Todos
os dias um de maio, dia internacional do trabalhador, ou simplesmente
dia do trabalho, não importa. Milhares de trabalhadores se
acotovelam para comemorarem a data. São atraídos pelos apelos
irresistíveis de um marketing bem elaborado pelos sindicatos e
centrais únicas de trabalhadores. E em busca do sonho de uma casa
própria, do carro e de outros bens, coisas que durante toda a vida
de trabalho jamais conseguiram, partem para quem sabe Deus, sejam
sorteados por obra do Divino e uma vez contemplados com um desses
sonhos viver feliz. Essa é uma data para se comemorar. Mas o que
vemos ano após ano, são protestos de inconformismo e
descontentamento com o regime trabalhista. Em todas as cidades do
País ouvimos o brado forte de um povo fraco, manipulado pelas
lideranças, que por cultura, legislam em causa própria. O que se
tem para comemorar nessa data? Será que foram para comemorar na data
algo conquistado durante o ano que passou? Será que podem comemorar
o sonho realizado? ou estavam atraídos pelo quase impossível sonho
da casa própria, sonho que cada trabalhador carrega em seu peito, e
percebem, que com o salário que ganham, esse sonho nunca se
realizará? Então, visto que apartamentos, carros e outros prêmios,
eram os motivos que levavam milhares de homens e mulheres a
sacrificarem, alguns, suas famílias, para ficarem expostos às
intempéries do tempo, do cansaço e da fome, enquanto ouviam os
discursos inflamáveis de futuros políticos, exploradores da miséria
nacional, que delineiam seus futuros através do suor de cidadãos
brasileiros. Outros deixaram o aconchego de seus lares para virem e
ouvirem, cantores e pagodeiros que descobriram através de suas
músicas (de baixa qualidade), tirando todas as exceções é claro,
uma maneira de, a preço de ouro, levar um pouco de alegria ao
coração do trabalhador. O que tinham para comemorar os
trabalhadores nacionais nesses últimos anos, fico me perguntando,
trabalhador como eles! Um aumento de vinte, trinta ou quarenta reais
no salário? A abundância de emprego? As promessas? Coitado do
povo...que sofre e é feliz. Um povo que se fia nas juras dos seus
governantes, sonha de noite e chora durante o dia. Nesse feriado, e
em outros dias passados, o que eu tenho visto pelas ruas da cidade, é
o cidadão, jovem, adulto ou velho, instruído ou não, classe média
ou baixa, chafurdando-se como porcos na lama entre sacos de lixos
pelas ruas da cidade a procura de latas de refrigerantes. Homens e
mulheres que perderam a esperança na vida, no trabalho, e sem
esperança, saem a caça de latinhas de refrigerantes para quem sabe,
delas extraírem um aumento na renda familiar. Homens e mulheres que
esqueceram seus sonhos, que apenas lutam para defender a
sobrevivência, não apenas de si mesmos, mas, infelizmente, na
maioria dos casos, de pessoas que assim como eles dependem da sua
força. São cidadãos e cidadãs que até pouco tempo levavam o
crescimento da Cidade, do Estado e do País em seus ombros, e que
agora, por estarem acima de certa idade, pasmem, são rejeitados,
jogados às calçadas, disputando espaço entre cães, ratos e
mergulhando, não somente o corpo, mas toda a alma, a força e o
espírito em busca de latinhas de refrigerantes para conseguirem uma
renda extra. Que renda? Que extra? Que absurdo! Até quando veremos
cenas como essas? Homens fortes, sadios, honestos, íntegros, mas,
que por falha de políticos egoístas, são levados em nível de
escória na sociedade? Até quando?
Por
falar em políticos, onde está o Vicente, o Antônio, o Jair, o
Rogério, etc...esses que até pouco tempo eram quem inflamava a
multidão com seus discursos vazios de realidade e cheios de
esperanças que os próprios nunca confiaram...ah! esses já
trilharam o caminho do sucesso. Chegaram lá (em Brasília, é claro)
agora aguardam com ansiedade a chegada do Paulo, do Marinho...Os
discursos continuam. Vai um e deixa o modelo para o outro e assim
ficamos nós, os pobres mortais, indefesos dando socos no ar. Alguns
se aproveitam da classe trabalhadora pois sabem que se não
dependerem dessa gente, eles darão murros em ponta de faca e podem,
assim como qualquer um de nós, um dia se encontrar na rua, na
disputa por uma lixeira, em busca de uma latinha de refrigerante
também. Como lamentável e triste vermos essas
cenas...ploft...ploft...mais uma latinha vibra o cidadão ao pisar em
uma dessas latinhas para amassar...de lixeira em lixeira saem como se
estivessem na expectativa de encontrar um tesouro. Em pontos de
ônibus, estações do Metrô, os incansáveis caçadores de latinha
anda com sacos com o objetivo de enchê-los. São pessoas cujo
objetivo é se manter vivo custe o que custar mesmo que para isso
viva apenas das latinhas. O sonho está nas latas. Já vi discussão
por causa de uma latinha de refrigerante. Não se consegue obter a
esperança no emprego, não há emprego. A sociedade está cada vez
mais exigente. Pessoas comuns, sem instrução acadêmica suficiente,
não consegue atingir a necessidade da sociedade e por isso são
marginalizados. Sobra-lhes as latinhas. Ao povo as latinhas,
comemoram os políticos. Quantos cidadãos e cidadãs brasileiros
ainda veremos amassando suas latinhas estradas afora, e mesmo assim,
hoje, comemorando a sociedade alternativa. E até quando veremos
nossos políticos se regalando em seus banquetes, fazendas e
jatinhos, carros blindados, também comemorando a sociedade
alternativa? Enquanto ela existir, o povo sobreviverá, enquanto
existir latinhas de refrigerantes, a renda extra, será garantida.
Logos mais, esses ilustres cidadãos, caçadores de latinhas, pagarão
impostos por esse trabalho. O que comemorar nessa data? Vamos
comemorar o crescimento das indústrias de bebidas com suas
tecnologias de ponta (muito bom) que substituem a mão de obra
humana, principalmente àquela acima dos quarenta. É preciso
avançar, claro, devemos, mas vamos especializar e valorizar a mão
de obra, o ser humano, não renegá-lo a coadjuvante...o patrimônio
de um País, é a sua população...que nos próximos primeiro de
maio, dia do trabalhador ou do trabalho, não importa, que possamos
ter o que comemorar...mas, sem latinhas...ou cem latinhas????
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