem. Um jovem de paletó e gravata, com o fone nos
ouvidos, seguia ouvindo sua música e atrás dele um outro rapaz que
provavelmente ia à faculdade, pois estava com uma camiseta com o nome de uma
faculdade, também com uma mochila nas costas, ficaram um atrás do outro
fechando o corredor e interrompendo a passagens das pessoas. Eu olhava para um
lado e para outro e só via mochilas. Estava ficando alucinado com tantas
mochilas e fone de ouvidos que parece que elas me perseguiam. Me senti vivendo
uma cena de filme, algo como, o ataque das mochilas ou a guerra das
mochilas.
Ao abrir das portas
do metrô, entravam crianças carregando mochilas, adolescentes, jovens,
executivos, doutores com seus estetoscópios nos ombros, cada um com suas
mochilas e muitos com fone nos ouvidos, alheios aos demais usuários. Mas graças
a Deus, cheguei ao meu destino. Me livrei das mochilas!!! Me enganei. Na escada
rolante senti que elas me perseguiam. Quando subi os degraus da escada me vi
barrado na frente por duas enormes mochilas. Dessas que tinham vários
compartimentos e cheia de penduricalhos, garrafinhas com água, bolsinhos com
zíperes que pareciam sorrir para mim. O rapaz subiu depressa os degraus e eu o
acompanhei, mas ele parou repentinamente nos degraus e me vi de cara com sua
mochila.
Ao lado uma jovem
que mais parecia ir a uma academia do que ao trabalho, sustentava um cigarro
entre os dedos, cuja fumaça vinha em minha direção, vestia um agasalho
esportivo bem colado ao seu avantajado corpo, tinha as pernas em formato de um
“x” ao mesmo tempo que ouvia música em seu celular, sem se preocupar com as
pessoas ao seu lado, impedia-me de subir. Olhei para as pessoas que desciam
pela outra escada e parece que nunca havia visto tantas mochilas penduradas nas
costas das pessoas.
A impressão que eu
tinha, se fosse fazer uma pesquisa, era de que a cada dez pessoas, pelo menos
seis tinham mochilas nas costas. Impressionante. Mochilas coloridas com
emblemas de time de futebol, em formato de animais, como macacos, leões, ursos,
algumas com patinhas e garras para aderir ao corpo do usuário, era mochilas
para todos os gostos. Percebi que o Brasil está sendo levado, de mochila...nas
costas...
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