quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Depois da tempestade vem a cobrança

O Rio de Janeiro virou um mar em abril. Como se não bastasse o mar de lama que é a política na capital do País, o mar de lama, depois da tempestade que inundou o Rio, pegou a grande maioria da população de surpresa. Não tinha para onde correr. Água de morro abaixo não tem como represar. O Rio de Janeiro deitou e acordou debaixo d´água. As torrentes vertiam águas destruidoras que tudo o que encontrava pelo caminho eram arrastados pela força e esparramados pelos quatro cantos da cidade. Árvores eram arrancadas, morros e barrancos desmoronavam, barracos e casas foram destruídos levando com eles as pessoas e os seus sonhos. A cidade maravilhosa perdeu o brilho, ficou marav-ilhada. o Cristo Redentor foi submerso pelas lágrimas dos cariocas, águas se misturam com o pranto. O país da copa do mundo e a cidade das Olimpíadas não são capazes de suprir seus habitantes com moradias decentes frente a uma pequena tempestade, temo que também, como já estão demonstrando, que não sejam capazes de realizar tamanho evento a altura dos padrões internacionais exigidos. Se possível, evitem-nos mais essa vergonha mundial.
A ocupação irregular do solo tem facilitado o desmoronamento dos morros cariocas. A falta de moradia tem arrastado as pessoas a ocuparem áreas impróprias e indignas para habitação. Por essa razão, a natureza tem cobrado um alto preço por essa usurpação. A urbanização inacabada nos morros e favelas, também favoreceu o desmoronamento. A opinião de urbanistas, engenheiros e arquitetos provam o descaso com que é tratado o povo menos favorecido. As lágrimas do desespero de saber que seus entes queridos foram engolidos pela terra, se confundem com as lágrimas de quem, como por um milagre, escapou da mesa tragédia. O choro das inocentes crianças ecoam aos ouvidos dos adultos, alguns, nem lágrimas conseguem verter. Os planos para o futuro foram enterrados em alguns metros de terra no presente. Ainda tenho muita vida pela frente, foi o relato de uma garota de oito anos que sobreviveu com algumas escoriações, mas que perdeu alguns entes queridos.
É hora de juntar o pouco que restou de uma vida e partir levando nas mãos tudo o que sobrou de um sonho. A esperança de encontrar alguém vivo sob os escombros é substituída pela angústia do encontro com as pessoas soterradas e mortas. Erros dos irresponsáveis a terra cobre. Depois da tempestade, vem a cobrança. Alguns se isentam de suas responsabilidades, outros cobram essa responsabilidade dos outros, e assim, o jogo do emprurra-empurra só tem perdedores: o povo. As autoridades culpam o povo pela ocupação desordenada e o povo culpa as autoridades que permitiram tal ocupação. De quem é a culpa? O governo municipal joga a culpa para o estadual e o estadual para o federal e assim o tempo passa até nova tempestade chegar. É preciso milhões de reais para reconstruir o que fora arruinado. É a oportunidade de se usurpar do nosso erário. Não se sabe se esse dinheiro chega ao destinatário final que realmente precisa. A tragédia anunciada, poderia ser evitada. O Rio de Janeiro foi dividido pelas águas, a mesma que une os cariocas nesse momento.
Em meio aos escombros, diante da dor e do sofrimento, do caos e mesmo diante da tristeza, o carioca descobre a solidariedade, virtude intrínseca do ser humano que pode ser expressada em momentos como esse. O amor ao próximo é manifestados através de gestos e atitudes tão simples que amenizam um pouco o sofrimento dos que choram. Pobres e ricos estão submergindo nas águas, pois, existem duas cidades distintas dentro do Rio de Janeiro, uma que ocupa os morros e outra que ocupa o asfalto e ambas estão sofrendo as mesmas e sérias consequências do descaso público. Não há acepção de pessoas. Vidas estão sendo ceifadas. As mortes nesses casos, poderiam ser evitadas dizem os especialistas, as pessoas foram incentivadas a subirem o morro pois as autoridades puseram o minímo de infra estrutura e agora a polícia vai retirar a força aqueles que insistirem em permanecer no local. A força do amor e da solidariedade precisavam ser mais fortes do que a força policial. Essa dor precisa ser respeitada, ao menos por enquanto.

Enquanto o Rio de Janeiro conta, chora e enterra seus mortos, suas autoridades políticas contam e aguardam o dinheiro para reconstruir a cidade. Esperamos que a ganância não ultrapasse seus limites. Que o dinheiro realmente seja para a reconstrução da cidade e para ajudar o povo a  levantar o  moral. Que mesmo em face do caos metereológico que se instalou no Rio de Janeiro, o sol da justiça possa brilhar novamente mantendo sempre essa cidade maravilhosa. E que depois dessa tempestade venha a bonança...

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