quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Cidadão vira-latas

Todos os dias um de maio, dia internacional do trabalhador, ou simplesmente dia do trabalho, não importa. Milhares de trabalhadores se acotovelam para comemorarem a data. São atraídos pelos apelos irresistíveis de um marketing bem elaborado pelos sindicatos e centrais únicas de trabalhadores. E em busca do sonho de uma casa própria, do carro e de outros bens, coisas que durante toda a vida de trabalho jamais conseguiram, partem para quem sabe Deus, sejam sorteados por obra do Divino e uma vez contemplados com um desses sonhos viver feliz. Essa é uma data para se comemorar. Mas o que vemos ano após ano, são protestos de inconformismo e descontentamento com o regime trabalhista. Em todas as cidades do País ouvimos o brado forte de um povo fraco, manipulado pelas lideranças, que por cultura, legislam em causa própria. O que se tem para comemorar nessa data? Será que foram para comemorar na data algo conquistado durante o ano que passou? Será que podem comemorar o sonho realizado? ou estavam atraídos pelo quase impossível sonho da casa própria, sonho que cada trabalhador carrega em seu peito, e percebem, que com o salário que ganham, esse sonho nunca se realizará? Então, visto que apartamentos, carros e outros prêmios, eram os motivos que levavam milhares de homens e mulheres a sacrificarem, alguns, suas famílias, para ficarem expostos às intempéries do tempo, do cansaço e da fome, enquanto ouviam os discursos inflamáveis de futuros políticos, exploradores da miséria nacional, que delineiam seus futuros através do suor de cidadãos brasileiros. Outros deixaram o aconchego de seus lares para virem e ouvirem, cantores e pagodeiros que descobriram através de suas músicas (de baixa qualidade), tirando todas as exceções é claro, uma maneira de, a preço de ouro, levar um pouco de alegria ao coração do trabalhador. O que tinham para comemorar os trabalhadores nacionais nesses últimos anos, fico me perguntando, trabalhador como eles! Um aumento de vinte, trinta ou quarenta reais no salário? A abundância de emprego? As promessas? Coitado do povo...que sofre e é feliz. Um povo que se fia nas juras dos seus governantes, sonha de noite e chora durante o dia. Nesse feriado, e em outros dias passados, o que eu tenho visto pelas ruas da cidade, é o cidadão, jovem, adulto ou velho, instruído ou não, classe média ou baixa, chafurdando-se como porcos na lama entre sacos de lixos pelas ruas da cidade a procura de latas de refrigerantes. Homens e mulheres que perderam a esperança na vida, no trabalho, e sem esperança, saem a caça de latinhas de refrigerantes para quem sabe, delas extraírem um aumento na renda familiar. Homens e mulheres que esqueceram seus sonhos, que apenas lutam para defender a sobrevivência, não apenas de si mesmos, mas, infelizmente, na maioria dos casos, de pessoas que assim como eles dependem da sua força. São cidadãos e cidadãs que até pouco tempo levavam o crescimento da Cidade, do Estado e do País em seus ombros, e que agora, por estarem acima de certa idade, pasmem, são rejeitados, jogados às calçadas, disputando espaço entre cães, ratos e mergulhando, não somente o corpo, mas toda a alma, a força e o espírito em busca de latinhas de refrigerantes para conseguirem uma renda extra. Que renda? Que extra? Que absurdo! Até quando veremos cenas como essas? Homens fortes, sadios, honestos, íntegros, mas, que por falha de políticos egoístas, são levados em nível de escória na sociedade? Até quando?

Por falar em políticos, onde está o Vicente, o Antônio, o Jair, o Rogério, etc...esses que até pouco tempo eram quem inflamava a multidão com seus discursos vazios de realidade e cheios de esperanças que os próprios nunca confiaram...ah! esses já trilharam o caminho do sucesso. Chegaram lá (em Brasília, é claro) agora aguardam com ansiedade a chegada do Paulo, do Marinho...Os discursos continuam. Vai um e deixa o modelo para o outro e assim ficamos nós, os pobres mortais, indefesos dando socos no ar. Alguns se aproveitam da classe trabalhadora pois sabem que se não dependerem dessa gente, eles darão murros em ponta de faca e podem, assim como qualquer um de nós, um dia se encontrar na rua, na disputa por uma lixeira, em busca de uma latinha de refrigerante também. Como lamentável e triste vermos essas cenas...ploft...ploft...mais uma latinha vibra o cidadão ao pisar em uma dessas latinhas para amassar...de lixeira em lixeira saem como se estivessem na expectativa de encontrar um tesouro. Em pontos de ônibus, estações do Metrô, os incansáveis caçadores de latinha anda com sacos com o objetivo de enchê-los. São pessoas cujo objetivo é se manter vivo custe o que custar mesmo que para isso viva apenas das latinhas. O sonho está nas latas. Já vi discussão por causa de uma latinha de refrigerante. Não se consegue obter a esperança no emprego, não há emprego. A sociedade está cada vez mais exigente. Pessoas comuns, sem instrução acadêmica suficiente, não consegue atingir a necessidade da sociedade e por isso são marginalizados. Sobra-lhes as latinhas. Ao povo as latinhas, comemoram os políticos. Quantos cidadãos e cidadãs brasileiros ainda veremos amassando suas latinhas estradas afora, e mesmo assim, hoje, comemorando a sociedade alternativa. E até quando veremos nossos políticos se regalando em seus banquetes, fazendas e jatinhos, carros blindados, também comemorando a sociedade alternativa? Enquanto ela existir, o povo sobreviverá, enquanto existir latinhas de refrigerantes, a renda extra, será garantida. Logos mais, esses ilustres cidadãos, caçadores de latinhas, pagarão impostos por esse trabalho. O que comemorar nessa data? Vamos comemorar o crescimento das indústrias de bebidas com suas tecnologias de ponta (muito bom) que substituem a mão de obra humana, principalmente àquela acima dos quarenta. É preciso avançar, claro, devemos, mas vamos especializar e valorizar a mão de obra, o ser humano, não renegá-lo a coadjuvante...o patrimônio de um País, é a sua população...que nos próximos primeiro de maio, dia do trabalhador ou do trabalho, não importa, que possamos ter o que comemorar...mas, sem latinhas...ou cem latinhas????

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